Bolsonaro é o presidente que mais fez trocas no comando do MEC
Foram quatro chefes da pasta em três anos e três meses de gestão o equivalente a uma substituição a cada 296 dias.
O governo Bolsonaro foi o que, proporcionalmente, mais promoveu trocas no Ministério da Educação (MEC) desde a redemocratização: foram quatro chefes da pasta em três anos e três meses de gestão — o equivalente a uma substituição a cada 296 dias.
Na outra ponta, está o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que durante os oito anos no comando do Palácio do Planalto, ou 2.920 dias, nomeou apenas um ministro para o cargo.
A petista Dilma Rousseff também capitaneou um movimento intenso de trocas no MEC. Foram seis, porém num prazo maior — de janeiro de 2011 a maio de 2016, quando deixou a cadeira presidencial ao sofrer impeachment, ela tinha mudado o ministro a cada 326 dias.
Com a saída de Milton Ribeiro do comando do MEC, o governo Bolsonaro coleciona uma queda de ministro a cada 43 dias. Desde 1º de janeiro de 2019, quando assumiu a Presidência, Jair Bolsonaro fez 27 trocas em ministérios.
Na Educação, passaram Ricardo Vélez Rodríguez, Abraham Weintraub, Antonio Paulo Vogel (interino, no lugar de Carlos Decotelli, que chegou a ser anunciado, mas não foi empossado), além de Milton Ribeiro. O nome do novo ministro da Educação não foi anunciado.
O primeiro escolhido de Bolsonaro para a Educação foi Vélez, demitido em abril de 2019, antes de Bolsonaro completar 100 dias de governo, depois de uma série de divergências públicas com o presidente. A crise na gestão do então ministro foi marcada por uma disputa interna entre dois grupos. O primeiro era formado por militares, que defendiam uma gestão mais pragmática, e o segundo, por seguidores do ideólogo Olavo de Carvalho, de quem teria partido a sua indicação ao cargo.
Apesar de ter ficado pouco tempo no MEC, Vélez colecionou frases polêmicas. Em uma ocasião, disse que o brasileiro agiria como um “canibal” ao viajar.
— Rouba coisas dos hotéis, rouba o assento salva-vidas do avião; ele acha que sai de casa e pode carregar tudo. Esse é o tipo de coisa que tem de ser revertida na escola — declarou.
Em outro episódio, afirmou que “a universidade não seria para todos”.
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Para o seu lugar, Bolsonaro convidou o também olavista Abraham Weintraub. Em 14 meses e dez dias na pasta, ele acumulou polêmicas e foi demitido após desgaste com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Na Corte, Weintraub foi alvo de dois inquéritos diferentes: um sobre uma declaração direcionada ao STF, na qual chamava os ministros de “vagabundos” e outro sobre uma publicação em que ironizou a China nas redes sociais.
Weintraub também gerou polêmica ao falar em cortar verba para “escolinhas dos sem-terrinha”, em referência ao MTST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Pouco mais de um mês após assumir o MEC, Weintraub trocou o nome do escritor Franz Kafka por “kafta”, um prato árabe.
Coube ao então secretário-executivo do MEC, Antonio Paulo Vogel de Medeiros, ocupar o posto interinamente, quando Weintraub foi demitido, como forma de melhorar o relacionamento entre o governo e o STF. O selecionado foi Carlos Decotelli, que não chegou a assumir o cargo.
Bolsonaro desistiu da nomeação depois de notícias que revelaram uma maquiagem no currículo do escolhido, visto até então como “pacifista”. Milton Ribeiro chegou ao posto em julho de 2020, após longa análise do seu currículo.
Bolsonaro é o terceiro presidente que mais fez mudanças no primeiro escalão do governo, na história. Só perde para os ex-presidentes Michel Temer e Itamar Franco, que fizeram 32 e 41 mudanças, respectivamente.
Para esta semana está prevista reforma ministerial em que até dez ministros devem se desincompatibilizar dos cargos para serem candidatos nas eleições de outubro — o que aumentará o número de trocas no primeiro escalão do governo.
Ontem, a colunista do Globo Malu Gaspar informou que o comandante do Exército, Paulo Sérgio de Oliveira, será o próximo ministro da Defesa. Ele assume no lugar de Walter Braga Netto, cotado para ser vice na chapa de Bolsonaro na campanha de reeleição. Oliveira passará o comando do Exército para o general Marco Antônio Freire Gomes na próxima quinta-feira.
No Ministério da Ciência e Tecnologia, quem assumirá o lugar de Marcos Pontes — ele deixará o posto para concorrer a deputado federal pelo PL de São Paulo, é o atual secretário de Empreendedorismo e Inovação da pasta, Paulo Alvim.
Para o cientista político Carlos Melo, professor do Insper, a série de mudanças dificulta a implantação de políticas públicas contínuas em pastas fundamentais.
— A burocracia funcional brasileira é muito sujeita a essas mudanças. Quando um ministro sai do posto, há trocas de cargos e, com isso, perde-se continuidade. É verdade que isso ocorre em todos os governos, mas com Bolsonaro os números provam ser mais frequente. Educação e Saúde estão entre as pastas em que mais tivemos trocas. Como acreditar em políticas contínuas nesses ministérios? Não há lógica programática quando não há continuidade — diz.
Pela Saúde, passaram Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich, Eduardo Pazuello e Marcelo Queiroga, atualmente no cargo — todas as mudanças ocorreram durante a pandemia.
Em meio a tantas trocas, algumas delas se tornaram mais simbólicas. Sergio Moro, então ministro da Justiça, deixou o primeiro escalão do governo Bolsonaro um ano e quatro meses após ter assumido o cargo. A demissão foi motivada pela decisão de Bolsonaro de trocar o diretor-geral da Polícia Federal (PF), Maurício Valeixo, indicado por Moro para o posto. A PF é vinculada à pasta da Justiça.
Já o general Carlos Alberto Santos Cruz, que se filiou ao Podemos e avalia concorrer a uma cadeira na Câmara pelo Distrito Federal, deixou a Secretaria de Governo ainda em 2019, após travar uma disputa com um dos filhos do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro, e o escritor Olavo de Carvalho.
Gustavo Bebbiano, ministro da Secretaria-Geral, e um dos coordenadores da campanha presidencial de 2018, foi demitido ainda no segundo mês de gestão. Ele também se desentendeu com Carlos Bolsonaro, em meio a uma crise instaurada pela suspeita de que o PSL, partido ao qual Bolsonaro e Bebianno eram filiados, tinha usado candidaturas laranjas nas eleições. Bebianno morreu em março de 2020.