Depoimento

Bolsonaro diz à PF que mantinha "conversas esporádicas" com militar investigado

Em depoimento de cerca de três horas, ex-presidente afirmou que o major reformado Ailton Barros costumava se aproximar dele em "momentos eleitorais"

Jair Bolsonaro presta depoimento à Polícia FederalJair Bolsonaro presta depoimento à Polícia Federal - Foto: Evaristo Sá/ AFP

Em depoimento à Polícia Federal, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta terça-feira (16) que "mantinha" contato com o major reformado Ailton Barros, que é investigado por discutir com outros militares a articulação de um golpe de Estado para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Barros está preso preventivamente no âmbito da Operação Venire, que investiga um esquema de fraudes no cartão de vacinação do ex-presidente, de sua filha e de assessores e seus familiares.

"Indagado se Ailton Barros mantinha contato direto com o declarante, [Bolsonaro] respondeu que mantinha contato com Ailton por conversas esporádicas em aplicativos de mensagens", diz a transcrição da oitiva.

No interrogatório, Bolsonaro explicou que conhece o militar há cerca de 20 anos em função de eventos da Brigada Paraquedista no Rio de Janeiro. Segundo o ex-presidente, o investigado costuma se aproximar dele em períodos eleitorais.

No pleito de 2022, Barros se candidatou a deputado estadual pelo Rio de Janeiro, mas não obteve votos suficientes.

Bolsonaro ressaltou que, apesar dos contatos, "não mantinha relacionamento pessoal" com Barros. E declarou que "não participou ou orientou qualquer ato de insurreição ou subversão contra o Estado de Direito".

Conforme revelou O Globo, a PF identificou áudios e mensagens nos arquivos do celular do major que "evidenciavam" a discussão do plano golpista. Entre as mensagens que chamaram a atenção da PF, estão dois prints (capturas de tela) de uma conversa entre Barros e um contato denominado "PR 01", "possivelmente relacionado ao ex-presidente Jair Bolsonaro".

A primeira mensagem tratava da intenção de grupos organizadores dos atos de 7 de setembro de 2021 de acamparem em Brasília em 31 de março, data do golpe de 1964. O objetivo era pressionar os onze ministros do Supremo Tribunal Federal a "saírem de suas cadeiras". A segunda sugeria inserir nesses movimentos temas de interesse de Bolsonaro, como a defesa do impeachment do ministro Alexandre de Moraes e o ataque às urnas eletrônicas.

A trama, segundo investigadores, consistia em incitar ataques ao STF, hostilizar as urnas eletrônicas, convencer a cúpula do Exército a rejeitar o resultado das eleições em 2022 e prender o ministro Alexandre de Moraes, da Corte.

Questionado sobre o teor dessas mensagens, Bolsonaro disse que "nunca chegou ao conhecimento" dele essas "solicitações" e que Barros "não possui liderança para arregimentar pessoas para qualquer ato".

Fraudes no cartão de vacinação
Na oitiva, Bolsonaro também afirmou que desconhece o suposto esquema de fraudes nos registros de vacina contra Covid-19, que inseriu dados falsos em nome dele e de sua filha de 12 anos, Laura.

A conta dele no aplicativo ConecteSUS, usado para gerar os certificados de vacinação, era administrada pelo ex-ajudante de ordens Mauro Cid.

Já sobre a conta de Laura no aplicativo o ex-presidente afirmou desconhecer o responsável por sua administração. Segundo o ex-presidente, a menina não foi vacinada e, por isso, não havia motivos para acessar a ferramenta do SUS.

“Indagado sobre o motivo de ter emitido o certificado de vacinação contra a Covid-19 em língua inglesa em nome de L.F.B. (Laura), respondeu que não tem conhecimento sobre o motivo da emissão do certificado”, acrescentou ele, conforme a transcrição do depoimento.

De acordo com o inquérito da PF, Laura, assim como Bolsonaro, teve registradas em seu nome duas doses de vacina da Pfizer. Os dados falsos foram inseridos no sistema do Ministério da Saúde em 21 de dezembro de 2022 e apagados seis dias depois sob a justificativa de “erro”, segundo a polícia.

No meio tempo entre a inserção e a exclusão dos dados, foram emitidos os certificados de vacinação de Bolsonaro e de Laura — no caso dela, em língua inglesa.

A geração do certificado de vacinação em inglês foi feita no dia 27 de dezembro. No dia seguinte, ela viajou para Miami, na Flórida, onde passaria uma temporada com a família. Bolsonaro foi para os Estados Unidos pouco depois, em 30 de dezembro.

O ex-presidente também foi questionado sobre a exclusão das falsas doses de vacina do sistema da Saúde, efetuada com a senha de uma servidora da Prefeitura de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. Os dados foram apagados depois que os certificados de vacinação dele e de Laura foram gerados. Ele respondeu que “não tem ciência dos motivos que levaram a referida servidora a excluir os registros de vacinação".

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