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Itamaraty

Chanceler modera postura do Brasil no confronto no Oriente Médio e marca encontro com árabes

A posição do Itamaraty foi entregue por escrito ao Conselho de Segurança da ONU no domingo (16), portanto antes do anúncio de cessar-fogo estabelecido entre Israel e Hamas

Carlos França, ministro de Relações ExterioresCarlos França, ministro de Relações Exteriores - Foto: Gustavo Magalhães/MRE

Em mais uma amostra do pragmatismo do Itamaraty sob Carlos França, o chanceler brasileiro pediu que o Exército de Israel exerça "contenção máxima" no atual conflito na Faixa de Gaza e aceitou receber, nesta sexta-feira (21), uma delegação de embaixadores árabes em Brasília.

A posição do Itamaraty foi entregue por escrito ao Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) no domingo (16), portanto antes do anúncio de cessar-fogo estabelecido entre Israel e Hamas. Naquele dia, o órgão realizou um debate aberto -que inclui a participação de não membros do conselho- sobre a escalada de tensões no Oriente Médio.

O documento traz argumentos que agradam Israel, entre os quais a condenação, pelo Brasil, do "lançamento indiscriminado de foguetes contra centros populacionais israelenses pelo Hamas e outros grupos militantes, que são inaceitáveis e precisam parar imediatamente".

Outro trecho, porém, sobre os "relatos de danos a vidas inocentes e a infraestrutura civil causados por ataques aéreos israelenses", indicam um aceno aos palestinos. "Pedimos que as forças de segurança de Israel exerçam contenção máxima (maximum restraint) e respeitem as leis humanitárias internacionais enquanto exercem seu direito inalienável de autodefesa sob a Carta das Nações Unidas", diz o texto.

As ações do ministro não significam um abandono da linha pró-Israel do governo Bolsonaro, mas indicam postura de moderação em relação à política de apoio irrestrito a Tel Aviv adotada por Ernesto Araújo.

Assim, o Itamaraty também se distancia de manifestação recente do presidente brasileiro, que em mensagens no Twitter sobre a violência no Oriente Médio não fez referência direta aos palestinos.

O apelo por "contenção" no uso da força, como escrito no documento entregue pelo Itamaraty, é criticado pelo governo de Israel. Nesta quinta (20), a Assembleia-Geral da ONU realizou uma sessão sobre a crise na região, e o representante israelense, Gilad Erdan, queixou-se do uso da expressão.

"Vocês [membros da ONU] mais uma vez pedem que Israel exerça contenção diante de centenas de ataques indiscriminados todos os dias. Quero fazer uma pergunta: o que fariam se fosse com vocês, os seus civis sob fogo? Se fosse a sua família correndo para os abrigos antibomba, como a comunidade internacional responderia? Estariam pedindo que ambos os lados mostrassem contenção se foguetes estivessem derrubando casas em Copenhagen e em Paris? Eu acho que não."

Em outro trecho do documento brasileiro, o governo Bolsonaro alega que o potencial despejo de famílias palestinas de Jerusalém Oriental por ordem judicial, inclusive no bairro Sheikh Jarrah, um dos fatores que detonaram a escalada de violência atual, "poderia agravar ainda mais a situação". "Nós achamos bem-vinda a suspensão do julgamento [do processo de despejo] pela Suprema Corte de Israel."

"No centro da atual escalada de violência, há questões não resolvidas que levaram a essa situação: a legítima demanda de Israel por segurança, a legítima aspiração palestina por justiça. Nós apoiamos firmemente o diálogo político como meio para alcançar uma justa e duradoura paz no Oriente Médio, com Israel e Palestina vivendo lado a lado com fronteiras seguras e internacionalmente reconhecidas."

O reconhecimento de ao menos parte das pretensões dos palestinos se afasta da posição de Bolsonaro sobre o tema. Em 12 de maio, o presidente publicou no Twitter que é "absolutamente injustificável o lançamento indiscriminado de foguetes contra o território israelense" e que a "ofensiva provocada por militantes que controlam a Faixa de Gaza e a reação israelense já deixaram mortos e feridos de ambos os lados". "Expresso minhas condolências às famílias das vítimas e conclamo pelo fim imediato de todos os ataques contra Israel, manifestando meu apoio aos esforços para reduzir a tensão em Gaza".

Se as mensagens de Bolsonaro foram comemoradas pelo governo israelense -na quarta, o chanceler de Israel, Gabi Ashkenazi, pediu ao Brasil alinhamento no discurso desta quinta na Assembleia-Geral da ONU-, diplomatas brasileiros, segundo interlocutores, disseram ter sido surpreendidos pelas falas do presidente, o que, na prática, impediu que o Itamaraty soltasse uma nota pública sobre o tema.

Além de um documento considerado mais equilibrado por diplomatas, o chanceler brasileiro também aceitou receber embaixadores da Liga Árabe para um almoço na sexta, no Itamaraty. Durante todo o início da administração Bolsonaro, os embaixadores da Liga Árabe não tiveram interlocução com Ernesto.

Agora, encaram a agenda com França -solicitada na semana passada- como um sinal positivo de abertura com a chancelaria. "Estamos em contato com o Itamaraty sobre os efeitos da agressão contra Gaza, o que resultou no [agendamento de um] encontro em breve com o ministro [Carlos França]", afirmou nesta quinta o embaixador da Liga Árabe no Brasil, Qaís Shqair, em um encontro com jornalistas.

"Nos encontraremos também com os presidentes da Câmara [Arthur Lira] e do Senado [Rodrigo Pacheco] para esclarecermos qual a posição do Brasil sobre o que está acontecendo e transmitir a visão dos países árabes. A posição dos países árabes é conjunta de todos os estados membros [da Liga Árabe], condenando a agressão israelense contra Gaza e condenando as ações de violência contra os civis."

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