Boulos dá pontapé na pré-campanha em SP, e Nunes encontra Bolsonaro em aniversário da Rota
Dois dos principais candidatos à prefeitura paulistana tiveram compromissos públicos nesta segunda-feira, a um ano da eleição
Os dois principais pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo se encontraram com seus maiores aliados nesta segunda-feira (16), a um ano das eleições. Enquanto o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) se reuniu com o PT e outros três partidos da aliança, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) esteve com o ex-presidente Jair Bolsonaro em uma homenagem aos 53 anos da Ronda Ostensiva Tobias de Aguiar (Rota), o batalhão de elite da Polícia Militar de São Paulo.
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Junto de uma comitiva de peso com deputados estaduais, federais, secretários estaduais e o próprio governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), Bolsonaro foi apresentado no palco da Mansão da Luz, o quartel da Rota no centro da capital, como "eterno presidente da República". Ele não discursou, mas foi aclamado pelo público e deixou o local após o evento, que durou quase três horas.
Nunes chegou atrasado ao evento, permaneceu no palco com Bolsonaro e outras autoridades, mas não teve nenhum encontro reservado com o aliado. Em seguida, enquanto o ex-presidente fez uma passagem-relâmpago pelo Mercado Municipal, ele almoçou com Tarcísio na Prefeitura de São Paulo.
O encontro entre Nunes e Bolsonaro se dá em meio a um vai-e-vem na relação entre os dois. Há meses o ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten tenta selar a aliança do ex-chefe com o prefeito, entre almoços financiados por empresários, gestos e conversas de bastidor.
Nunes tem dado sinais trocados sobre sua disposição em grudar a própria imagem a Bolsonaro, que tem sido acossado pelo noticiário negativo com investigações e condenação na Justiça Eleitoral por ataques à democracia. A hesitação irrita alguns bolsonaristas, que defendem uma candidatura própria do PL para o pleito, por não ver o prefeito abraçando o projeto da direita.
Nesta segunda-feira, um interlocutor de Wajngarten criticou a pouca atenção dada por Nunes a Bolsonaro e destacou o fato de o ex-presidente não ter sido chamado para as agendas do prefeito com Tarcísio.
Em seu discurso, Tarcísio enalteceu a Polícia Militar e parafraseou o ex-prefeito Paulo Maluf ao dizer que, aonde ele vai, escuta a população pedir "Rota na rua" — promessa popularizada por Maluf. Ele também elogiou os soldados que participaram da Operação Escudo, que resultou na morte de 28 pessoas na Baixada Santista, em agosto.
O deputado federal Guilherme Boulos usou o encontro de Nunes com Bolsonaro para se afastar da pecha de radical que ganhou dos adversários.
— Acho muito estranho ver o prefeito e alguns dos meus adversários falando de extremismo, extremismo e extremismo quando falam de mim. Enquanto nós estamos aqui, no lançamento de uma frente de partidos com amplitude e diálogo, o prefeito está lá, cercado pelo (Jair) Bolsonaro. Bolsonaro é moderado? É uma pessoa ponderada, de paz? Não acredito que a sociedade paulistana pense (assim)— discursou o líder sem-teto, que ainda chamou de “ambígua” e “ambivalente” a relação do emedebista com Bolsonaro. — Um dia diz que quer apoio. No outro, fala que não é bem assim, que não o conhece.
Boulos realizou nesta segunda-feira a primeira reunião do conselho político da sua pré-campanha em um hotel no Centro de São Paulo. Estiveram presentes lideranças do PSOL, PT, PCdoB, PV e Rede — todas legendas que apoiarão o deputado no ano que vem.
Boulos, que busca uma aproximação com o centro, começou seu discurso elogiando o legado de ex-prefeitos da cidade, entre eles, o antecessor de Ricardo Nunes, o tucano Bruno Covas, morto em 2021, e Gilberto Kassab, hoje secretário estadual de Governo. Ele ainda comparou o atual chefe do Executivo paulistano a Celso Pitta, um dos prefeitos mais mal-avaliados da cidade em pesquisas de opinião pública.
— Se a gente olhar retrospectivamente, para além do campo de esquerda, do campo popular, nós tivemos muitos prefeitos nessa cidade que deixaram legados. O legado da Luiza Erundina foram os mutirões, a inversão de prioridades para a periferia, a participação social. O legado da Marta Suplicy foram os CEUs, o Bilhete Único, o Vai-e-Volta. Tivemos o legado do Gilberto Kassab, que deixou a Lei Cidade Limpa. O Fernando Haddad depois, que fez o Plano Diretor, internacionalmente premiado, e criou os corredores de ônibus. O próprio Bruno Covas, que foi meu adversário na última eleição, deixou como legado zerar a fila da creche. Qual o legado da gestão Ricardo Nunes? Dobrar a população de rua de São Paulo e espalhar a Cracolândia pelo centro inteiro — disse Boulos.
Sobre seu posicionamento a respeito do conflito entre Israel e Hamas, que rendeu a saída do infectologista Jean Gorinchteyn da sua pré-campanha, Boulos disse que condena de forma veemente ataques a civis, crianças e ataques terroristas, “sejam eles do Hamas ou do governo de extrema direita de Israel”.
O conselho político do deputado se reunirá uma vez por mês e terá duas tarefas prioritárias: ampliar o movimento Salve São Paulo —caravana que está percorrendo a cidade para ouvir a sociedade civil— e montar o plano de governo, que será coordenado pelo deputado Antonio Donato, do PT.
Donato disse que a pré-campanha vai discutir propostas a partir de grupos temáticos, alguns já criados, como o de Educação, Saúde e o que vai tratar da Cracolândia. Entre os nomes confirmados estão o médico Drauzio Varella.
Frente ampla
Além de PT, PV, Rede e PCdoB, Boulos disse que está costurando uma aliança também com o PDT e o Avante. O primeiro já disse publicamente que deve lançar o apresentador de TV José Datena, mas, segundo Boulos, “existe diálogo para eventual composição”.
Sobre a indicação da vice, o presidente do diretório municipal do PT em São Paulo, Laércio Ribeiro, afirmou que ficará para o ano que vem.
— Será um debate tranquilo internamente. Vamos ouvir, inclusive, o presidente Lula — afirmou Laércio, que é coordenador da campanha ao lado de Josué Rocha, ex-coordenador o MTST.
Laércio garantiu, no início da reunião, que Boulos terá o presidente Lula "na campanha em muitos momentos”.
Boulos lidera a corrida à Prefeitura de São Paulo com 32% das intenções de voto, de acordo com uma pesquisa Datafolha divulgada em agosto. Nunes aparece em segundo, com 24%, seguido por Tabata Amaral (PSB), com 11%, e Kim Kataguiri (União), com 8%.
Nesta segunda, Boulos também participará de um jantar de arrecadação de fundos para a pré-campanha. Os convites foram vendidos com valores até R$ 1 mil e terá a presença de artistas, como Zélia Duncan, e empresários.