Bolsonaristas ironizam ruas esvaziadas; oposição mas diz esperar mais gente nos próximos atos
O esvaziamento das primeiras manifestações contra Jair Bolsonaro após os atos de 7 de Setembro levou apoiadores do presidente a ironizarem os protestos. Já integrantes da oposição, à esquerda e à direita, trocaram acusações.
Ainda assim, de acordo com parlamentares que defendem o impeachment de Jair Bolsonaro, há uma expectativa de que seja possível fazer atos mais inclusivos nas próximas vezes.
Lider do MBL e vereador de São Paulo, Rubinho Nunes (PSL) disse esperar conseguir mobilizar mais pessoas para os próximos atos do movimento, que ainda não têm data.
Sobre as ruas estarem esvaziadas, ele disse que o primeiro ato pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff teve cerca de 5 mil pessoas -menos do que os que estavam neste domingo na avenida Paulista. O partido do ex-presidente Lula não participou das manifestações desta tarde.
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"É muito conveniente para o PT a manutenção do Bolsonaro, porque ele dá o ânimo que falta para Lula ganhar a eleição. [O PT] quer fazer falsa oposição, jogo de cena, para manter o projeto para eleger Lula", disse o líder do MBL.
Estavam previstas manifestações em quinze capitais neste domingo, sendo o foco no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Brasília. Estas últimas duas foram palco de atos a favor do presidente cinco dias antes, com pautas antidemocráticas.
Na ocasião, Bolsonaro chegou a dizer que não respeitaria decisões judiciais e xingou o ministro Alexandre de Moraes, do STF, de "canalha".
Nunes, do MBL, disse que a "Declaração à nação" de Bolsonaro, na qual o presidente recuou das falas golpistas feitas no 7 de Setembro, pode ter esvaziado ainda mais os atos.
Apesar da adesão de alguns partidos e grupos de esquerda, a principal resistência se deu no PT, que guarda mágoas com os dois grupos organizadores pelos protestos em favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e se incomodaram com o mote "nem Bolsonaro nem Lula", depois atenuado, na divulgação dos novos atos.
Para o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), foi um ato restrito, porque o PT não participou. "O grande desafio é, a partir dessa largada, fazer um ato apartidário, que una todos em defesa de democracia, vacina, comida. Isso não é bandeira nem do MBL, nem do PT", disse.
Ramos participou do protesto na avenida Paulista e reconheceu que não foi grande como o esperado, mas disse não ter dúvidas de que os próximos serão maiores. "Nenhum movimento de impeachment começou gigante".
O deputado Júnior Bozzela (PSL-SP), que também esteve na manifestação em São Paulo, ressaltou a representatividade de diferentes partidos –de Orlando Silva (PC do B-SP) a João Amoêdo, do Novo.
Ele atribuiu o esvaziamento à ausência da participação efetiva da esquerda. "As direitas não têm uma condução de militância e organização como as esquerdas têm".
Bozzella disse esperar contar com a presença de petistas nos próximos atos. "O PT não pode ser egoísta nesse instante. Já cometeu seus erros e acertos. Vamos deixar 2022 para discutir lá na frente. O PT tem que ter grandeza de entrar nessa discussão para a preservação do Estado democrático de direito", disse o deputado do PSL.
Sobre a ausência do partido de Lula nas manifestações, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), disse que "ninguém vetou ninguém" e que a recusa do partido do ex-presidente em aderir ao protesto é sintomática.
O senador disse que "alguns se acham os donos da bola", em uma indireta ao ex-presidente. Vieira é tido como um dos nomes que integram a chamada "terceira via" para a eleição no ano que vem.
Mesmo tendo liberado filiados para participarem das manifestações deste domingo, o PT oficialmente não esteve presente. "Os atos foram fracos. Evidente que considero importante, mas a estreiteza dos que organizaram inviabilizou atos de massas, essa é a realidade", disse o deputado José Guimarães (CE).
Segundo o congressista, por mais que organizadores do MBL tenham mudado a pauta do "nem Lula, nem Bolsonaro" para tentar contemplar petistas, a manifestação "se transformou num pequeno ato pela terceira via".
Guimarães disse ainda que os atos de 2 de outubro e 15 de novembro contra Bolsonaro, e que contam com a entidades como a CUT na organização, serão apartidários, mais inclusivos e maiores.
"O MBL produziu Bolsonaro e tem todas as responsabilidades pelo que está acontecendo com nossa democracia. Uma autoricritica faria bem à democracia".
Enquanto isso, bolsonaristas comemoraram, comparando fotos de domingo com as das manifestações de 7 de Setembro, em apoio ao presidente.
O ministro Gilson Machado (Turismo) publicou no Twitter um vídeo em que ri e diz: "Vamos ver se eles vão brigar com as imagens agora".
Já Fábio Faria (Comunicações) elegeu o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, como alvo.
"Mandetta, pode ir para a manifestação que o distanciamento social está sendo 'totalmente respeitado' em todas as manifestações de hoje", ironizou.
Mandetta deixou o governo após divergências com o presidente a respeito do combate à pandemia -o então ministro defendia medidas sanitárias como uso da máscara e o isolamento social.
Um dos nomes cotados para a chamada "terceira via", o ex-ministro da Saúde esteve ao ato deste domingo na Paulista.
Pela manhã, houve uma manifestação pró-Bolsonaro na Esplanada dos Ministério, mas a adesão foi baixíssima. O ato foi espontâneo por parte dos apoiadores, não contou com a convocação oficial do presidente.
No Twitter, Bolsonaro xingou imprensa na rede social. "Alguém sabia desse 'ato'? (12/09/2021)", escreveu Bolsonaro. "Imprensa de m...".