PRESENTES

Bolsonaro recebeu mensagem de Cid com certificado de relógio dado pelo Bahrein e vendido nos EUA

Existência do presente, um Patek Phillipe, era desconhecida porque item nunca foi registrado no acervo do presidente, segundo a investigação

Relógio Patek Philippe Relógio Patek Philippe  - Foto: Divulgação/Policia Federal

O ex-presidente Jair Bolsonaro recebeu em seu celular, em mensagem enviada pelo então ajudante de ordens Mauro Cid, um certificado de autenticidade de um relógio Patek Philippe avaliado em US$ 51 mil (cerca de R$ 250 mil, na cotação atual) que teria sido dado por autoridades do Bahrein em 2021 e vendido a uma loja dos Estados Unidos no ano seguinte.

A PF encontrou, no armazenamento da nuvem de Cid, um documento que registra a venda desse relógio e de outro modelo, um Rolex, por US$ 68 mil. A transação ocorreu no dia 13 de junho de 2022. Além disso, a investigação também comprovou que o tenente-coronel esteve na loja de relógios por meio de uma busca no aplicativo Waze e pela conexão com o Wi-Fi do estabelecimento.

Segundo a Polícia Federal, que investiga a suposta transação envolvendo esse relógio, além do Rolex que já era conhecido, “não foi identificado nenhum registro do relógio Patek Philippe (no acervo presidencial), fato que indica a possibilidade de o referido bem sequer ter passado pelo então Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (...), sendo desviado diretamente para a posse do ex-presidente Jair Bolsonaro”.

“Tal fato”, continua a PF, “explicaria não ter existido, ao contrário dos demais itens desviados, uma ‘operação’ para recuperar o referido bem, pois, até o presente momento, o Estado brasileiro não tinha ciência de sua existência”.

Segundo a PF, o valor de US$ 68 mil obtido com a venda dos dois relógios à loja americana foi depositado na conta do general Mauro Cesar Lourena Cid, pai do tenente-coronel Mauro Cid e alvo de busca e apreensão nesta sexta-feira.

No período da venda, Cid estava nos Estados Unidos acompanhando a participação de Bolsonaro na Cúpula das Américas. Depois do fim da agenda, viajou da Flórida até a Pensilvânia para vender os dois relógios, e só vendeu

"Os elementos de prova colhidos apontam que Mauro Cid, após se desligar da comitiva presidencial no dia 13 de junho de 2022, viajou de Miami até a cidade de Willow Grove, no estado Pensilvânia/EUA. Na cidade se dirigiu até a sede da loja Precision Watches e efetivou a venda do relógio Rolex Day-Date, que integrava o denominado “kit Ouro Branco”, presenteado ao ex-presidente da República Jair Bolsonaro, quando de sua visita oficial à Arábia Saudita em outubro de 2019", escreveu a PF.

"Após efetivar a venda do referido relógio, juntamente com o relógio da marca Patek Philippe, o montante de US$ 68.000,00 foi depositado, no mesmo dia, na conta bancária de Mauro Cesar Lourena Cid, pai de Mauro Cesar Barbosa Cid", acrescentou a corporação.

Valores envolvidos
A Polícia Federal calcula que aliados de Bolsonaro faturaram cerca de R$ 1 milhão com a venda de presentes dados ao ex-presidente durante missões oficiais. Entre os objetos, há relógios, duas estátuas douradas — uma de barco e outra de palmeira — e um kit de joias que continha caneta, anel, abotoaduras e um rosário árabe.

No inquérito, a PF destaca que Bolsonaro recebeu os itens "na condição de chefe do Estado do governo brasileiro, em compromissos oficiais com representantes de outros países".

O que diz o STF?
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou que dados "indicam a possibilidade" de que o esquema de desvio de presentes recebidos pela Presidência da República ocorreu por "determinação de Jair Bolsonaro".

Detalhes da investigação
A investigação da Polícia Federal sobre a venda de presentes oficiais valiosos dados ao então presidente Jair Bolsonaro aponta que o general Mauro Lourena Cid, pai do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, tinha consigo US$ 25 mil em espécie que seriam do ex-mandatário. Em mensagens, Cid discute com outro auxiliar de Bolsonaro, Marcelo Costa Câmara, como seria a melhor forma de entregar o dinheiro ao ex-presidente. Para Cid, seria melhor evitar utilizar contas bancárias.

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