Ataques

Carros incendiados, gasolina e botijões de gás: como foi a ação de bolsonaristas em Brasília

Polícia investiga responsáveis por atos de vandalismo cometidos por apoiadores de Bolsonaro que deixou rastro de destruição

Ônibus incendiados em BrasíliaÔnibus incendiados em Brasília - Foto: Reprodução/ Twitter

O grupo de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro que tentou invadir a sede da Polícia Federal, em Brasília, na segunda-feira (12), incendiou veículos na capital do país usando uma combinação de gasolina com botijões de gás. Imagens em posse da Polícia Civil do Distrito Federal mostram a ação dos manifestantes, que quebravam os vidros dos carros para jogar o material combustível dentro dos veículos e, em seguida, ateavam fogo.

Um inquérito policial foi aberto para apurar os responsáveis pelos atos de vandalismo que deixaram um rastro de destruição pela região central da capital federal.

Os manifestantes protestavam contra a prisão de um indígena que participava de atos antidemocráticos, após ele fazer ameaças a ministros do Supremo Tribunal Federal e ao presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva. Após um grupo tentar invadir a sede da Polícia Federal para resgatá-lo, a polícia tentou disperar o grupo utilizando balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo. Manifestantes, então, se espalharam e iniciaram os atos de vandalismo.

O Globo obteve acesso a vídeos que compõem um inquérito policial no Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado da Polícia Civil do Distrito Federal para apurar a ação do grupo criminoso que teria praticado os atos.

O material mostra que ao menos dez pessoas invadiram um posto de gasolina, localizado a aproximadamente 500 metros da sede da PF. Nas imagens, os manifestestans, alguns vestindo camisas amarelas da seleção brasileira, aparecem com paus e pedras nas mãos e vão em direção às bombas de gasolina e uma estrutura onde são guardados botijões de gás. Segundo a polícia, porém, o local é utilizado para armazenar os que estão vazios, para serem posteriormente preenchidos com o gás, que é altamente inflamável.

 

Os frentistas do estabelecimento relataram à polícia que a ação dos criminosos durou cerca de 1 hora e 10 minutos. Nesse período, o material retirado do posto foi usado para incendiar três carros e um ônibus nas redondezas do estabelecimento. Apesar de a 5ª delegacia da Polícia Civil do Distrito Federal ficar a menos de 200 metros do local, durante todo o tempo niguém foi preso. A Polícia Militar também não agiu para impedir a ação do grupo no posto.

Uma câmera interna do posto de gasolina mostra um homem despejando gasolina dentro de um veículo estacionado dentro do próprio estabelecimento, a poucos metros de dois tanques de combustível. O carro estava com um botijão de gás em seu interior. Os relógios da câmera marcam 21:34:54 enquanto ele despeja o líquido inflamável. Às 21:41:18, a parte interna do veículo já está pegando fogo e, às 21:46:00, está completamente em chamas.

Os frentistas relataram ainda à Polícia Civil que um carro e uma moto davam suporte aos manifestantes que retiravam o combustível do posto, transportando os galões de gasolina usados para incendiar veículos estacionados em locais mais distantes.

Em outro vídeo, uma funcionária do posto narra uma multidão quebrando um poste, lixeiras e ateando fogo no material depredado. Também mostra um grupo se preparando para incendiar um outro veículo, que em seguida aparece completamente incendiado.

As carcaças dos carros foram recolhidas por um guincho da Polícia Civil e foram levadas para o Instituto de Criminalística da corporação, também no Plano Piloto da capital. No local, havia 8 carros que foram completamente incendiados nos protestos, além da carcaça de um ônibus.

Procurada, a Polícia Civil do Distrito Federal informou que foi instaurado um inquérito policial no Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado para apurar a ação de um grupo criminoso que teria organizado, financiado e praticado atos de vandalismo ocorridos na região central de Brasília na última segunda-feira.

"As investigações foram iniciadas no dia dos fatos e estão em andamento, com a oitiva de testemunhas, análise de imagens e outras diligências, no sentido de que as pessoas que cometeram os crimes sejam identificadas e responsabilizadas", destacou a polícia, em nota.

A ação
Após o indígena ser levado pela PF, cerca de 200 apoiadores de Bolsonaro, portando armas de madeira, foram para a frente da instituição para protestar e atiraram paus e pedras contra o prédio da PF. Vias próximas à sede da corporação, na área central de Brasília, foram fechadas.

Enquanto a PF tentava afastar o grupo, alguns manifestantes passaram a vandalizar carros estacionados nas redondezas e atacaram um ônibus que passava pela avenida W3, próxima à sede da corporação, com pedradas, que atingiram passageiros. Veículos estacionados ao lado de um dos principais shoppings da cidade, em frente à sede da corporação, foram queimados.

Após a PF dispersar manifestantes, parte do grupo se dirigiu para uma área próxima onde o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, estava hospedado. O local fica a menos de 2 km de onde houve a confusão. Como precaução, a PF reforçou a segurança na região e fechou a Esplanada dos Ministérios, via que dá acesso ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal.

O futuro ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, condenou os ataques pelas redes sociais. "Inaceitáveis a depredação e a tentativa de invasão do prédio da Polícia Federal em Brasília. Ordens judiciais devem ser cumpridas pela Polícia Federal. Os que se considerarem prejudicados devem oferecer os recursos cabíveis, jamais praticar violência política", afirmou ele.

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