CGU contraria decisão do GSI de impor sigilo a encontros de Bolsonaro com pastores lobistas do MEC
Em parecer de 2021, órgão defendeu divulgação de registros de entradas e saídas de prédios públicos para evitar 'eventual conflito de interesse'
Responsável por implementar medidas de combate à corrupção e em favor da transparência no governo federal, a Controladoria-geral da União (CGU) estabelece que os órgãos públicos devem dar publicidade aos registros de entrada e saída de pessoas de suas dependências. O entendimento, firmado num parecer elaborado em maio de 2021, contraria a decisão do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) de impor sigilo às informações relacionadas a encontros do presidente Jair Bolsonaro dentro do Palácio do Planalto.
Como O Globo revelou com exclusividade na quarta-feira, o GSI se recusou a informar os dados relacionados a visitas dos pastores Ariton Moura e Gilmar Santos ao Planalto. Eles são acusados de fazer lobby no Ministério da Educação. O GSI alegou que a veiculação dessas informações poderia por a segurança do presidente e de seus familiares em risco e argumentou que o veto está embasado pela Lei Geral da Proteção de Dados Pessoais (LGPD).
Em seu parecer do ano passado, porém, a CGU defende que a divulgação de registros de acesso a prédios públicos tem “um papel relevante no controle social, pois os dados têm potencial de indicar os contatos e as agendas de autoridades públicas, bem como de prevenir eventual conflito de interesse”. Como mostrou na quarta-feira o “Jornal Nacional” da TV Globo, em 2019, portanto antes de a LGPD entrar em vigor, o próprio GSI já disponibilizou a relação de nomes de visitantes do Planalto. De janeiro a setembro daquele ano, o primeiro do governo Bolsonaro, o pastor Arilton Moura foi ao palácio 24 vezes.
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Especialistas ouvidos pelo Globo dizem que os dados negados pelo GSI são de interesse público e, assim sendo, não podem ficar sob segredo.
"A LAI garante acesso a essas informações, pois se referem à circulação de pessoas em um prédio público e foram produzidas e armazenadas por entidades da administração pública", afirma a gerente de projetos da Transparência Brasil, Marina Atoji. "O interesse público da informação se sobrepõe à proteção de dados pessoais — completa.
Autor do livro “Lei de Acesso à Informação: Reforço ao Controle Democrático” , Fabiano Angélico tem entendimento semelhante: "O argumento do GSI é um subterfúgio, ao meu ver, ilegal, inconstitucional e que afronta o princípio da publicidade e desvirtua completamente a lógica por trás das leis de proteção de dados. A LGPD foi feita para proteger o cidadão comum dos governos e das empresas. E não para proteger os poderosos".
Em nota divulgada na quarta-feira à noite, o GSI diz que "ratifica o seu posicionamento de não difundir dados pessoais - de qualquer visitante - registrados em sua plataforma exclusiva e restrita à segurança para o controle de acesso". O ministério ainda alega que "o controle de acesso ao Palácio do Planalto é aplicado aos visitantes, de forma isenta, indistinta e criteriosa, estejam ou não 'ocupando' espaço na mídia" e que se trata de "ferramenta que garante o cumprimento de atribuição legal deste Gabinete, no sentido de proporcionar a segurança das instalações do Palácio do Planalto e de todos os seus servidores"
Embora não tenham qualquer vínculo com a administração, Arilton Moura e Gilmar Santos intermediavam reuniões de prefeitos com o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro. Prefeitos acusaram Moura de pedir propina para destravar verbas no ministério e diziam que ele atuava em parceria com Santos. Acossado pelas suspeitas, Ribeiro deixou o posto, e Polícia Federal abriu um inquérito para investigar o caso. Ambos negam as acusações