Campanha e proximidade motivaram Lula a escolher Gleisi para a chefia da articulação política
Posse da nova ministra está marcada para 10 de março
A escolha de Gleisi Hoffmann para assumir a articulação política do governo foi motivada pela memória que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem do trabalho desempenhado por ela na campanha de 2022, com a montagem de uma frente ampla de partidos, e pelo desejo de reabilitar a imagem da aliada.
Na visão de Lula, Gleisi carrega de forma injusta uma pecha de radical em razão das posições que defendeu no período em que esteve à frente do PT, entre 2017 e 2025, o mais difícil da história do partido.
A sua nomeação para Secretaria de Relações Institucionais será a chance para que a deputada paranaense mostrar que, na verdade, é uma articuladora, de acordo com a opinião expressa pelo presidente a auxiliares.
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Lula tem ainda uma boa impressão do trabalho feito pela nova ministra em 2022, quando foi a coordenadora geral de sua campanha ao Planalto e negociou todas as alianças, tanto no primeiro como no segundo turno.
Lula entende que Gleisi tem densidade política e, por isso, no governo pode fazer novamente um trabalho de costura de alianças com vistas à disputa de 2026.
A nova ministra tem, ainda na visão do presidente, ascensão sobre o PT e pode conduzir as conversas tanto nos planos regionais como estaduais com vista à uma possível reeleição.
Na semana passada, em evento de aniversário do PT, no Rio, Lula fez elogios a Gleisi:
— Graças a Deus o partido compreendeu a necessidade de eleger você (presidente do PT). Não teria ninguém mais capaz. Homem nenhum aguentaria o que você aguentou — disse.
Há também o entendimento no Planalto de que, em função da sensibilidade do posto, é necessário que ele seja ocupado por um nome com relação pessoal com Lula, caso de Gleisi.
A escolha de Lula
O presidente Luiz Inácio Lula Silva anunciou a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR) como ministra das Relações Institucionais. Ela assumirá o cargo no dia 10 de março. Presidente do PT, Gleisi viaja nesta tarde com Lula para a posse do novo presidente do Uruguai, Yamandú Orsi.
Em conversas com auxiliares nos últimos dias, Lula vinha demonstrando preferência pelo nome de Gleisi, que foi ministra da Casa Civil no governo de Dilma Rousseff e coordenou a campanha à Presidência em 2022.
A escolha também abre caminho para resolver a sucessão no PT. O favorito de Lula é o ex-ministro Edinho Silva, mas havia o entendimento no Palácio do Planalto de que era necessário definir o destino de Gleisi antes.
Como mostrou O Globo, integrantes de partidos do Centrão, inclusive ministros do governo, vinham demonstrando contrariedade com a possibilidade de o PT manter o comando da articulação política após a saída de Alexandre Padilha.
O receio era maior especialmente diante da possibilidade de Gleisi assumir o posto, em função da avaliação de que ela não teria um bom trânsito com partidos de centro.
Aliados do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), dizem que há uma concordância na cúpula das duas Casas de que o melhor cenário seria ter um deputado fora do PT para comandar a SRI. No entanto, mesmo ministros ligados aos presidentes das Casas viam em Lula vontade de manter o PT no comando da pasta.
Eram cotados para o posto também o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), o ministro Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos), do Republicanos, e o líder do MDB na Câmara, Isnaldo Bulhões.
Esta é a segunda mudança que Lula faz no Ministério nesta semana. Na terça, o presidente demitiu Nísia Trindade do Ministério da Saúde e escolheu Alexandre Padilha para a vaga.
Quem é Gleisi
Gleisi foi ministra da Casa Civil, de 2011 a 2014, no primeiro mandato de Dilma Rousseff.
A nova ministra foi eleita presidente nacional do PT em junho de 2017, quando ainda era senadora pelo Paraná (2011 a 2019). Foi reeleita para o cargo em 2020.
Críticas a projeto
Nesta semana, Gleisi criticou a "articulação bolsonarista" pela aprovação de um projeto no Congresso americano que proíbe a entrada do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), nos Estados Unidos.
A proposta foi aprovada nesta quarta-feira no Comitê Judiciário da Câmara e foi comemorada por parlamentares aliados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
"A articulação bolsonarista pela lei aprovada num comitê do Congresso dos EUA contra a soberania das decisões do STF no Brasil é um crime de lesa-pátria. O inelegível, seus parentes e foragidos da Justiça brasileira estão desafiando, mais uma vez, as instituições brasileiras e mostrando a quem eles realmente servem: a um país estrangeiro", escreveu Gleisi em um post no X.