Logo Folha de Pernambuco

EX-AJUDANTE DE ORDENS

Cid reforçou a Moraes que Bolsonaro sabia da minuta golpista e sugeriu alterações no documento

Disposição de ex-ajudante de ordens em prestar novos esclarecimentos foi crucial para manutenção de acordo de colaboração firmado com a PF

Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), deixa o Supremo Tribunal Federal, em Brasília, no Distrito Federal, após prestar depoimento para Alexandre de MoraesMauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), deixa o Supremo Tribunal Federal, em Brasília, no Distrito Federal, após prestar depoimento para Alexandre de Moraes - Foto: Luis Nova/Fotoarena/Estadão Conteúdo

O ex-ajudante de ordens Mauro Cid reafirmou, em depoimento prestado ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que o ex-presidente Jair Bolsonaro sabia da minuta golpista e sugeriu alterações no documento. Ao longo da audiência, na quinta-feira, o magistrado quis saber se Bolsonaro tinha pleno conhecimento dos termos da minuta, o que foi confirmado por Cid.

A disposição do tenente-coronel em prestar novos esclarecimentos foi crucial para Moraes manter a validade do acordo de colaboração premiada firmado com a Polícia Federal.

"Após três horas de audiência, o ministro Alexandre de Moraes confirmou a validade da colaboração premiada de Mauro Cid. O ministro considerou que o colaborador esclareceu as omissões e contradições apontadas pela Polícia Federal. As informações do colaborador seguem sob apuração das autoridades competentes", informou o gabinete de Moraes.

 

Na primeira manifestação após o indiciamento, Bolsonaro criticou Moraes em declaração ao portal Metrópoles. Em entrevista ao GLOBO há duas semanas, ele disse que houve debates sobre a decretação de um estado de sítio no país, mas afirmou que “não é crime discutir a Constituição”.

Ao longo da investigação, a PF apontou que, sob o mando de Bolsonaro, oficiais das Forças Armadas, ministros do seu governo e assessores participaram de reuniões na qual discutiram a possibilidade de dar um golpe de Estado, que, segundo a PF, não se concretizou porque não teve o aval dos então comandantes do Exército e da Aeronáutica.

O general Marco Antônio Freire Gomes e o brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, chefes das respectivas Forças, prestaram depoimento à PF no qual relataram que Bolsonaro apresentou um documento que previa as hipóteses de instaurar Estado de defesa ou de sítio, além de dar início a uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO).

"Em outra reunião no Palácio da Alvorada, em data em que não se recorda, o então presidente Jair Bolsonaro apresentou uma versão do documento com a decretação do estado de defesa e a criação da comissão de regularidade eleitoral para 'apurar a conformidade e legalidade do processo eleitoral'", diz o registro da oitiva de Freire Gomes à PF.

O encontro, de acordo com as investigações, ocorreu no Palácio da Alvorada, no dia 7 de dezembro de 2022 — após Bolsonaro ter sido derrotado nas urnas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Reunião na casa de Braga Netto
No depoimento, o militar também confirmou a realização de uma reunião na casa do ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto para tramar um golpe de Estado. Segundo relatório da PF, o apartamento do general do Exército foi usado para uma reunião no dia 12 de novembro de 2022.

Após o encontro, segundo a investigação, militares das forças especiais, os “kids pretos”, começaram a monitorar Moraes como parte de um plano que previa os assassinatos dele, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do vice Geraldo Alckmin. Braga Netto consta como um dos indiciados no inquérito do golpe.

Em uma mensagem posterior ao encontro, por exemplo, o então assessor especial da Presidência Marcelo Câmara descreve para Cid qual seria a rota utilizada por Moraes para participar da diplomação de Lula, em 12 de dezembro.

No depoimento de mais de duas horas, Cid foi questionado sobre o plano para matar autoridades, investigado pela PF, mas voltou a negar participação. Em depoimento prestado na sede da corporação na terça-feira, o tenente-coronel já havia afirmado desconhecer um plano golpista que incluía os assassinatos.

Sobre Braga Netto, Cid detalhou toda a reunião, e confirmou as descobertas feitas pela PF que implicam diretamente o general nos planos golpistas. O general foi ministro da Casa Civil e da Defesa durante o governo Bolsonaro e deixou o posto para se candidatar a vice na chapa do ex-presidente, em 2022.

Veja também

Eduardo Paes e Sérgio Moro protagonizam bate-boca virtual: "Recolha-se a sua insignificância"
DISCUSSÃO

Eduardo Paes e Sérgio Moro protagonizam bate-boca virtual: "Recolha-se a sua insignificância"

Advogado de Mauro Cid diz que Bolsonaro tinha conhecimento do plano de golpe
OPERAÇÃO CONTRAGOLPE

Advogado de Mauro Cid diz que Bolsonaro tinha conhecimento do plano de golpe

Newsletter