Barroso diz que STF enfrentou ''adversários da democracia'' durante governo Bolsonaro
Durante encontro em São Paulo, presidente da corte analisou cenário global da extrema-direita e defendeu a atuação do STF durante a gestão anterior
O presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, participou nesta segunda-feira (22) de um encontro na sede da Fiesp, na Avenida Paulista, São Paulo, em que condenou atos do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, defendeu o colega Alexandre de Moraes e disse que a corte enfrentou “adversários da democracia” durante o governo anterior.
Durante a reunião, Barroso, que estava sentado ao lado do ex-presidente Michel Temer, fez uma defesa do papel do STF e expôs preocupações sobre o avanço da extrema-direita no cenário global e a “recessão democrática que vive o mundo em geral”.
— O que temos assistido é (a ascensão) de um populismo de direita, frequentemente racista, xenófobo, misógino e anti ambientalista. Houve uma captura do pensamento conservador pela extrema-direita — disse Barroso.
O ministro tocou em outro tema sensível durante a reunião: a regulação das redes sociais em um momento de tensões entre o STF, o empresário Elon Musk, dono do X, o antigo Twitter, e parlamentares da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos.
Leia também
• Romário vaiado, revolta dos "sem pulseira" e discursos vetados: bastidores do ato bolsonarista no RJ
• Planalto espera para esta semana reuniões de Lula com Lira e Pacheco
• STF confirma decisão de Nunes Marques e nega pedido para libertar presos do 8 de janeiro
— A liberdade de expressão é essencial para a democracia. Mas, com o avanço das redes sociais, surgiu um modelo de negócios baseado no engajamento e no ódio. A mentira e o radicalismo conquistam muito mais engajamento do que a fala moderada, a busca pela verdade. Existe um modelo de negócios que se beneficia do ódio e da desinformação e se esconde atrás da liberdade de expressão. O mundo vive essa encruzilhada. Nós precisamos equacionar isso — afirmou o presidente do STF.
Na sequência, defendeu o papel que a corte desempenhou durante o governo Bolsonaro, apesar de não ter citado nominalmente o ex-presidente. Durante a gestão anterior, segundo Barroso, houve desmonte dos órgãos de proteção ambiental e “negacionismo pleno e absurdo” durante a pandemia que “obrigou o Supremo a tomar ações proeminentes”.
— Havia a ideia de que proteção ambiental é coisa de esquerdista, de comunista. A verdade é que o governo anterior tinha o Supremo como seu principal inimigo e o ex-presidente teve 49% de votos. Existe uma parte grande da população que acha que o Supremo é o grande problema brasileiro. — disse o ministro.
Outro tema do discurso foi a defesa do voto impresso.
— Imagine um mundo em que as pessoas foram capazes de invadir o STF, o Palácio do Planalto e o Congresso, o que não fariam nas seções eleitorais em que achassem que fossem perder? — perguntou.
Depois de elencar outros tópicos relacionados ao governo anterior, como a “politização das Forças Armadas” e o uso da “agência de inteligência para espionar adversários políticos”, Barroso discursou sobre as investigações de uma suposta tentativa de articulação para um golpe de estado na gestão anterior.
—As investigações sugerem que ouve uma articulação de golpe. Isso está sendo apurado. Mas nós enfrentamos uma situação de risco de golpe. Apesar de tudo, as instituições venceram [...]. É preciso entender a situação que o Supremo viveu e os adversários da democracia que precisou enfrentar. São injustas as críticas ao ministro Alexandre de Moraes, que corajosamente ajudou a enfrentar esse estado das coisas. Nós não vivemos momentos fáceis, com custo pessoal elevado. Imagina a chateação que é ter que andar com cinco seguranças, como eu tenho que andar — disse o ministro, que finalizou pedindo reconciliação. — Precisamos reaglutinar a sociedade brasileira e recuperar a civilidade — disse Barroso.