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Flávio Rocha

'Chanceler paralelo', almirante assessor de Bolsonaro tem mais viagens ao exterior que Carlos França

Titular da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Rocha tem rodado tanto o mundo quanto o titular do Ministério de Relações Exteriores

Almirante Flávio Rocha Almirante Flávio Rocha  - Foto: Ministério da Defesa/Divulgação

No último dia 7, o secretário especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, almirante Flávio Rocha, voltou a Brasília após uma viagem de 20 dias por 11 países do Oriente Médio e do Leste Europeu. Passou cerca de 24 horas em solo nacional e embarcou em outra missão, dessa vez rumo aos Estados Unidos, para acompanhar o presidente Jair Bolsonaro na Cúpula das Américas.

A sequência de agendas internacionais evidencia que o militar assumiu um papel complementar ao do chanceler, Carlos França, o que tem gerado incômodo em integrantes do governo. Titular da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) desde 2020, Rocha tem rodado tanto o mundo quanto o titular do Ministério de Relações Exteriores — algumas vezes na companhia do presidente; outras, sozinho.

Desde abril de 2021, quando França tomou posse no Itamaraty, Rocha fez 21 viagens internacionais, enquanto o chanceler realizou 19 no mesmo período. Em oito dessas ocasiões, os dois estavam juntos com Bolsonaro. As andanças internacionais de Rocha têm incomodado alguns ministros. Para eles, as viagens extrapolam os limites do posto que ele ocupa. Entre as atribuições da SAE está “propor estratégias para a formulação de políticas” em diferentes áreas, inclusive relações exteriores, defesa e segurança. Procurados, a SAE e o Itamaraty não se manifestaram.

O giro por países árabes e europeus foi a viagem mais ambiciosa até aqui do almirante, que esteve acompanhado do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente. Os dois passaram por Arábia Saudita, Egito, Iraque, Hungria e República Tcheca e se reuniram com representantes de governo locais, principalmente nas áreas de Defesa, além de empresários. A espécie de atuação paralela de Rocha não parece incomodar o chefe. A viagem com Eduardo Bolsonaro foi elogiada pelo presidente. Ele chegou a dizer que o titular da SAE deveria dar uma entrevista a jornalistas sobre temas tratados durante a missão e destacou conversas sobre o avião militar KC-390, um dos principais produtos da Embraer.

— O Rocha esteve agora em 15 dias pelo mundo árabe — disse Bolsonaro a jornalistas na última segunda-feira.

— Tem que fazer uma coletiva com vocês sobre a ida dele ao mundo árabe. Não foi apenas o KC-390, que é um cartão de visita que muitos países querem comprar.

Em quatro oportunidades, Rocha e França embarcaram juntos ao exterior, mas sem a companhia do presidente: visitaram Portugal, Angola, Peru e Colômbia, para representar o Brasil em eventos oficiais. As viagens que fizeram tinham motivações diferentes. Em datas distintas, os dois foram para Moscou, por exemplo, nos meses anteriores à visita de Bolsonaro ao país. Rocha também já teve encontros com autoridades militares de Turquia e Reino Unido, entre outros compromissos fora do país.

O Almirante assumiu uma importância maior no governo após a saída de Ernesto Araújo do comando do Itamaraty. Também ocupou um vácuo deixado por Filipe Martins, responsável por assessorar Bolsonaro em assuntos externos e que perdeu espaço no governo. Como Carlos França trabalhava no cerimonial do Planalto, ele e Rocha mantinham uma boa relação.

Distanciamento

Segundo um interlocutor do governo, porém, França e Rocha se distanciaram recentemente porque o chanceler não estaria aprovando a agenda internacional do almirante, cumprida sem uma coordenação prévia com o Itamaraty. Um integrante da área diplomática minimiza a divergência e nega haver qualquer ruído. Ainda segundo um desses interlocutores, o almirante trata de questões diretamente relacionadas a Bolsonaro, enquanto França é o executor da política externa. O chanceler costuma dizer que quem formula as diretrizes é o presidente.

Pessoas próximas tanto a Rocha quanto ao chanceler afirmam que a função do almirante se assemelha ao que fazia Marco Aurélio Garcia, então assessor para assuntos internacionais do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Havia muita especulação sobre um clima de disputa entre Garcia e o ex-chanceler Celso Amorim, sempre negado oficialmente por ambos. No caso do governo do petista, havia algumas particularidades. Garcia também tratava das relações políticas, com partidos do mundo todo. Articulou a criação do “grupo de amigos da Venezuela”, em 2003, para tentar solucionar uma crise política no país vizinho.

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