Bolsonaristas pedem intervenção militar após vitória de Lula
Aos gritos de "Eu autorizo" e "Intervenção federal já!", pediam uma ação das Forças Armadas
Milhares de bolsonaristas se reuniram em frente a quartéis, nesta quarta-feira (2), para pedir uma intervenção militar após a vitória presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva nas urnas.
Os protestos foram realizados um dia depois que o presidente em final de mandato, Jair Bolsonaro, autorizou a transição com a equipe de Lula, sem mencionar, no entanto, sua derrota, nem parabenizar seu adversário.
Embora menos numerosos, os bloqueios de estradas iniciados no domingo pelos manifestantes continuaram nesta quarta-feira. No interior de São Paulo, um motorista foi preso após passar por um bloqueio e atropelar várias pessoas. As autoridades não relataram mortes, nem informaram o estado de saúde dos feridos.
Milhares de seguidores do presidente Jair Bolsonaro se reuniram em frente ao Comando Militar do Sudeste, na cidade de São Paulo, constatou a AFP.
Leia também
• Bloqueios em rodovias afetam mais de 30 linhas de produção, diz associação da indústria de alimentos
• Segundo PRF, número de estados com bloqueios em estradas cai para 15; veja como está em Pernambuco
Aos gritos de "Eu autorizo" e "Intervenção federal já!", pediam uma ação das Forças Armadas, após a derrota de Bolsonaro para Lula no último domingo (30).
"Não reconhecemos o resultado da eleição, porque sabemos que foi fraudulento", disse o comerciante Rodrigo Mata, de 41 anos, sobre a eleição no domingo, na qual Bolsonaro obteve 49,1% dos votos, frente a 50,9% de Lula.
"Queremos intervenção federal, porque exigimos a nossa liberdade. Não admitimos que um ladrão nos governe", disse Ângela Cosac, de 70 anos, à AFP, ao lado de um cartaz que dizia "SOS Forças Armadas".
Alguns manifestantes foram hostis com a imprensa. Ao cair da noite, o protesto continuava numeroso, mas menos que no início.
Protestos também ocorreram em Brasília, com milhares de manifestantes em frente ao quartel-general do Exército, constatou a AFP.
"Resistência civil", gritavam os bolsonaristas.
No centro do Rio de Janeiro, manifestantes gritavam na chuva "Lula, ladrão, seu lugar é na prisão", segundo vídeos da imprensa.
"Não adianta mais chorar"
Bolsonaro ficou em silêncio por dois dias após perder na votação. Seus críticos acusam-no de ter, com isso, estimulado a proliferação dos atos de protesto.
Em seu primeiro e breve discurso ao país, prometeu cumprir a Constituição.
Ele pediu que as manifestações fossem pacíficas e que seus seguidores não utilizassem "os mesmos métodos da esquerda", prejudicando "o direito de ir e vir". Justificou-as, porém, alegando que se originam de um sentimento de "injustiça" em relação ao processo eleitoral.
Nas redes, grupos bolsonaristas interpretaram a mensagem de Bolsonaro como um impulso para manter as mobilizações.
O deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, compartilhou imagens do protesto no Rio nesta quarta, citando o discurso de seu pai.
Os protestos não tiveram, no entanto, nenhum apoio oficial.
O vice-presidente em final de mandato, Hamilton Mourão, falou ao jornal O Globo que 'não adianta mais chorar, nós perdemos o jogo".
Para o analista político André César, da Hold Assessoria Legislativa, "é improvável que os protestos continuem crescendo. Apesar de ter sido uma eleição muito apertada, as elites brasileira e internacional já felicitaram Lula".
Na entrevista à AFP, César previu que os protestos desta quarta "vão se esgotar" com o passar do tempo.
Uso da força policial e atropelamento
A Polícia Rodoviária Federal reportou 146 bloqueios totais ou parciais que afetavam 16 estados do país, em um balanço publicado na tarde desta quarta. Pela manhã, o número era 167.
O número foi diminuindo gradualmente desde que a polícia recorreu à força nesta quarta-feira, com o aval de uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), ordenando o uso de "todas as medidas necessárias" para desbloquear as vias.
A PRF também informou que, até esta quarta, dispersou 688 manifestações
Em São Paulo, a tropa de choque da Polícia Militar dispersou com bombas de gás lacrimogêneo e um caminhão com jatos de água dezenas de manifestantes que dificultavam a circulação na principal rodovia que liga o estado ao centro-oeste do país.
No interior do estado, um homem de 28 anos “acelerou o carro” após ser impedido de avançar em uma rodovia por um grupo de manifestantes, segundo as autoridades. Dois policiais e outras pessoas foram atropelados, segundo a Secretaria de Segurança de São Paulo, que não especificou o número ou a gravidade dos feridos.
Os bloqueios têm causado grandes transtornos, inclusive o cancelamento de 48 voos no aeroporto internacional de Guarulhos, o principal do país.
Ontem, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) alertou para um "risco iminente de desabastecimento e de falta de combustível", caso as estradas não sejam desbloqueadas rapidamente.