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Candidato investigado por elo com PCC diz que usou jargão ao falar que "é 50 vezes mais bandido"

Cláudio Fernando de Aguiar, do Novo, que concorreu à prefeitura do Guarujá (SP), foi alvo de buscas da PF; partido diz que abrirá processo administrativo

À esquerda, o candidato Cláudio Fernando de Aguiar; à direita, foto de Bruno Calixta, o Boy, com o empresárioÀ esquerda, o candidato Cláudio Fernando de Aguiar; à direita, foto de Bruno Calixta, o Boy, com o empresário - Foto: Reprodução/Instagram | Reprodução/Polícia Federal

O empresário Cláudio Fernando de Aguiar, que disputou a eleição para prefeito do Guarujá (SP) no ano passado pelo Novo, foi alvo de buscas da Polícia Federal nesta semana no âmbito de uma investigação que apura a conexão de um grupo que enviava drogas para a Europa com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital ( PCC).

O interesse da PF em Cláudio surgiu a partir de conversas mantidas entre o empresário e Bruno Costa Calixta, conhecido como Boy, que atuava no tráfico internacional e era tido como o “disciplina” do PCC no Guarujá.

Em um áudio encontrado no celular de Boy, Cláudio — cujo contato estava salvo no aparelho do traficante como “Dr Claudio Irmão” — diz ao traficante: “mal sabe ele que a gente é mais bandido que ele 50 vezes”.

As conversas entre os dois foram mantidas entre janeiro e fevereiro do ano passado e tratavam de uma pessoa de nome Cleber que dizia que seu carro havia sido roubado. Cláudio demonstrava desconfiar dessa versão e enviou um áudio a Bruno:

— Brunão, a gente tem que manter ele bem longe. Ele não vê a gente como parceiro não, pô! Ele vê a gente como trouxa, porque ele pensa que eu sou boy, que eu nasci na praia. Mal sabe ele que a gente é mais bandido que ele 50 vezes. Ele não olha pra gente como ‘vamo vencer junto’. Ele olha pra gente como ‘como é que eu faço pra tirar algo’, entendeu? — afirmou o empresário.

Para a Polícia Federal, a declaração é “inapropriada para uma pessoa que pretende concorrer a um cargo público eletivo” e o fato de o empresário ser chamado de “irmão” por Boy permite “inferir algum tipo de ligação” de Cláudio com o PCC, já que o termo é utilizado para se referir a integrantes da facção.

Ao Globo, o empresário afirmou que conhece Boy por terem estudado na mesma escola na infância, e que usou um “jargão” que foi “tirado de contexto”.

— Não tinha como eu dizer ‘eu sou 50 vezes mais inteligente’ —, justificou-se. — Eu tinha certeza que ele (Cleber, a pessoa que disse ter o carro roubado) escondeu o carro, não o considero uma pessoa esperta. Por isso falei aquilo. Foi um jargão tirado de contexto — complementou.

O advogado que representa Cláudio, Rafael Fortes Almeida, acrescentou em nota que seu cliente tentava dizer que Cleber agia “com ‘esperteza’, ‘malandragem’, ‘bandidagem’, e que seria 50 vezes mais que Cleber, visto que esse nunca o enganou”.

Cláudio diz que se colocou à disposição da PF para prestar esclarecimentos e negou que tenha relação com o crime organizado ou que soubesse da ligação de Boy com essa atividade. Segundo o empresário, Boy foi apoiador voluntário de sua campanha a prefeito do Guarujá, sem receber pagamento.

— Para mim foi um susto saber que ele tinha vínculo com esse tipo de coisa. Nunca fumei maconha, nunca vi cocaína. Ele era uma pessoa que eu conheci quando era criança. Em campanha, a gente aceita ajuda de Deus e do diabo. Mas a gente não sabe quem é Deus e quem é o diabo — disse.

A operação da PF deflagrada na terça-feira mirava a atuação de Boy e do hispano-brasileiro Gabriel Martinez Souza, o Fant, tido como um “integrante de alta influência no PCC”.

As investigações descobriram que a dupla enviava drogas para a Europa, em especial para a Albânia, usando mergulhadores que prendiam entorpecentes em barcos que atracavam no Porto de Santos.

Em nota, a Comissão de Ética do partido Novo disse que abrirá um processo administrativo para “apurar os fatos e garantir que todas as medidas necessárias sejam adotadas”.

“O Novo repudia veementemente qualquer desvio de conduta, prática irregular ou falta de transparência por parte de seus filiados, reafirmando seu compromisso intransigente com a ética, a integridade e as normas internas de compliance”, disse a legenda.

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