Biden e Lula se reúnem para falar sobre democracia e meio ambiente
Lula prometeu acabar com o desmatamento na Amazônia até 2030, depois do pobre desempenho do Brasil nesta área durante o governo Bolsonaro
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, se reúne nesta sexta-feira (10) com seu contraparte brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, para falar sobre democracia e meio ambiente, tendo como pano de fundo a sombra do ex-presidente Jair Bolsonaro.
"Espero uma relação muito produtiva", tuitou Lula sobre o encontro, previsto para as 15H30 locais (17H30 de Brasília), praticamente um mês após o ataque de milhares de bolsonaristas às sedes da Presidência, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal em Brasília.
Os atos recordaram o ataque ao Capitólio de simpatizantes do ex-presidente republicano Donald Trump, em janeiro de 2021, para tentar impedir a certificação da vitória de Biden nas urnas.
Bolsonaro viajou para os Estados Unidos às vésperas da posse de Lula e está na Flórida, onde iniciou os trâmites para solicitar um novo visto que permitiria sua permanência no país por vários meses, enquanto a Justiça brasileira investiga se ele incentivou ou não os ataques de 8 de janeiro.
"Ele fugiu do Brasil, em um avião presidencial, três dias antes e veio se esconder aqui na casa de um amigo dele. De qualquer jeito, algum dia ele vai ter que voltar ao Brasil e enfrentar os processos", declarou Lula em entrevista à CNN, na qual garantiu que "Bolsonaro não tem chances de voltar à Presidência".
A Casa Branca não recebeu nenhum pedido a esse respeito por parte do governo brasileiro e o tema não está na agenda, afirmou uma fonte do governo americano.
"Ambos querem intensificar o compromisso compartilhado de promover, reforçar e aprofundar a democracia", acrescentou a fonte.
Bolsonaro teve uma relação próxima com Trump e fria com Biden, de forma que o democrata quer aproveitar a mudança de governo no Brasil para estreitar laços entre as duas grandes economias das Américas, a começar pelo meio ambiente.
Leia também
• Lula diz que trabalhará pela paz no conflito entre Rússia e Ucrânia
• Movimento negro pede a Lula e Biden volta de projeto antirracista
• Assessor de Bolsonaro aciona STF após perder vaga em Comissão de Ética por ordem de Lula
- Freio ao desmatamento -
Funcionários do governo americano anteciparam que a crise climática será "uma prioridade absoluta" no encontro no Salão Oval, mas sem revelar se Washington contribuirá para o Fundo Amazônia, um mecanismo financeiro multilateral criado em 2008 e administrado pelo Brasil para combater o desmatamento.
Lula prometeu acabar com o desmatamento na Amazônia até 2030, depois do pobre desempenho do Brasil nesta área durante o governo Bolsonaro. Em janeiro passado, já com Lula na Presidência, o desmatamento caiu 61% em relação ao mesmo período de 2022, segundo dados oficiais publicados nesta sexta-feira.
Aproveitando a ocasião, grupos indígenas, ecologistas e da sociedade civil publicaram uma carta aberta dirigida a Lula e Biden na qual insistem em que a proteção da Amazônia e o combate às mudanças climáticas "só é possível com direitos humanos e combatendo o racismo ambiental".
"As crises ambientais e as ameaças de golpe de Estado caminham de mãos dadas" no Brasil, pois "as mesmas forças e atores que financiaram atos terroristas (...) também são responsáveis pelo desmatamento, pela invasão de territórios indígenas e pelo garimpo ilegal", escreveram no texto, referindo-se aos ataques de 8 de janeiro e à política de Bolsonaro.
- Guerra na Ucrânia -
Mas a boa sintonia entre Biden e Lula se dilui quando o tema é a guerra na Ucrânia.
Biden lidera as iniciativas ocidentais para apoiar Kiev, convencido de que é necessário fornecer ajuda diplomática, armas e treinamento militar para que a Ucrânia lute contra a Rússia, que invadiu seu território.
Mas o Brasil, ao lado de outros países emergentes como Índia e África do Sul, e alguns latino-americanos como Argentina, Colômbia ou México, é relutante em enviar armas ao país.
Lula afirma que está "preocupado com a guerra", mas não quer participar no conflito nem sequer indiretamente, e propõe, ao contrário, a criação de um "grupo de países que se sentem à mesa com Ucrânia e Rússia para tentar alcançar a paz".
Ele abordou o tema com o presidente francês, Emmanuel Macron, e com o chefe de Governo alemão, Olaf Scholz e, além de Biden, provavelmente conversará sobre o assunto com o presidente chinês, Xi Jinping, durante uma visita a Pequim, em março.
Na entrevista à CNN, Lula prega o diálogo.
"Precisamos encontrar interlocutores que possam sentar com o presidente Putin e mostrar o equívoco que ele cometeu ao invadir a integridade territorial da Ucrânia, mas também temos que mostrar para a Ucrânia que é preciso aprender a conversar mais. Temos que parar essa guerra", afirmou o presidente.
Um funcionário do governo americano, que pediu anonimato, avaliou que não existem grandes divergências porque Washington "respeita e apoia" as iniciativas de paz de Lula, o que não impedirá que Biden enfatize as "realidades objetivas", por entender que a invasão viola o direito internacional e a Ucrânia tem direito à autodefesa.
- Encontro com Sanders -
O encontro "oferecerá uma oportunidade para dar um novo impulso às relações" bilaterais com base "na defesa das instituições democráticas, na luta contra os discursos de ódio e desinformação, na promoção dos direitos humanos e na luta contra as mudanças climáticas", informou o governo brasileiro na quinta-feira.
Lula também falará de comércio e investimento, acrescentou. Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, com um volume de negócios que alcançou um recorde de 88,7 bilhões de dólares (aproximadamente 465 bilhões de reais) no ano passado.
Antes do encontro com Biden, Lula se reuniu com vários congressistas democratas, incluindo o senador Bernie Sanders, com quem falou de "democracia, movimento sindical e melhores direitos e empregos para (os) trabalhadores", segundo um tuíte do presidente.
Lula também se reúne com representantes da AFL-CIO, a principal confederação sindical dos Estados Unidos, que lhe concedeu um prêmio de direitos humanos quando o ex-líder sindical estava preso.