Braga critica Comandante do Exército por rejeitar plano golpista: 'Oferece a cabeça dele. Cagão'
Ex-ministro da Defesa profere uma série de xingamentos e ofensas contra integrantes da cúpula das Forças Armadas
Mensagens obtidas pela Polícia Federal nos celulares de alvos da operação desta quinta-feira (8) mostram que o general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e vice na chapa de Jair Bolsonaro em 2022, proferiu uma série de xingamentos e ofensas a integrantes da cúpula das Forças Armadas que não aderiram aos planos de golpe de Estado.
Em uma das mensagens, Braga Netto se refere ao general Freire Gomes, então comandante do Exército, como "cagão", e pede para que a cabeça dele seja oferecida.
Os diálogos estão na decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que autorizou a operação realizada nesta quinta-feira pela PF. Procurado, o ex-ministro da Defesa não retornou os contatos.
"O investigado WALTER SOUZA BRAGA NETTO, inclusive, chegou a encaminhar para AILTON GONÇALVES MORAES BARROS mensagem que teria recebido de um 'FE' (Forças Especiais), com a seguinte afirmação: 'Meu amigo, infelizmente tenho que dizer que a culpa pelo que está acontecendo e acontecerá e do Gen FREIRE GOMES. Omissão e indecisão não cabem a um combatente'. Em resposta, AILTON BARROS sugere continuar a pressionar o General FREIRE GOMES e caso insistisse em não aderir ao golpe de Estado afirmou 'vamos oferecer a cabeça dele aos leões'", diz transcrição incluída na decisão do ministro."
Ailton Barros, com quem Braga Netto trocou mensagens sobre Freire Gomes, é um ex-militar, que foi candidato a deputado estadual pelo PL, partido de Bolsonaro.
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Braga Netto foi alvo nesta quinta-feira de uma operação da Polícia Federal que mira na apuração de uma organização criminosa que atuou na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito, para obter vantagem de natureza política com a manutenção de Jair Bolsonaro no poder.
O militar foi alvo de um mandado de busca e apreensão, assim como outros aliados muito próximos do ex-presidente, como Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira, Anderson Torres, Valdemar Costa Neto, Almir Garnier e Tercio Arnaud.
Como revelou a colunista do Globo Bela Megale, Bolsonaro reuniu os chefes das Forças Armadas para apresentar uma minuta golpista no início de dezembro.
Na ocasião, segundo a delação premiada de ex-ajudante de ordens Mauro Cid, o almirante Almir Garnier Santos, então comandante da Marinha, teria dito ao ex-presidente que seus homens estavam prontos para aderir a um chamamento. Já o general Freire Gomes afirmou que não embarcaria em um eventual plano golpista.
O ex-ajudante de ordens disse à PF, de acordo com os relatos feitos ao Globo, que a ideia não foi colocada em prática devido à falta de apoio tanto do general quanto do comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior.
Nos diálogos, Braga Netto ainda profere comentários depreciativos sobre o ex-comandante da Força Aérea Brasileira, o tenente-brigadeiro Baptista Júnior.
Em 15 de dezembro de 2022, em mensagem a Ailton Barros, o ex-general o orienta a atacar Baptista Júnior, a quem adjetivou de "Traidor da pátria". Nas mensagens, ele ainda elogia o ex-comandante da Marinha Almir Garnier.
"As referidas mensagens vão ao encontro, conforme aponta a Polícia Federal, dos fatos descritos pelo colaborador MAURO CID, que confirmou que o então Comandante da Marinha, o Almirante ALMIR GARNIER, em reunião com o então Presidente JAIR BOLSONARO, anuiu com o Golpe de Estado, colocando suas tropas à disposição do Presidente, tudo de acordo com as imagens acima lançadas", diz Moraes.
Moraes aponta, na decisão, que as conversas "evidenciaram a participação e adesão de Braga Netto "na tentativa de golpe de Estado, com forte atuação inclusive nas providências voltadas à incitação contra os membros das Forças Armadas que não estavam coadunadas aos intentos golpistas, por respeitarem a Constituição Federal".
Moraes pontua que a Polícia Federal "traz elementos indicativos da real expectativa que permeava o grupo quanto à permanência no poder", e aponta que os investigadores fazem uma análise "sobre a relação entre os todos os cinco eixos de atuação da organização criminosa que, embora ostentem finalidades específicas, foram utilizados como suporte para verdadeira execução de um golpe de Estado no Brasil".