Base de Lula, PDT e PSB se aliam para manter redutos em 2024 e abrem frentes contra o PT
Em 2022, siglas reduziram suas presenças na Câmara, enquanto o número de petistas subiu
Embora tenham ministérios e componham a base do governo, PDT e PSB buscam resguardar seus principais redutos nas eleições municipais de 2024 e negociam alianças pontuais, inclusive contra o PT, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Olhando para o ano que vem, as siglas avaliam reeditar acordos travados em 2020, quando rivalizaram com petistas pelo protagonismo da esquerda em capitais e cidades com segundo turno.
Lideranças pedetistas e pessebistas, embora frisem que o PT é um aliado, articulam para não virarem coadjuvantes. Um alerta veio na eleição de 2022, ocasião em que os dois partidos reduziram suas presenças na Câmara, enquanto o número de petistas subiu.
Por conta disso, PDT e PSB iniciaram conversas para formar uma federação, mas preferiram aguardar as eleições de 2024 e, depois, fazer novo balanço. Também há preocupação de não melindrar o PT, sobretudo por parte do PSB, que conta com o apoio de petistas a seus candidatos em São Luís e Curitiba.
Presidente licenciado do PDT, mas que ainda dá as cartas na sigla, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, costura o apoio do PSB à reeleição do prefeito de Fortaleza, Sarto Nogueira (PDT), numa disputa que tende ao acirramento entre aliados de Ciro Gomes e de Lula. Ciro prevaleceu em uma queda de braço partidária com o próprio irmão, o senador Cid Gomes, agora de saída do PDT. O ex-governador quer que a legenda tenha no Ceará, seu reduto, o mesmo tom de oposição ao PT de sua campanha ao Planalto em 2022, postura da qual Cid discorda.
Em acordo com Lupi, o presidente do PSB, Carlos Siqueira, tem sinalizado apoio ao prefeito de Fortaleza, embora o diretório pessebista no Ceará seja ligado ao ex-governador e atual ministro da Educação, Camilo Santana (PT). Siqueira declinou a filiação do presidente da Assembleia Legislativa local, Evandro Leitão, que deixou o PDT e articulava com Camilo ingressar no PT ou no PSB para enfrentar Sarto.
"Em 2020, fizemos a parceria com o PDT nas capitais, até porque o PT rompeu conosco naquele ano. Hoje, eles (PT) estão com outra política. Vamos ver as prioridades de cada um", afirma Siqueira.
Recife é "joia da coroa"
Lupi também articula para manter o PDT na chapa do prefeito do Recife, João Campos (PSB). Ele tem a pedetista Isabella de Roldão como vice e tenta se esquivar da pressão do PT pela vaga. A capital pernambucana é tida como “joia da coroa” pelo PSB, e a avaliação é que deixar o PT na linha de sucessão pode afetar o desejo de Campos de disputar o governo estadual em 2026.
Em 2020, PDT e PSB elegeram, respectivamente, 314 e 252 prefeitos pelo país, contra 183 do PT. Hoje, o PDT tem dois prefeitos em capitais, Fortaleza e Aracaju, e dois em cidades aptas a segundo turno, Niterói (RJ) e Serra (ES). Neste rol, o PSB governa apenas o Recife. O PT, que não gere capitais, comanda quatro cidades com segundo turno: Juiz de Fora e Contagem, em MG, e Diadema e Mauá, em SP.
No Espírito Santo, o governador Renato Casagrande (PSB) deu aval à reeleição do prefeito de Serra, Sérgio Vidigal (PDT), e mira o apoio do PDT para seu candidato à prefeitura de Vitória, Tyago Hoffmann (PSB). A articulação vai na contramão do PT, que lançou o ex-prefeito João Coser na capital capixaba contando com o apoio de Casagrande.
Ainda há tratativas em Porto Alegre, onde Juliana Brizola (PDT) pode ser candidata. Lá, integrantes de PDT e PSB cogitam se unir a PT e PSOL, mas veem entraves a uma frente de esquerda. Embora todos convirjam na oposição ao prefeito Sebastião Melo (MDB), PDT e PSB são base do governador Eduardo Leite (PSDB), o que irrita petistas e psolistas. Há desconfiança mútua sobre a divisão de espaços na chapa.
"Historicamente, há dificuldades para unir a esquerda. Enquanto algumas candidaturas levam à polarização e à pauta de costumes, avaliamos que é preciso sacrifícios para derrotar o prefeito, aliado do bolsonarismo", diz Juliana.
Em outras capitais as divergências devem gestar caminhos distintos. Em São Paulo, Tabata Amaral (PSB) acenou ao PDT, que guarda ressentimentos dela desde o voto pela reforma da Previdência, em 2019, e preferiu o diálogo com Guilherme Boulos (PSOL). Com o impasse, o apresentador José Luiz Datena, que negocia a vice de Tabata, deixou o PDT e pode ir para o PSB.