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Desafios das Cidades

Berço de Caruaru, feira é impulso para o futuro

Dando continuidade à série de reportagens da Folha de Pernambuco que mostra os maiores desafios das principais cidades do Estado, Caruaru é o primeiro município do Interior a integrar o conjunto de matérias especiais

Acompanhando o desenvolvimento da cidade para os próximos anos, os principais desafios da feira livre passam por infraestrutura, segurança e mobilidadeAcompanhando o desenvolvimento da cidade para os próximos anos, os principais desafios da feira livre passam por infraestrutura, segurança e mobilidade - Foto: JORGE FARIAS/PREFEITURA DE CARUARU

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"A feira de Caruaru faz gosto a gente ver. De tudo que há no mundo nela tem pra vender", escreveu o poeta e compositor caruaruense Onildo Almeida, na década de 1950. A canção, imortalizada em 1957 na voz do Rei do Baião, Luiz Gonzaga, e gravada também por tantos outros artistas, é a definição perfeita do modelo de negócio mais antigo do município, localizado no Agreste pernambucano.

Dando continuidade à série de reportagens da Folha de Pernambuco que mostra os maiores desafios das principais cidades do Estado, Caruaru é o primeiro município do Interior a integrar o conjunto de matérias especiais.

Sendo a sexta maior economia do Estado, a capital do Agreste conta com uma população de 378.048 e um PIB (Produto Interno Bruto) per capta de aproximadamente R$ 23.456,58, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A cidade também é estratégica na perspectiva política, com seus 243.702 eleitores, de acordo com o Tribunal Regional Eleitoral (TRE).

Os que pretendem disputar a prefeitura nas próximas eleições, em outubro, terão que discutir e entender a dinâmica, as demandas e os desafios atuais e futuros da feira livre da cidade, principal mola propulsora da economia local.

Considerada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), desde 2006, como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro, a feira de Caruaru movimenta toda a economia da região. Além dos vendedores, que tiram suas rendas dos inúmeros produtos disponibilizados, também lucram a rede hoteleira, os postos de gasolina, os bares, restaurantes e pequenos comércios locais. Isso porque a feira atrai turistas e compradores de todos os lugares do Brasil e do Estado.

Nos dias da sulanca (confecções populares), por exemplo, é comum perceber um grande volume de ônibus que vêm de cidades vizinhas e ficam estacionados nos arredores. Quem chega para comprar roupas também acaba fazendo um lanche, abastecendo veículos, pernoitando para conhecer melhor a cidade ou a própria feira.

Desafios

Mas, como todo grande negócio, a feira também tem problemas que desafiam poder público e trabalhadores. Infraestrutura, segurança e mobilidade estão entre os mais elencados por quem vivencia a realidade da feira, que abriga diversos segmentos. De acordo com a Prefeitura de Caruaru, a chamada 'grande feira', localizada no Parque 18 de Maio, na área central da cidade, é composta por várias outras, sendo elas a feira do Paraguai ou de importados; da sulanca; de gado; de frutas e verduras; de raízes e ervas medicinais; do troca-troca; de flores e plantas ornamentais; de couro (calçados, chapéus, bolsas); de confecções populares; de bolos e seção de goma e doces; de ferragens; artigos de cama, mesa e banho; fumo; e a mais cultural, a do artesanato, que atrai milhares de pessoas todos os anos para conhecer a diversidade dos trabalhos dos artesãos caruaruenses.

O historiador José Urbano conhece bem essa realidade e o cotidiano da feira, já que é filho de feirantes e cresceu acompanhando a rotina dos pais. Segundo ele, somente a feira da sulanca, realizada na madrugada da quinta-feira, tem, hoje, aproximadamente 12 mil bancos. Para o especialista, na grande feira há três desafios principais.

"Existe a necessidade de readequação de alguns pontos inutilizados e que preocupam não apenas no sentido estético, mas na questão da segurança. São locais que acabaram se tornando obscuros e estão propícios à marginalidade. É preciso dar vida e dinamizar esses espaços. O segundo desafio é a própria segurança do entorno. Existem ações permanentes da Polícia Militar e da Guarda Civil, mas é preciso reforçar, porque é grande a circulação de dinheiro", pontuou Urbano.

De acordo com o historiador, a estimativa é de que somente a sulanca movimente R$ 80 milhões de reais em um período de 24 horas, boa parte em espécie. O terceiro problema a ser enfrentado, ainda segundo José Urbano, é o trânsito. "Quando a gente soma todas as feiras do Parque 18 de Maio temos aproximadamente 30 mil barracas. O trânsito é algo muito difícil. A mobilidade é extremamente complexa nos arredores, porque Caruaru se desenvolveu a partir de uma fazenda e o centro da cidade não foi projetado para ter o volume de tráfego gerado nos dias atuais e durante as feiras", explicou.

Associações

Presidente da Associação dos Sulanqueiros, Pedro Moura diz que há dez mil feirantes na sulanca e 10% são associados à entidade. O público varia de acordo com a época. Geralmente, entre 25 a 30 mil pessoas circulam na sulanca por semana. "Em junho aumenta para 60 mil e dezembro passa para 90 mil", relatou.

Segundo ele, as maiores demandas dos trabalhadores estão relacionadas à infraestrutura. "Estamos carentes de estacionamento, precisando também que a feira seja mais divulgada, que melhore a iluminação, a limpeza", observou. De acordo com Pedro Moura, outra questão é a mobilidade no interior da feira. "Tem muitos ambulantes que precisam sair para restabelecer a mobilidade", frisou.

a presidente da Associação dos Artesãos e Comerciantes da Feira de Artesanato, Socorro Silva, defende que o estacionamento de ônibus para turistas, localizado a 300 metros do espaço, seja gratuito. "O turista vem de fora para gastar na nossa feira. Na minha opinião, ele não deveria pagar estacionamento", explicou.

Feirantes

Sônia Maria tem 56 anos e há 27 trabalha na feira. Ela vende tapetes, redes, mantas, conjuntos para cozinha e pratos, passadeiras, entre outros produtos. Para ela, a demanda maior é divulgação. "Depois que houve a Covid, caiu muito o movimento, infelizmente. Mas está voltando, só que ainda não chegou a 40% do que a gente vendia. Então, acho que deveria ser mais divulgada, porque é uma feira que atrai turistas de todo o mundo, não só do Brasil", destacou.

Para Lígia Alves, 42, que vende artesanato, palha, barro, madeira, entre outros artigos, na feira de artesanato, é preciso melhorar a segurança na área. "A Associação coloca seguranças, mas são poucos e sempre acontece ocorrências de roubo, de pessoas que saem correndo. Como a feira é muito grande, ao ar livre, eles não têm como controlar tanta coisa", observou.

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