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caso das joias

Bolsonaro admite que joias de R$ 16 milhões apreendidas pela Receita eram para Michelle

Inicialmente, Bolsonaro afirmou que ele e Michelle só souberam das joias quando a informação foi divulgado pela imprensa

Michelle Bolsonaro, as joias apreendidas e Jair Bolsonaro Michelle Bolsonaro, as joias apreendidas e Jair Bolsonaro  - Foto: Reprodução e fotos da AFP

O ex-presidente Jair Bolsonaro admitiu nesta quinta-feira que as joias recebidas de presente do governo da Arábia Saudita, que entraram de maneira ilegal no país, eram para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e que a Presidência da República tentou recuperar o conjunto por meio de ofícios enviados à Receita Federal. Os itens, avaliados em R$ 16 milhões foram apreendidas por fiscais aduaneiros no aeroporto de Guarulhos com um assessor do ex-ministro Bento Albuquerque (Minas e Energia) por não terem sido declaradas.

— Tentamos recuperar o outro conjunto da Michelle via ofício, não foi na mão grande. Não sei porque essa onda toda. Se estão achando isso, como algo que eu fiz errado, eu fico até feliz, (é porque) não têm do que me acusar — afirmou durante entrevista para a Jovem Pan.

Bolsonaro voltou para o Brasil nesta quinta-feira, após quatro meses nos Estados Unidos, em um voo da GOL. Ele desembarcou às 6h37 no aeroporto internacional de Brasília e de lá seguiu para o PL, onde foi recebido pela ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, pelo presidente do partido, Valdemar Costa Neto, e aliados. Após o evento, ele seguiu no local para um almoço reservado com Valdemar, Michelle e Braga Netto, que concorreu a vice-presidente em sua chapa nas últimas eleições.

No começo da entrevista, no entanto, Bolsonaro afirmou que ele e Michelle só souberam das joias quando o caso foi revelado pela imprensa.

— Um grupo de joias, em 2021, ficou retido na Alfandega. Eu fiquei sabendo, a minha esposa também, pela imprensa.

A Receita Federal apreendeu agosto de 2021 um pacote de joias avaliado em R$ 16 milhões que seria um presente do governo da Arábia Saudita para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. O conjunto continha colar, anel, relógio e um par de brincos de diamante e estavam na mochila de um militar, assessor do então ministro Bento Albuquerque. Ambos voltavam de uma viagem pelo Oriente Médio. O pacote foi retido no aeroporto de Guarulhos pela Receita Federal por não ter sido declarado.

Um segundo pacote foi entregue à Presidência da República em novembro do ano passado. Os itens estavam na bagagem de um dos integrantes da mesma comitiva brasileira ao país e não foi retido pela Receita. Esse segundo pacote foi devolvido após determinação do Tribunal de Contas da União (TCU). Eles estavam no acervo pessoal do ex-presidente.

Há, ainda, um terceiro conjunto de joias avaliado em cerca de R$ 500 mil recebido por Bolsonaro. Entre as peças estão um relógio da marca Rolex, de ouro branco, cravejado de diamantes. O ex-mandatário levou consigo a caixa com itens de luxo no fim do ano passado, quando deixou o cargo, e as incorporou em seu acervo pessoal.

Ainda durante a entrevista, Bolsonaro afirmou que as joias recebidas são "caríssimas" pela sua relação de "amizade com o mundo árabe". O ex-chefe do Executivo, que voltou para o Brasil nesta quinta-feira após quatro meses nos Estados Unidos, disse também que o governo saudita tem "prazer" em dar presentes porque "tem dinheiro".

-- São joias caras? Sim, caríssimas, até pela relação de amizade que eu tive com o mundo árabe -- afirmou Bolsonaro durante entrevista para a Jovem Pan, completando: -- Eles têm dinheiro, pô. É o prazer deles dar presente. Tem uma vida, eles são muito bem sucedidos.

O ex-presidente ainda destacou a relação com o governo da Arábia Saudita. Ele afirmou que o "mundo árabe é apaixonado por nós" e que o relacionamento foi "excepcional" durante a sua gestão.

-- O mundo árabe é apaixonado por nós. Interessa cada vez mais a aproximação com o mundo árabe [...] O meu relacionamento com o mundo árabe foi excepcional. Está ai os presentes que deram para o chefe de Estado ou que mandaram entregar para o chefe de Estado.

Bolsonaro confirmou que está com o terceiro conjunto de joias e reforçou que "não teve nada escondido". Disse, ainda, que as joias estão prontas para serem devolvidas. Sobre o seu depoimento à PF, Bolsonaro afirmou que está à disposição e que "não há problema nenhum" em depor.

ABIN
Bolsonaro admitiu ainda que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) usou durante o seu governo um sistema secreto de monitoramento da localização de cidadãos em todo o território nacional. A informação foi revelada pelo jornal O Globo.

Bolsonaro afirmou que foi acusado de " bisbilhotar" a vida de 10 mil pessoas pelo sistema da Abin, mas que a ferramenta poderia ter sido usada para "sedimentar estudos para os órgãos de segurança".

-- Há poucos dias me acusaram de eu ter manipulado, bisbilhotado 10 mil (?) pessoas pela máquina da Abin. Essa máquina da Abin foi comprada no governo Temer. Ela tem capacidade de monitorar os sinais telefônicos. Isso talvez tenha sido usado pela Abin, talvez isso tenha sedimentado o estudo para os órgãos de segurança.

Na ocasião, o ex-presidente foi questionado sobre os atentados terroristas do dia 8 de janeiro, quando apoiadores invadiram e depredaram o Supremo Tribunal Federal (STF), o Congresso Nacional e o Palácio do Planalto, sede do governo federal. Em resposta, Bolsonaro falou sobre a tentativa do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em barrar uma CPMI para apurar os atentados e citou a existência de documentos da Abin, da Polícia Federal (PF) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

-- O nosso pessoal não fez nada, no meu entender, que fugiu da lei. Tinham pessoas que participavam daqueles eventos. Agora, por que o PT, o governo, não quer CPMI? O que tem a temer? Tem documentos, ou não tem? Documentos da Abin ou da PF? A PRF acompanhou o começo de janeiro as movimentações pelo Brasil ou não?

Como O GLOBO mostrou, durante os três primeiros anos do governo Bolsonaro, a Abin operou um sistema secreto de monitoramento da localização de cidadãos em todo o território nacional. A ferramenta permitia, sem qualquer protocolo oficial, monitorar os passos de até 10 mil proprietários de celulares a cada 12 meses. Para isso, bastava digitar o número de um contato telefônico no programa e acompanhar num mapa a última localização conhecida do dono do aparelho.

A prática suscitou questionamentos entre os próprios integrantes do órgão, pois a agência não possui autorização legal para acessar dados privados. O caso motivou a abertura de investigação interna e, para especialistas, a vigilância pode ainda violar o direito à privacidade. Procurada, a Abin disse que o sigilo contratual a impede de comentar.

A ferramenta, chamada “FirstMile”, ofereceu à agência de inteligência a possibilidade de identificar a “localização da área aproximada de aparelhos que utilizam as redes 2G, 3G e 4G”. Desenvolvido pela empresa israelense Cognyte (ex-Verint), o programa permitia rastrear o paradeiro de uma pessoa a partir de dados transferidos do celular para torres de telecomunicações instaladas em diferentes regiões. Com base no fluxo dessas informações, o sistema oferecia a possibilidade de acessar o histórico de deslocamentos e até criar “alertas em tempo real” de movimentações de um alvo em diferentes endereços.

A agência comprou o software por R$ 5,7 milhões, com dispensa de licitação, no fim de 2018, ainda na gestão de Michel Temer. A ferramenta foi utilizada ao longo do governo Bolsonaro até meados de 2021.

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