Logo Folha de Pernambuco

REUNIÃO

"Golpe não vai ter": veja como foi a reunião de Lula com governadores em Brasília

Encontro aconteceu no Palácio do Planalto. Governador do Pará diz que democracia une todo o grupo. Tarcísio defende democracia e diálogo, e Celina Leão defende Ibaneis

Lula desce a rampa do Planalto de braços dados com governadores e ministros do STFLula desce a rampa do Planalto de braços dados com governadores e ministros do STF - Foto: Mauro Pimentel / AFP

Em reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto, governadores e representantes dos 27 estados do país prestaram solidariedade e ofereceram apoio ao governo federal após ataques terroristas às sedes dos Poderes no domingo.

Após a reunião, o grupo, que incluía o presidente dos demais poderes, desceu a rampa do Palácio do Planalto e foi a pé, pela Praça dos Três Poderes, até a sede do Supremo Tribunal Federal (STF).

"Eles querem é golpe e golpe não vai ter. Eles têm que aprender que a democracia é a coisa mais complicada para a gente fazer, porque exige gente suportar os outros, exige conviver com quem a gente não gosta, com quem a gente não se dá bem, mas é o único regime que permite que todos têm a chance de disputar e quem ganhar tem o direito de governar", disse Lula sobre os ataques de domingo



Representantes de todos os 27 estados e do Distrito Federal estiveram presentes — os governadores que se ausentaram ou estavam no exterior ou haviam passado por procedimentos cirúrgicos. Entre os governadores alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro estão Tarcísio de Freitas (Republicanos- SP), Cláudio Castro (PL-RJ), Jorginho Mello (PL-SC). Também está Celina Leão (PP), que assumiu o Distrito Federal após o afastamento de Ibaneis Rocha. A única ausência no começo da reunião era de Ratinho Jr (PSD-PR), cujo voo atrasou, mas ele estava em trânsito e se somaria ao grupo, segundo o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB).

O primeiro a falar no encontro foi Helder Barbalho, do Pará, que ressaltou o fato de a reunião se tratar de um "ato de desagravo" após terroristas destruírem prédios dos três Poderes em Brasília.

"O que nós vimos ontem foi uma tentativa de golpe de Estado", afirmou. "Estamos aqui porque todos têm uma causa inegociável que nos une: a democracia. Estamos aqui não para defender ideias de direita ou esquerda, mas para defender a democracia do nosso país. e defender as instituições. É fato que o ocorrido no dia de ontem, de gravidade extrema, aquilo não foi manifestação política, foi terrorismo. Ato de tentativa de golpe de Estado", completou.

A presidente do STF, ministra Rosa Weber, afirmou que a reunião é importante para mostrar unidade do país contra os atos golpistas, e convidou a todos os governadores a irem ao prédio do Supremo após a reunião para ver a destruição.

"Estou aqui em nome do STF agradecendo iniciativa dos governadores para testemunharem a unidade nacional de um Brasil que todos nós queremos, no sentido da defesa da democracia e do estado democrático de direito. O STF foi duramente atacado, o nosso prédio histórico, seu interior, foi praticamente destruído, em especial nosso plenário e essa simbologia a mim entristeceu de uma maneira enorme, mas quero assegurar a todos que vamos reconstruído e no dia 1º de fevereiro daremos início ao ano judiciário como se impõe ao poder judiciário e guardião da Constituição Federal", disse.

Depois foi definido que um governador de cada região iria falar. Pelo sul falou Eduardo Leite (PSDB), governador do Rio Grande do Sul, que defendeu que todos os estados enviem policiais para a Força Nacional e que criem gabinetes de crise.

"Além de estados estarem disponibilizando efetivo policial para apoiar na medida de contenção de outros atos de violência e garantia da ordem no DF, estamos atuando de forma sinérgica e em sintonia para manutenção da ordem em todos estados e deixar registrado que no Rio Grande do Sul, temos um gabinete de crise, reunindo todas as forças de segurança e órgãos de controle, para atuarmos de forma coordenada para identificar todos que atuam em atos que agridem não só a instituições, mas para abrirem inquérito para identificar quem financia e dar devida consequência para quem atenta contra a democracia", falou o gaúcho.

Na sequência, foi a vez da fala de Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo. Eleito na esteira do Bolsonarismo, ele defendeu união e a defesa da democracia. 

"Era muito importante estar presente (na reunião com Lula) no dia de hoje neste ato de solidariedade aos poderes constituídos, ato de solidariedade ao Supremo Tribunal Federal, solidariedade ao Congresso Nacional, a Câmara de Deputados, ao Senado Federal, solidariedade no final das contas à nossa democracia", afirmou o governador de São Paulo. "Essa reunião de hoje significa que a democracia brasileira, depois dos episódios de ontem vai se tornar ainda mais forte", completou.

Representando o Nordeste, a governadora Fátima Bezerra (PT-RN) defendeu a democracia. "Foi muito doloroso para todos nós. Para nós que amamos a democracia, que sabemos o quanto custou conquistá-la. A violência atingindo o coração da república na hora em que atentou contra as mais importantes instituições do estado democrático de direito. Diante de um episódio tão grave não poderia ser outra a atitude dos governadores do Brasil de estarem aqui hoje: para dizer que estamos firmes, em harmonia e em sintonia com os demais poderes na defesa da democracia", afirmou a governadora.

A governadora em exercício do Distrito Federal, Celina Leão (PP), apoiadora de Jair Bolsonaro, condenou os atos de terrorismo que ocorreram em Brasília, mas defendeu a atuação do governador afastado, Ibaneis Rocha (MDB).

"É um dia de luto na história da democracia para todos nós. Para nós no Distrito Federal muito mais grave, porque a responsabilidade recai sobre nossos ombros. É importante na minha fala de hoje, até para nivelar as informações do que aconteceu, primeiro reafirmar que o governador eleito do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, é um democrata. Por infelicidade, recebeu várias informações equivocadas durante o momento da crise", disse ela.

Ela também fez questão de se referir ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e à ministra Rosa Weber, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), como “nossos” presidentes. "o governo do Distrito Federal não vai tolerar, na capital federal, atos de vandalismo ou de terrorismo como os que vimos ontem", acrescentou ela.

Edvaldo Nogueira, presidente da Frente Nacional dos Prefeitos, prefeito de Aracaju, também afirmou que a resposta aos atos terroristas mandam mensagens a todo o país:

"Estamos vivendo momento importante de reafirmação da democracia mas precisamos tirar lições importantes desse episódio. Estamos aqui para falar bem alto ao povo brasileiro que não vamos aceitar ataques e o fim da democracia, que é o que nos une. Não podemos deixar que a democracia acabe por qualquer motivo", disse Nogueira.

Augusto Aras, procurador-geral da República, afirmou que sempre defendeu a democracia. Em uma espécie de resposta aos críticos que afirmam que ele foi leniente com Bolsonaro, que o indicou ao cargo, ele fez uma curta fala lembrando sua atuação no fim de semana:

"No último sábado, por volta de meia noite, falava eu com a doutora Lindora, que se manifestava pela prisão de uma das líderes do movimento que veio a eclodir no domingo. E o ministro Alexandre mandou prender essa liderança que atuava nas redes sociais. Nesses últimos dois anos não falou Ministério Público, não faltou STF. Isso é necessário dizer a nação e a todos os presentes. Não falou MP e Judiciário na busca desse controle",disse Aras. "A nossa luta perdura. São 1,5 mil pessoas (presas), tive o cuidado de acrescentar quase uma centena de procuradores da república de todo Brasil para as audiências de custódia realizadas centenas ainda hoje aqui no DF", destacou. 

Veja também

PGR deve denunciar Bolsonaro no início de 2025; STF pode julgar ação no 1º semestre de 2025
EX-PRESIDENTE

PGR deve denunciar Bolsonaro no início de 2025; STF pode julgar ação no 1º semestre de 2025

PF deve concluir inquérito sobre "Abin paralela" até o fim do ano
BRASIL

PF deve concluir inquérito sobre "Abin paralela" até o fim do ano

Newsletter