Logo Folha de Pernambuco

julgamento

Câmara do Rio confirma julgamento de Gabriel Monteiro nesta quinta (18) após negar último recurso

Advogados do youtuber alegam que processo no Conselho de Ética teria falhas e desrespeito a legislações

Vereador Gabriel MonteiroVereador Gabriel Monteiro - Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Vereadores do Rio não aceitou recurso da defesa do vereador Gabriel Monteiro (PL) contra decisão do Conselho de Ética que propõe que o vereador perca o mandato por quebra de decoro parlamentar. A comissão julgou o pedido no início da tarde desta quarta-feira (17).

Com o recurso negado, o vereador será julgado em plenário nesta quinta-feira (18). A defesa de Gabriel Monteiro alegou que o processo no Conselho de Ética teria cometido várias falhas processuais e desrespeitado legislações em vigor. O Conselho de Ética, por sua vez, sustenta que foi dado o amplo direito de defesa nos 128 dias que duraram o processo.

O presidente da Comissão de Justiça e Redação, Inaldo Silva (Republicanos), anunciou, por volta das 14h10, a decisão de não aceitar o recurso de Gabriel Monteiro. "O recurso argumentou que o processo teria vícios jurídicos. Assim como argumentou em maio. Por isso, o recurso foi desprovido", disse Inaldo.

O relator Dr. Gilberto (Podemos) disse que a defesa de Gabriel alegou questões de mérito, o que não cabe nessa fase. A decisão será publicada ainda nesta quarta-feira em edição extra do Diário Oficial da Câmara do Rio.

Alexandre Iesquerdo participou remotamente, mas não votou por estar impedido. Como preside o Conselho de Ética, ele não pôde participar da análise. No entanto, conversou com os demais integrantes e avaliou as condutas de Monteiro.

"Avaliamos todos os ritos do Conselho de Ética. Todos eles seguiram a legalidade", disse Dr Gilberto. O procurador da Câmara, José Luís Minc, explicou que o próximo passo é a publicação na edição extra do Diário Oficial da Câmara o que permitirá o julgamento amanhã.

"Estamos debruçados desde segunda-feira e ficamos até a madrugada na análise do recurso. Com muitas poucas diferenças em relação ao recurso anterior de maio, quando eles também questionaram a legalidade dos atos", disse Dr. Gilberto.

Minc observou que abstenções ou ausências na sessão de amanhã tendem a favorecer Gabriel, já que são necessários 34 votos para aprovar a cassação.

Inaldo acrescentou que uma das questões levantadas seriam divergências ideológicas entre Monteiro e Chico Alencar, o que não se sustentaria. "A comissão aprovou o relatório que propõe a cassação por sete votos a zero".

A comissão tinha até dez dias úteis para deliberar. Os integrantes da comissão não quiseram antecipar o voto para amanhã nem o resultado. "Vou esperar a defesa de Gabriel se manifestar em plenário", disse Inaldo.

Dr. Gilberto brincou: "Será 2 a zero Fluminense", numa referência à partida desta quarta-feira (17) do tricolor contra o Fortaleza pelas quartas de final da Copa do Brasil.

Felipe Michel (Progressistas) adiantou que seu voto será pela cassação. "Eu tenho mulher e duas filhas. Não preciso falar mais nada. Ninguém quer cassar o mandato de um colega. Mas a situação dele tornou a coisa insustentável", disse.

Integrante do Conselho de Ética, Teresa Bergher (Cidadania) também revelou o voto: "Faço questão de votar pela cassacão. Não há dúvidas de que Gabriel quebrou o decoro. Não há condições de ele continuar no cargo", delcarou Teresa, por intermédio de sua assessoria.

Luiz Carlos Ramos Filho (PMN), também do Conselho de Ética, disse que manterá no plenário o voto que proferiu: "É claro que há um constrangimento em qualquer casa legislativa em abrir um processo de investigação contra qualquer parlamentar. Eu defini o meu voto a favor do relatório, pela cassação e vou mantê-lo. O vereador infringiu a ética disciplinar", disse Ramos.

Por sua vez, Jair da Mendes Gomes (Pros), vice-presidente da Comissão da Criança e do Adolescente, preferiu não adiantar o voto. "Mas estarei presente e vou votar", disse. O ex-prefeito e vereador Cesar Maia (PSDB) afirmou que as razões da Comissão de Ética são suficientes. "Voto com a Comissão de Ética".

O líder do governo, Átila Alexandre Nunes, disse que não tem dúvidas: "Por excesso de provas, voto pela cassação dele". O vereador Pedro Duarte (Novo) prefiriu não adiantar o voto, apesar de já ter formado convicção.

Ulisses Marins (Republicanos) diz que ainda está debruçado nos documentos produzidos pelo Conselho de Ética e ainda não definiu o voto. "Mas estarei presente à votação", disse Ulisses.

Procurada, a defesa de Gabriel Monteiro preferiu não se manifestar sobre o resultado.

O relatório

Ao todo, 12 testemunhas foram ouvidas, quatro pela defesa e oito pela acusação. O relatório que pede a cassação toma como base as seguintes questões:

A exposição de duas menores em vídeos de ‘’ações sociais ’’ cujas produções foram manipuladas;

O fato de Gabriel Monteiro ter gravado uma relação sexual que manteve com uma adolescente de 15 anos, ferindo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA);

O episódio em que um morador de rua da Lapa, recrutado sem saber que se tratava de uma ficção para uma produção, foi agredido por um segurança do político.

O texto cita ainda outras questões acessórias, incluídas no documento final apenas para que os vereadores firmem suas convicções. Entre esses pontos estão denúncias de que Gabriel Monteiro cometeu assédio sexual e moral contra vários assessores e havia criado na estrutura de seu gabinete um setor para investigar desafetos políticos, entre os quais os próprios colegas. Um plano que não chegou a ser implantado, segundo uma das testemunhas de acusação, seria tentar expor em vídeos que Gabriel costuma produzir de forma manipulada, um vereador que fosse induzido a receber propina.

A comissão de Justiça e Redação é formada por três vereadores: Inaldo Silva (Republicamos), Dr Gilberto (Podemos) e Alexandre Iesquerdo (União Brasil). Como Iesquerdo preside o Conselho de Ética ele não vai participar da análise.

Apelo nas redes sociais

O caso Gabriel Monteiro mobiliza as redes sociais. O Movimento Feminista do Rio de Janeiro divulgou em seu perfil uma convocação para que mulheres assistam à sessão:

"Os relatos das denúncias são perturbadores para qualquer pessoa que entenda a importância de se proteger mulheres, meninas e trabalhadores.

Ao parlamento carioca: em uma Câmara Municipal que já teve Marielle Franco, Benedita da Silva, Jurema Batista, militantes em defesa dos direitos humanos nas suas fileiras é urgente expulsar Gabriel Monteiro'' diz um trecho do manifesto.

O comunicado relata também as principais denúncias contra Gabriel, inclusive o fato de ele ter filmado a relação sexual que teve com um menor de 15 anos.

O relator do processo no Conselho de Ética, Chico Alencar (PSOL), também postou sobre o tema nas redes sociais chamando o público para acompanhar a votação.

Em seu perfil oficial no Instagram, Gabriel Monteiro também convoca seus seguidores para participar da sessão a partir das 14h.

"Agora eu preciso de vocês. Se acha que meu trabalho não pode parar, te convoco para estar comigo. Venha com seus amigos e familiares, receberei a todos para lutarmos juntos", diz o texto da imagem em montagem com uma foto do vereador.

Confira o ritual estabelecido para a sessão

Às 16h, os trabalhos são abertos caso estejam presentes pelo menos 17 vereadores. O presidente Carlo Caiado (sem partido) informa oficialmente que o pedido de cassação de Gabriel Monteiro está na ordem do dia. Enquanto a matéria não for apreciada, a tramitação de todos os demais projetos está suspensa.

Em seguida, o relator Chico Alencar (PSOL) inicia a leitura do documento aprovado pelo Conselho de Ética na semana passada por unanimidade (sete votos a zero) propondo que Gabriel Monteiro (PL) perca o mandato por quebra do decoro parlamentar. Chico adiantou que planeja ler apenas as partes mais importantes do documento já que o documento integral já foi divulgado pelo Diário Oficial da Câmara.

Os vereadores que desejarem podem pedir a palavra e defender a cassação ou manutenção do mandato de Gabriel Monteiro. Cada um deles tem 15 minutos para falar. Há uma tentativa de acordo para esse tempo ser abreviado e reduzir a duração da sessão. Caso contrário, essa etapa poderia levar mais de 12 horas se todos decidirem se manifestar.

Depois, o microfone é liberado para a defesa se manifestar pelo prazo de até duas horas. Nesta etapa, os advogados e o próprio Gabriel Monteiro podem se revezar em suas alegações.

A etapa seguinte é a votação. Para que ela ocorra é necessário que pelo menos 34 vereadores esteja presentes. Se não houver quórum suficiente, o assunto volta a entrar em pauta na sessão seguinte (terça-feira, dia 23).

Gabriel Monteiro perde o mandato se 34 vereadores (2\3 do plenário) seguirem o relatório. Caso 17 vereadores votem por Gabriel, ele é inocentado. E o processo é arquivado.

Caso o mandato seja cassado, todos os funcionários do gabinete são imediatamente exonerados.

Se Gabriel for cassado, a decisão também é comunicada imediatamente por ofício ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Isso porque a decisão do legislativo também prevê que o politico fique inelegível pelo resto do atual mandato (até 31 de dezembro de 2024) e pelos oito anos seguintes.

O suplente, Matheus Floriano, é oficialmente convocado pelo Diário Oficial da Câmara para tomar posse.

O procurador da Câmara, José Luís Minc, explica que administrativamente não cabe mais recurso porque a decisão do plenário é soberana. Na Justiça, Gabriel poderia apenas questionar eventuais falhas processuais. Segundo Minc, o Supremo Tribunal Federal (STF) já entendeu que o judiciário não pode apreciar apenas a questão do mérito da decisão.

Apesar das regras preverem que Gabriel fique inelegível, uma mudança na Legislação Eleitoral permite que ele participe do processo eleitoral deste ano. Gabriel Monteiro é candidato a deputado federal e mudanças na legislação eleitoral, em 2019, permitem que ele participe do processo e, se eleito, tome posse até que a questão seja analisada em definitivo pelo Judiciário.

Veja também

Militares indiciados pela PF queriam arrastar promotor e deputados para gabinete do golpe
OPERAÇÃO CONTRAGOLPE

Militares indiciados pela PF queriam arrastar promotor e deputados para gabinete do golpe

Governadora Raquel Lyra anuncia licitação para duplicação de trecho da BR-232
PE na Estrada

Governadora Raquel Lyra anuncia licitação para duplicação de trecho da BR-232

Newsletter