Castro lembra traição de Witzel e faz promessa de ser liderado por Bolsonaro até finalizar o mandato
Em ato político na Tijuca, governador adota retórica bolsonarista, sugere endurecimento de políticas contra aborto e drogas e fala em "limpar o Rio desses marginais"
O governador do Rio, Cláudio Castro, aproveitou um ato político em apoio à pré-candidatura de seu correligionário Alexandre Ramagem (PL) à prefeitura do Rio, nesta quinta-feira, para fazer juras de fidelidade ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Castro, hoje filiado ao PL, mesmo partido do ex-presidente, relembrou seu antecessor no governo estadual, Wilson Witzel, que foi acusado por Bolsonaro de "traição", e prometeu não seguir o mesmo caminho.
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Castro e Witzel foram eleitos em 2018 na mesma chapa, ambos filiados à época ao PSC. Witzel havia recebido apoio da família Bolsonaro para se eleger governador, mas depois entrou em atrito em meio à pretensão de também concorrer à Presidência.
Ele foi afastado do governo estadual em 2020 e sofreu impeachment meses depois, deixando a cadeira com Castro, que se reelegeu em 2022 dividindo palanque com Bolsonaro.
- Em 2018, você elegeu um governador que depois tentou tomar sua cadeira. Até o último dia do meu mandato eu serei liderado por você no Rio de Janeiro --discursou Castro, se dirigindo a Bolsonaro.
O rompimento entre Bolsonaro e Witzel voltou à tona nesta semana, devido à divulgação do áudio de uma reunião, gravada por Ramagem em 2020, na qual o então presidente critica o então governador do Rio.
Na gravação, Bolsonaro alega que Witzel teria pedido uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) para o juiz Flávio Itabaiana, a pretexto de "resolver" investigações contra seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
Itabaiana era o responsável à época por julgar o caso da "rachadinha", no qual o filho de Bolsonaro foi investigado por desvio de salários de assessores parlamentares.
Castro chegou junto com Bolsonaro ao ato político desta quinta-feira, realizado na praça Saens Peña, na Zona Norte do Rio. Ao iniciar seu discurso, o governador disse que morou no bairro em sua juventude e que lá conheceu Bolsonaro, que também vivia na região.
"Puxar o saco do Mercosul"
O governador se alinhou à retórica bolsonarista no carro de som, com acenos a pautas conservadoras e críticas ao governo Lula (PT). Em seu discurso, Castro voltou a mostrar incômodo com a reação do Itamaraty a uma abordagem da Polícia Militar do Rio contra filhos de um diplomata, que gerou acusações de racismo. Irritado com as críticas à PM, o governador acusou a pasta de Relações Exteriores do governo federal de "puxar o saco do Mercosul" ao não "cortar relações com países" que permitiriam a entrada de armas de fogo no Brasil.
Castro também sugeriu um endurecimento de políticas contra drogas e aborto por parte do governo do Rio. Recentemente, o STF descriminalizou o porte de maconha para uso pessoal, o que gerou críticas do Congresso Nacional, em especial da bancada bolsonarista. Sem se referir explicitamente à decisão da Corte, Castro disse a Bolsonaro, no alto do carro de som, que sua orientação no Rio é que "se tiver com droga, (a polícia) vai prender".
O governador também defendeu regras mais restritivas para o aborto nos casos já previstos pela legislação brasileira, outro tema que está na agenda do Congresso, graças a um projeto apresentado pelo deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) -- que também estava no carro de som com Bolsonaro nesta quinta. A bancada bolsonarista vem atuando para dificultar a realização do aborto nos casos de mulheres vítimas de estupro, posição endossada na fala de Castro.
- Aqui não tem esse negócio de fazer só um "B.O.zinho" (Boletim de Ocorrência) para fazer aborto. Nós defendemos a vida - afirmou Castro.
Em outro momento, o governador também subiu o tom contra aliados do atual prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), que será apoiado por Lula na campanha à reeleição.
Castro fez uma referência a um episódio envolvendo o ex-secretário municipal de Juventude, Salvino Oliveira, que é pré-candidato a vereador pelo PSD e foi agredido nesta quarta-feira na Cidade de Deus.
Salvino alega que tentava conversar com comerciantes insatisfeitos com uma operação integrada das forças de segurança estaduais e da prefeitura do Rio na região, quando foi agredido.
No ato bolsonarista, Castro sugeriu que o aliado de Paes tentava interromper a operação.
- Aqui teve pré-candidato, secretário de prefeito, que levou ovada. Somos contra a violência. Mas aqui no Rio, pré-candidatozinho que é secretário de prefeito não vai parar operação (da polícia). Vamos seguir até limpar o Rio desses marginais - disse o governador.