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Protestos

Bolsonaro minimiza atos contra ele e diz que faltou maconha para manifestantes

De acordo com relatos de aliados, a estratégia do governo desqualificar os atos e manter a base radical unida. Para isso trabalham para ressuscitar o antipetismo

Protesto reuniu milhares na avenida Paulista, em São PauloProtesto reuniu milhares na avenida Paulista, em São Paulo - Foto: Nelson Almeida/AFP

Em sua primeira manifestação pública sobre os protestos que reuniram milhares de pessoas contra seu governo no sábado (29), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) minimizou nesta segunda-feira (31) o tamanho dos atos e disse que faltou maconha e dinheiro para os manifestantes.
 
"Você sabe por que teve pouca gente nessa manifestação da esquerda, agora, no último fim de semana? Porque a PF e a PRF estão prendendo muita maconha pelo Brasil. Faltou erva para o movimento", disse o presidente a apoiadores, fazendo menção à Polícia Federal e à Polícia Rodoviária Federal.
 
Como mostra um vídeo publicado na internet por um apoiador, ao conversar com eleitores na porta do Palácio da Alvorada na manhã de segunda, Bolsonaro afirmou ainda que estava "faltando dinheiro também" para aqueles que se reuniram em atos em todas as 27 capitais brasileiras, com grandes concentrações em São Paulo e no Rio de Janeiro.
 
Até esta segunda-feira, Bolsonaro não havia se manifestado. Ao contrário das agitadas agendas dos últimos finais de semana, o presidente se encastelou no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente, em Brasília.
 
No sábado, dia dos protestos, fez uma publicação em rede social segurando uma camiseta com a mensagem "imorrível, imbroxável, incomível" -mesmos termos usados recentemente por ele quando atribuiu a Deus a exclusividade de poder tirá-lo do cargo. Nesta segunda, com os apoiadores, voltou a usar as expressões.
 
De acordo com relatos de aliados de Bolsonaro feitos à reportagem sob condição de anonimato, a estratégia do governo, já iniciada no fim de semana, é tentar desqualificar os atos e manter a base bolsonarista radical unida. Para isso trabalham para ressuscitar o antipetismo.
 
Dentro desta lógica, os governistas querem generalizar como petistas todos os que foram às ruas protestar contra Bolsonaro.
 
Aliados do governo também trabalham para distorcer o foco dos atos. Em vez de reconhecer que as manifestações são pela falta de vacina e em desacordo com a condução do governo no enfrentamento à pandemia, levantam o discurso de que as passeatas tiveram viés eleitoral, em defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
 
Em contrapartida, argumentam que os bolsonaristas que vão às ruas em apoio ao presidente são cristãos e patriotas.


Além disso, aliados do mandatário estão usando imagens de aglomeração nos atos contra ele para se blindar de críticas naqueles favoráveis. A recomendação para a utilização de máscaras teve ampla adesão de manifestantes no sábado, mas houve aglomerações em diversos locais, em descumprimento às regras de distanciamento social sugeridas por especialistas para conter a disseminação da Covid-19.
 
Ao longo do fim de semana, aliados de Bolsonaro inflaram o discurso de polarização e miraram ataques a Lula. O ex-presidente, segundo a última pesquisa Datafolha, aparece com vantagem para a disputa pelo Palácio do Planalto em 2022.
 
Lula não foi aos protestos de sábado e manteve silêncio, mas em diversas cidades houve declarações de apoio ao petista. Ele readquiriu o direito de disputar a eleição após o STF (Supremo Tribunal Federal) anular condenações da Lava Jato.
 
Diante de um adversário com elevada rejeição e um cenário difícil inclusive na economia, a estratégia dos petistas é deixar que Bolsonaro se desgaste. A gestão da pandemia da Covid já é alvo de uma CPI no Senado.
 
Como o jornal Folha de S.Paulo mostrou, o final de semana fez emergir entre os políticos a avaliação de que a eleição presidencial de 2022 foi antecipada. O mesmo diagnóstico é traçado por bolsonaristas e políticos de esquerda.

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