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Cloroquina

Bolsonaro violou regras do Facebook para Covid ao menos 29 vezes em 2021, mas não foi punido

Segundo Agência Lupa, Bolsonaro promoveu conteúdos sobre curas e métodos de prevenção da Covid-19 sem comprovação científica

Live de Jair BolsonaroLive de Jair Bolsonaro - Foto: Reprodução/Facebook

O presidente Jair Bolsonaro violou a política do Facebook sobre Covid-19 ao menos 29 vezes neste ano, 22 delas em suas lives às quintas-feiras. Mas, ao contrário do que fez em outros países, a plataforma não removeu nem marcou nenhum desses conteúdos.
 
Segundo levantamento da Agência Lupa, nos conteúdos que foram autorizados pelo Facebook, Bolsonaro promoveu curas e métodos de prevenção da Covid-19 sem comprovação científica, desaconselhou o uso de máscara, pôs em dúvida o isolamento social e incentivou aglomeração. As lives de Bolsonaro chegam a alcançar 2,2 milhões de pessoas só dentro do próprio Facebook.
 
Há duas semanas, o Facebook baniu por uma semana um deputado australiano Craig Kelly depois que ele compartilhou tópicos iguais aos disseminados por Bolsonaro. O deputado publicou links para médicos promovendo tratamentos para Covid-19 não comprovados cientificamente. Segundo Kelly, a plataforma apagou seus posts que falavam de cloroquina e ivermectina como curas para a Covid, além de conteúdo dizendo que máscaras são inúteis para crianças.
 
Ao diário britânico The Guardian, um porta-voz do Facebook afirmou: "Não permitimos que ninguém compartilhe desinformação sobre Covid-19 que pode levar a perigo iminente de dano físico. Nós temos políticas claras contra esse tipo de conteúdo e vamos removê-lo assim que tomarmos conhecimento".


Até hoje o Facebook só derrubou um post de Bolsonaro relacionado à pandemia: um vídeo de março de 2020 em que ele cita o uso de cloroquina para o tratamento da doença e defende o fim do isolamento social.


A plataforma já derrubou vários conteúdos do ex-presidente Donald Trump, como posts dizendo que crianças são quase imunes à Covid e que a doença é menos letal que a gripe. Outros que tiveram vários conteúdos removidos foram o ditador venezuelano, Nicolás Maduro, que publicou textos promovendo "gotas milagrosas", e o presidente de Madagáscar, que defendeu um tônico fitoterápico que supostamente curaria a doença.
 
"Parece que as políticas só não valem no Brasil. Era preciso que, ao menos, pusessem um rótulo nas informações do presidente Bolsonaro que violam as regras", diz Natália Leal, diretora de conteúdo da Agência Lupa. "É um contrassenso. O Facebook faz parceria com checadores de fatos, para combater desinformação, mas, ao não cumprir seus próprios padrões da comunidade, contribui para essa desinformação." Os checadores têm uma parceria com a plataforma, mas não podem checar conteúdos de políticos eleitos ou durante campanhas.
 
No ano passado, Twitter, Facebook e outras empresas de tecnologia, como Google, assinaram uma declaração conjunta em que se comprometiam a combater fraudes e desinformação sobre o novo coronavírus.
 
De acordo com os padrões de comunidade da plataforma, o Facebook remove afirmações que negam a existência da doença ou diminuem a gravidade da Covid-19. A plataforma afirma também que remove alegações de que usar máscara pode deixar a pessoa doente, mas foi exatamente isso que fez o presidente Bolsonaro na live do dia 25 de fevereiro, ao mencionar uma "universidade alemã" que teria apontado num "estudo" que máscaras são "prejudiciais a crianças". A pesquisa é distorcida.
 
Outro tópico vetado pelo Facebook seriam alegações de que o número de mortes causadas pela Covid-19 é muito menor do que o número oficial. Em 5 de fevereiro, Bolsonaro disse que "alguns números" da pandemia não são confiáveis.
 
Em sua página, a plataforma informa que vai restringir "alegações de que, para pessoas comuns, algo pode garantir a prevenção contra a Covid-19 ou pode garantir a recuperação da Covid-19 antes que tal cura ou prevenção seja aprovada, incluindo remédios externos para o corpo ou a pele, remédios médicos ou herbais, consumo ou inalação de itens específicos."
 
Essa restrição se aplicaria bem a afirmações do presidente em live do dia 28 de janeiro, assistida por 1,4 milhão de pessoas no Facebook: "Um ano de pandemia, praticamente, né? NENHUM IDOSO (num lar de idosos em Sergipe) TEVE NENHUMA GRIPE SEQUER, e eles FORAM - e continuam sendo - TRATADOS DE FORMA PREVENTIVA com ivermectina, vitamina C, vitamina D e propólis, seguidos de banho de sol duas vezes ao dia" (sic).
 
Como descreve o próprio Facebook em suas regras, as autoridades de saúde pública, como a OMS, dizem que, por enquanto, não há nada que possa garantir a recuperação ou garantir que uma pessoa comum não pegue a Covid-19.
 
Segundo o Facebook, também seriam restritas as alegações de que o distanciamento físico ou social não ajuda a evitar a disseminação da Covid-19. No entanto, foi exatamente isso que disse o presidente em live na plataforma no dia 21 de janeiro, assistida por 2,2 milhões de pessoas.
 
De acordo com a plataforma, "páginas, grupos, perfis e contas do Instagram que repetidamente publicam desinformação relacionada a Covid-19, vacinas e saúde podem enfrentar restrições, incluindo, entre outras, distribuição reduzida, remoção de recomendações ou remoção de nosso site." No entanto, todos esses conteúdos continuam no ar, sem nenhuma restrição.


Um porta-voz do Facebook mandou uma nota em resposta à reportagem: "Nossas políticas proíbem desinformação de Covid-19 que possa causar danos no mundo real e valem para todos. Elas têm sido aplicadas para políticos eleitos ao redor do mundo, inclusive no Brasil".
 
A empresa disse também que "embora sejam proibidas falsas alegações sobre tratamentos sem comprovação e a respeito de recomendações sanitárias como distanciamento social, permitimos discussões sobre os impactos de políticas públicas como lockdowns ou o desenvolvimento de pesquisas científicas".
 
No Facebook, há um entendimento de que o presidente tem evitado usar afirmações taxativas ou tem feito ressalvas imediatamente após suas declarações, o que evita que ele viole os padrões de comunidade.
 
Procurado, o Palácio do Planalto não respondeu ao pedido de entrevista da reportagem.

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