Cid disse em audiência de delação que repassou a Bolsonaro dados de monitoramento de Moraes
Ministro do STF Alexandre de Moraes retirou o sigilo dos depoimentos do tenente-coronel à Polícia Federal
Em seu acordo de delação premiada, o tenente-coronel Mauro Cid afirmou que recebeu e repassou ao ex-presidente Jair Bolsonaro dados sobre o monitoramento do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes no fim de 2022. Na época, Cid era ajudante de ordens de Bolsonaro.
Segundo as investigações da Polícia Federal, Moraes estava sendo seguido por assessores presidenciais como parte de um plano para dar um golpe de Estado e evitar a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que havia ganhado as eleições naquele ano.
— O último monitoramento, a gente faz aquela brincadeira, né, professora tal, foi... essa aí foi o presidente que pediu. Essa aí foi o próprio presidente que pediu — disse Cid.
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Os vídeos do depoimento de Cid foram revelados nesta quinta-feira após Moraes retirar o sigilo do processo. Nesta terça-feira, a Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou Bolsonaro, o ex-ministro Braga Netto e mais 32 pessoas por participação em uma trama golpista para mantê-lo no poder. A denúncia foi oferecida pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, e será apreciada pela Primeira Turma da Corte.
Desconfiança de Mourão
Em sua colaboração, Cid explicou que o monitoramento de Moraes foi determinado pelo ex-presidente porque ele desconfiava que o ministro do Supremo estava se encontrando com então vice-presidente Hamilton Mourão, que hoje é senador.
— Um dos motivos foi o fato de que o então presidente havia recebido uma informação de que o general Mourão estaria se encontrando com o ministro Alexandre de Moraes em São Paulo. Que foi uma maneira de verificar se essa informação era verdadeira ou não — afirma Cid na delação.
Este depoimento foi prestado na presença de Moraes, que perguntou se não seria mais fácil olhar a agenda do então vice-presidente. Cid diz que isso também foi feito.
— O presidente recebia muita informação não confirmada, muitos informes pelo celular dele. E pelo perfil dele, já ficava nervoso, irritado e mandava verificar. Às vezes, ele (Bolsonaro) aloprava — disse Cid na audiência.
No primeiro depoimento, a PF ainda indagou ao tenente-coronel se havia outro motivo para o acompanhamento de Moraes, já que os passos dele foram seguidos ao longo de todo o mês de dezembro de 2022.
Cid, então, respondeu que "desconhecia" outra razão, "que o então presidente não passou ao colaborador o motivo". As informações sobre as movimentações do ministro do Supremo foram fornecidas a Cid pelo ex-assessor de Bolsonaro Marcelo Câmara. Nas mensagens trocadas entre Cid e Câmara, Moraes é chamado pelo codinome "professora".