Bolsonaristas minimizam ação da PF e montam estratégia para blindar Braga Netto e ex-presidente
Aliados reforçam a hipótese de suposta perseguição política
Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro e do general Walter Braga Netto colocaram em prática na terça-feira uma estratégia para blindar os dois integrantes da chapa do PL da última eleição presidencial. A ideia é antecipar a batalha de "narrativas" sobre a investigação que apura o planejamento de um golpe de Estado, da qual ambos são alvo.
A partir das revelações da Polícia Federal (PF) sobre um plano de militares para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), os argumentos para minimizar a gravidade da situação já começaram a ser testados.
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Bolsonaristas reforçam a hipótese de suposta perseguição política com a finalidade de impedir um projeto de lei que anistie os condenados pelos atos do dia 8 de janeiro. Na terça-feira, também tentaram afastar o general Braga Netto de qualquer suspeita.
De acordo com as investigações da PF, uma reunião para debater plano dos assassinatos, com consequente Golpe de Estado, teria acontecido na casa do general.
Os filhos do ex-presidente já começaram a propagar um discurso que deve ser seguido pelos demais bolsonaristas. Uma das bases da argumentação é martelar que não houve golpe ou qualquer assassinato. Por isso, não houve crime. O mesmo argumento já foi usado pelo ex-presidente em outras ocasiões.
Apesar disso, o crime de abolição do Estado Democrático de Direito, no cerne das investigações da PF, também inclui o verbo "tentar". Com o planejamento e parte da execução do plano já em mãos das autoridades, há uma vereda aberta para que as acusações sejam feitas.
— Essa situação de hoje não era nem para ter inquérito aberto. Vontade de matar alguém todo mundo alguma vez na vida já teve. Por mais que seja abominável esse sentimento, isso não é crime. Um crime para ser tentado, em algum momento da sua execução, tem que ter havido algum fato que impediu os agentes de darem continuidade ao plano de concretizar o crime. O que não aconteceu nesse suposto plano de assassinato de autoridade — disse Flávio Bolsonaro durante sessão da Comissão de Segurança Pública que debatia sobre a situação de presos nos atos golpistas de 8 de janeiro.
Na terça-feira, a PF apontou que o general Mário Fernandes, ex-número dois da Secretária-geral da Presidência, imprimiu no Palácio do Planalto o "plano operacional" que visava assassinar Moraes, Lula e Alckmin. Segundo a corporação, o plano foi denominado de "Punhal Verde e Amarelo", continha três folhas e foi impresso no gabinete da Secretária-geral. Ele chegou a ocupar interinamente o cargo de ministro e foi preso na manhã desta terça-feira.
Ao GLOBO, Flávio disse que os militares citados em investigação da PF eram agentes de “segundo ou terceiro escalão” e que o pai não pode ser responsabilizado pelo ato de outros. Flávio ainda disse que a operação é uma forma de desgastar a imagem política do ex-presidente.
Seguindo o mesmo tom, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) minimizou as descobertas da PF:
— Às vezes falamos coisas da boca para fora, não há crime nisso. Os atos introdutórios não são crimes. Precisamos de uma anistia para passar uma pedra nessa história do Brasil — afirmou o parlamentar, em referência ao projeto que está tramitando na Casa.
O líder do PL na Câmara, Altineu Côrtes (PL-RJ), vai na mesma linha e tenta desvincular Braga Netto do caso.
— Quem era contra a anistia vai usar os fatos dessa operação de hoje para jogar gasolina. Não vejo conexão entre isto e o 8 de janeiro. Não conheço esses militares citados, mas eu conheci o general Braga Netto já na política e posso dizer que ele é de finíssimo trato e não é capaz de matar uma mosca. É uma pessoa pacífica, por isso quero provas que causam essas prisões. Difícil imaginar que o Braga Netto participe disso.
O deputado Eduardo Pazuello (PL-RJ) defendeu Mário Fernandes, que é ex-funcionário do seu gabinete na Câmara. Ele disse ter "crença nas instituições do país e na idoneidade" do aliado.
Mário Fernandes foi secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência no governo Bolsonaro, segundo posto mais importante da pasta. Na gestão passada, Fernandes chegou a assumir o cargo de ministro interinamente. Ele foi assessor no gabinete de Pazuello entre 28 de março de 2023 a 04 de março de 2024.