Bolsonaro a Boulos: guerra em Israel cria pressão sobre a esquerda e abre fissuras na política
Ataque terrorista liderado pelo grupo extremista Hamas deixou mais de mil mortos no último sábado
A ofensiva organizada pelo grupo terrorista Hamas em Israel, iniciada no último sábado, criou uma pressão sobre a esquerda brasileira. Isto porque alguns de seus principais líderes, embora tenham lamentado as vítimas, não criticaram nominalmente a ação do Hamas que deixou civis mortos e reféns na faixa de Gaza. Entre eles, está o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), pré-candidato à prefeitura de São Paulo.
Logo após o bombardeio que acometeu o Oriente Médio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi as suas redes sociais para dar o posicionamento oficial do governo. "O Brasil não poupará esforços para evitar a escalada do conflito, inclusive no exercício da Presidência do Conselho de Segurança da ONU", escreveu o presidente, que disse estar "chocado com os ataques terroristas contra civis em Israel, que causaram numerosas vítimas". O primeiro pronunciamento do chefe do Executivo brasileiro foi o suficiente para gerar críticas ao chefe do Executivo por, segundo a oposição, não ter adotado uma postura mais dura, mas de conciliação.
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Um dos primeiros a reagir foi o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que tratou de vincular o ex-adversário na corrida presidencial ao grupo palestino. "Pelo respeito e admiração ao povo de Israel repudio o ataque terrorista feito pelo Hamas, grupo terrorista que parabenizou Luís Inácio Lula da Silva quando o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) o anunciou vencedor das eleições de 2022", disse o ex-mandatário, tentando vincular Lula ao Hamas.
Este movimento foi repetido por outros parlamentares de sua base de apoio. Entre eles, o senador e ex-juiz federal Sergio Moro (União Brasil-PR). "Ruim a nota do Governo Lula. A hora é de condenar, sem condições ou ponderações, os ataques terroristas do grupo Hamas. Mais uma vez, até em situações extremas, a diplomacia presidencial falha. Não é à toa que Hamas parabenizou Lula pela eleição", afirmou o entusiasta da Lava-Jato.
Tanto Bolsonaro quanto Moro tentaram associar Lula ao Hamas por uma nota publicada no site oficial na reta final de eleição, em outubro do ano passado. "Hamas parabeniza Lula pela vitória nas eleições", dizia o pronunciamento. Na ocasião, quase todas as lideranças mundiais fizeram manifestações similares — inclusive Isaac Herzog, presidente de Israel.
Governo dividido
Além de Lula, outros integrantes do governo se manifestaram, dividindo opiniões sobre o atentado. De um lado, o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social Paulo Pimenta e o ex-chanceler e atual assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, fizeram críticas a Israel.
Por sua vez, Pimenta relembrou sua "trajetória de apoio a luta do povo palestino" e aproveitou a ocasião para reafirmar o que chamou de "compromisso histórico".
"Lamento profundamente a morte de civis e me solidarizo com todas as famílias das centenas de vítimas que perderam as vidas. A ocupação prolongada dos territórios Palestinos e a incapacidade das fóruns internacionais em fazer cumprir as resoluções da ONU são o pano de fundo para compreendermos esse novo capítulo de um processo de violências e privações que jamais poderiam ter sido toleradas. Que o Brasil possa contribuir para busca da paz e que imediatamente ocorra um cessar fogo para que se estabeleça as negociações para por fim ao conflito", disse o chefe da Secom.
Celso Amorim escreveu em suas redes sociais que os ataques a civis sempre devem ser condenados. Contudo, disse que o episódio de sábado não foi um ato isolado: "Vem depois de anos e anos de tratamento discriminatório, de violências, não só na própria Faixa de Gaza, mas também na Cisjordânia".
Já integrantes do primeiro escalão ligados ao Centrão adotaram uma postura diferente. O ministro do Esporte André Fufuca (PP) foi um dos que condenou nominalmente o Hamas.
"Expresso minha total solidariedade ao povo israelense, que enfrenta ataques brutais prospectado pelo grupo terrorista Hamas. Vamos orar pelas vítimas, e orar para que Deus conforte o coração de todos os familiares e amigos por suas perdas", afirmou.
Esquerda se torna alvo
Logo após o pronunciamento de Lula, o PT e PSOL emitiram notas sobre o ataque terrorista. O partido do presidente afirmou repudiar "todo e qualquer ato de violência" e se solidarizou com as vítimas. Apesar disso, não falou sobre o Hamas: "Só há um caminho para a paz na região, que é a garantia de dois Estados, um palestino e um israelense, o cumprimento dos acordos de Oslo, que completam 30 anos em 2023, e o cumprimento das Resoluções da ONU", diz trecho assinado pela presidente da sigla, Gleisi Hoffmann.
O PSOL lamentou as mortes, mas condenou o "regime de apartheid contra o povo palestino", mas também não citou nominalmente o Hamas. "O apartheid sionista de Israel vem empobrecendo e segregando o povo palestino há décadas. Com políticas de Estado que promovem a colonização, a discriminação racial institucionalizada e uma ocupação brutal, a realidade dos palestinos é de morte, prisões injustas, destruição de casas e perseguições política constantes. Trata-se de um quadro com evidentes crimes contra a humanidade que seguirá existindo se a cumplicidade internacional continuar", disse a sigla.
Do partido, o deputado Guilherme Boulos se posicionou pessoalmente, após ter sua imagem vinculada ao grupo terrorista. Em postagem no X (antigo Twitter), ele afirmou que sua luta a favor da Palestina sempre foi pública, o que não significa adesão ao Hamas.
Este aceno gerou uma baixa em sua pré-campanha à prefeitura de São Paulo: o ex-secretário de saúde de São Paulo no governo João Doria, o infectologista Jean Gorinchteyn anunciou sua saída da coordenação.
"Diante da postura pró-Palestina que não menciona ou condena o grupo extremista Hamas pelos atentados terroristas em Israel no último sábado, que vitimaram civis e sequestraram mulheres e crianças de forma bárbara, adotei a decisão oficial de me retirar da coordenação do plano na área de Saúde", disse Gorinchteyn em pronunciamento.