"Big techs" doutrinam as pessoas por lucro e poder, diz Alexandre de Moraes em aula na USP
Ministro do STF defende regulamentação das redes sociais e é alvo de bolsonaristas e plataformas nos Estados Unidos
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes afirmou nesta segunda-feira (24), em aula magna na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, que as "big techs" têm doutrinado a população com uma "ideologia fascista" como forma de chegar ao poder, aprovar leis e obter ganhos econômicos.
O magistrado, relator do inquérito das "fake news" e dos ataques do 8 de Janeiro, defende a regulamentação dessas mídias e costuma ser acusado de censura por bolsonaristas.
— Tudo para as big techs é dinheiro, é negócio. 'Assim como vendemos carro, vamos vender candidatos'. Só que é um negócio que, dando certo, gera um lucro muito maior. Faz com que se aprovem as leis, mande no país — declarou Moraes. — As big techs não são enviadas de Deus, como alguns querem, e não são neutras. São grupos econômicos que querem dominar a economia e a política mundiais, ignorando fronteiras, a soberania nacional, as legislações, para terem poder e lucro.
Leia também
• Moraes ameaçou família de Cid para pressionar delação? Entenda
• Rumble e empresa de Trump entram com pedido de liminar contra Moraes nos EUA
• Após ordem de Moraes, Anatel informa que operadoras bloquearam acesso ao Rumble no Brasil
Em outro momento, o ministro fez uma crítica velada à rede social X, do empresário Elon Musk, que recentemente ganhou um cargo no governo do presidente americano Donald Trump.
— Você posta uma mensagem a favor da democracia e uma determinada rede, X, Y ou Z, manda para cinco pessoas. Você manda uma xingando alguém, o algoritmo manda para 100 mil pessoas. É igual loteria? Não, os algoritmos são direcionados ideologicamente para doutrinar as pessoas.
Na avaliação de Moraes, os algoritmos das redes sociais priorizam mensagens com discurso de ódio e que descredibilizam "os três pilares da democracia", elencados como sendo a imprensa tradicional, as eleições livres e periódicas e a independência do Judiciário. Ele ponderou, contudo, que as redes sociais não criam a "ideologia nefasta" do fascismo, apenas amplificam o discurso "que antes se brincava que era o do tio do churrasco".
— Esse discurso hoje é de 20% na Alemanha e de muito mais por cento no Brasil — acrescentou ele.
O ministro argumentou ainda que as "raízes do mal" estão na reação da classe média brasileira ao achatamento da qualidade de vida diante de crises econômicas mundiais somadas à concentração de renda, problema que não foi solucionado nem abrandado pelas democracias.
Como exemplo dessa visão, lembrou do comentário de Paulo Guedes, ex-ministro da economia de Jair Bolsonaro, de que "até empregadas domésticas estavam indo para a Disney" ao justificar o dólar alto, em 2020.
Moraes foi recepcionado por estudantes da USP por gritos de "sem anistia", em referência à denúncia apresentada pelo Ministério Público que acusa Bolsonaro de liderar uma tentativa de golpe de estado após perder as eleições para Lula (PT).
Uma faixa contra os "golpistas" também foi estendida no teto do Salão Nobre da faculdade do Largo São Francisco, onde o ministro se formou em 1990 e leciona disciplinas de Direito Constitucional e Direito Eleitoral.
Na semana passada, depois de a Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentar denúncia contra Bolsonaro, a plataforma de vídeos canadense Rumble, popular entre influenciadores de direita, e a Trump Media & Technology entraram com uma ação na Justiça americana contra o bloqueio e a multa diária imposta no Brasil caso não fosse indicado um representante legal no país e derrubado o perfil de Allan dos Santos, alvo do inquérito das "fake news" que atualmente se encontra foragido.
O magistrado já tomou medidas semelhantes contra redes como X, de Musk, e o aplicativo de mensagens russo Telegram pelo descumprimento de decisões judiciais.