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ANIVERSÁRIO

Com 25 anos de fundação, a Folha de Pernambuco é filha de uma dor

Não é fácil montar um jornal. Mais difícil ainda é mantê-lo. Com 25 anos, o sonho de Eduardo Monteiro virou patrimônio vivo e imortal de Pernambuco

Eu e minha Nayla Valença na festa da Folha, com Eduardo Monteiro e Claudia PortelaEu e minha Nayla Valença na festa da Folha, com Eduardo Monteiro e Claudia Portela - Foto: Paullo Allmeida

Já de volta a Brasília, em 1998, vivia uma daquelas tardes secas de deserto, quando me chega a notícia, dada por ele próprio, Eduardo Monteiro, o homem que exala cheiro de açúcar, mas que, ao passar pela experiência de arrendatário do Diario de Pernambuco, contaminou suas narinas com outro cheiro, o da tinta de jornal.

Me dizia já ter data para jogar nas ruas o alarido das manchetes da sua Folha de Pernambuco. Eduardo me parecia o personagem de Clarice Lispector. No seu anúncio, juro que havia no seu rosto sério uma alegria até mesmo divina para dar a notícia. Num trecho da música Notícia de jornal, Chico Buarque canta que a dor da gente não sai no jornal.

Não havia saído no jornal a dor de Eduardo, a dor de ter escapado das suas mãos o controle do Diario de Pernambuco, o jornal mais antigo em circulação na América Latina, já bicentenário. Com a sua dor, surgiu o seu próprio jornal há 25 anos, em 3 de abril de 1998. De Brasília, vim ao Recife conhecer as rotativas e sonhar junto com Eduardo. Sonhar juntos é semear as canções no vento.

Cuidando de usina, depois de gerir banco ainda quase imberbe, Eduardo não sabia, mas parece que havia lido Joaquim Nabuco, que disse que, atrás do jornal, não vemos os escritores, compondo a sós o seu artigo. O que vemos são as massas que o vão ler e que, por compartilhar das notícias, as repetirão como se fosse o seu próprio oráculo.


Quebra de tabu e novo paradigma

Eduardo queria um jornal para falar com as massas. A Folha cumpre esse propósito. Abriu um paradigma. Mais do que isso, quebrou um tabu que parecia impossível: o fim da dicotomia entre os gigantes Diario de Pernambuco e Jornal do Commercio. A Folha nasceu para excitar a curiosidade. Está à mesa dos pernambucanos. É um desjejum prazeroso. Como a célebre frase do pensador Juahrez Alves, a Folha cumpre seu papel da boa imprensa - ser a voz dos oprimidos, o terror dos malfeitores.

Não é fácil montar um jornal. Mais difícil ainda é mantê-lo. Com 25 anos, o sonho de Eduardo virou patrimônio vivo e imortal de Pernambuco. Eduardo é um homem além do seu tempo: aguerrido, obstinado, firme como uma rocha em tudo a que se propõe.

A voz dos pernambucanos

Muitas vezes, a vida de Eduardo foi cheia de altos e baixos, um caminho estreito, sem volta, cheio de curvas, num contraste de cores sem explicação. Viu e pisou em espinhos com muitos desafios, que nunca se transformaram em obstáculos. Muitas vezes, achou que não ia conseguir. Mas Deus lhe deu coragem. Passou por cima de tudo para fazer da sua Folha a voz dos pernambucanos.

No jornalismo, seu objetivo sempre foi muito claro: trazer para a sociedade uma justiça imparcial. Causar nela indignação, vontade de reivindicar, exigir, ir à luta, lutar. Trazer a verdade como um banquete especial de fim de ano! Tornar o jornalismo raso escasso e buscar o complexo para o povo, o que é arriscado de cutucar.

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