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Análise

'Bolsonaro não é o candidato do coração dos evangélicos', diz antropólogo Juliano Spyer

Pesquisador avalia que esquerda precisa 'redisputar' grupo e encontrar formas positivas de falar da família

Presidente Jair BolsonaroPresidente Jair Bolsonaro - Foto: EVARISTO SA / AFP

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Autor do livro “O povo de Deus”, que detalha o crescimento dos evangélicos no país, o antropólogo Juliano Spyer afirma que Jair Bolsonaro não é o presidente do coração do segmento, mas é quem o atrai por defender de forma clara as pautas de costumes.

Para Spyer, os candidatos que quiserem se conectar com os evangélicos precisam disputar as narrativas com a direita, a partir da defesa de temas como vida, família e amor. O livro se tornou referência para políticos que tentam compreender o grupo religioso que hoje equivale a cerca de 30% da população. Na obra, Spyer usa uma pesquisa de campo de seu doutorado, que o levou a passar um ano e meio na periferia de Salvador, e apresenta os principais estudos sobre cristianismo evangélico no Brasil.

Minha percepção é que Bolsonaro não é o presidente ideal para os evangélicos. Primeiro, porque não é evangélico. Segundo porque é uma pessoa com comportamento vulgar, que fala palavrões e cujo comportamento difere dos cristãos. No entanto, embora para muitos ele não seja um bom líder, Bolsonaro apresenta-se como um candidato interessante por ser o único que tem a disposição de falar de forma clara que apoia a pauta moral, a família tradicional e a liberdade religiosa.

Entendo que o tema que dá unidade a maior parte dos cristãos é a pauta moral. Dentro dela está a questão da família tradicional, heteronormativa, formada por pai, mãe e filhos. Além dela, tem a defesa da liberdade religiosa, o que é algo que não agrada os partidos e as lideranças de esquerda por muito tempo.

As pessoas de esquerda e das camadas médias e altas da população olham para os evangélicos como coitadinhos que não puderam estudar e por isso abraçaram a religião. Em alguns casos, os veem como mercadores da fé. Sendo que, para muitos dos fiéis, a rede de apoio da igreja ajuda a reestabelecer a dignidade para que mudem de vida.

A igreja ocupa espaços deixados pelo governo: ajuda a arrumar emprego, leva para hospital quem precisa e ajuda e até a encontrar tratamento para um filho que se envolve com drogas e tráfico. Por conta da organização dessas igrejas e pela presença na política, o evangélico, que em sua maioria é pobre e negro, tem hoje influência direta no destino do país. Essas pessoas de esquerda não podem mais ignorar essa população. A eleição delas passa por dialogar com parte desses 60 milhões de brasileiros.

Na entrevista completa, disponível para assinantes, o antropólogo avalia como os políticos de esquerda podem se reconectar com este segmento religioso, e qual sua posição como os evangélicos devem votar nas eleições de 2022.

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