Com apoio do PT, Tarcísio aposta no "homem de Valdemar" para presidir a Alesp
No quarto mandato como deputado estadual, André do Prado deve quebrar tradição tucana na Casa com ajuda do PT
Quando o painel eletrônico da Assembleia Legislativa de São Paulo registrar a computação dos votos para a nova Mesa Diretora, em 15 de março, uma tradição de 28 anos deve ser quebrada.
Desde 1995, com Ricardo Tripoli, apenas parlamentares do PSDB presidem o Legislativo paulista, com duas exceções: Paulo Kobayashi (1997-1999), do PTB, e Rodrigo Garcia (2005-2007), então no PFL. Desta vez, André do Prado (PL) pode pôr fim à era tucana.
Da base do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), Do Prado tem apoio de quase todos os partidos da Casa; deve enfrentar oposição apenas do PSOL e sua bancada de cinco deputados. O PT, maior adversário do PL do ex-presidente Jair Bolsonaro, deve contribuir com 20 votos.
Ele é descrito por seus pares como discreto, simpático e pouco atuante em plenário. Alguns o definem como “baixo clero” e “centrão raiz”. Outros, como “o homem do Valdemar na Alesp”, em referência ao cacique do partido, Valdemar da Costa Neto, político que abrigou o então presidente Jair Bolsonaro em sua legenda e é conhecido por sua atuação fisiológica na política.
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Ex-prefeito de Guararema (SP) e deputado no quarto mandato, Do Prado foi eleito em 2010 numa coligação do minúsculo PR (hoje PL) com o PT. Naquele ano, os dois partidos, então aliados, somavam 25 das 94 cadeiras na Casa.
Hoje, antagonicamente separados na polarização Lula-Bolsonaro, correspondem a 39 vagas. O fato de representar a segunda maior bancada, repleta de neófitos e bolsonaristas sem articulação, e de ser aliado do governador, rendeu a Do Prado o crédito para pleitear a presidência.
Irmão de bolsonaro
Sob os holofotes do novo cargo, Do Prado terá de lidar com polêmicas pouco lembradas em sua discreta atuação até hoje. O SBT revelou em 2016, por exemplo, que o deputado empregava como funcionário fantasma Renato Bolsonaro, irmão do então deputado federal Jair Bolsonaro. Renato recebia um salário de R$ 17 mil por uma função de assessor especial parlamentar, apesar de não comparecer ao trabalho, e foi exonerado após a publicação da reportagem. Ele ficou no cargo de fevereiro de 2013 a abril de 2016.
Procurado para comentar o assunto, o deputado não respondeu. Em novembro de 2017, o promotor de Justiça Luiz Ambra Neto entendeu que a ausência de Renato Bolsonaro na Alesp não inviabilizava que ele executasse as funções inerentes ao cargo público e arquivou o caso.
Do Prado tem um histórico de proposições parlamentares de baixo impacto. Dos 206 projetos de lei propostos em 12 anos na Alesp, 184 se dedicam a rebatizar vias públicas como trechos de rodovia, instituir datas comemorativas, como o “Dia do Podólogo”, ou reclassificar municípios para lhes atribuir certificações turísticas.
Do Prado é forte aliado do deputado federal Márcio Alvino, que o sucedeu como prefeito em Guararema. Alvino era sócio de Valdemar em uma empresa de mineração sediada no mesmo município.
Para o deputado Delegado Olim (PP), Do Prado fará uma presidência diferente das demais por não ser filiado ao mesmo partido do governador, como era nas gestões passadas. Ele critica os presidentes anteriores por serem “chancela do governo”.
— Acho que o governador vai ter que respeitar a Alesp. E vai ser bom, porque estamos acostumados a sempre ser governo. Vai ser mais independente do que era — diz Olim.
Na última semana, André Do Prado se dedicou a receber as lideranças partidárias da Assembleia e a negociar espaços na Mesa Diretora e em outras comissões, em troca dos votos. A maior pressão vem do PT, eleita a maior bancada, que deve manter a 1ª secretaria.
Outras demandas do partido envolvem limitar o poder do relator especial, cargo que reduz a importância de órgãos colegiados. A sigla também pretende comandar a Comissão de Constituição e Justiça e de Finançase audiências públicas para debater o orçamento, e pleiteia participação mais equânime nas comissões.
Os petistas estão otimistas com Do Prado na presidência. Eles argumentam que a relação com os tucanos era difícil, e que o deputado do PL agora dará mais espaço ao partido. O sentimento, no entanto, não é compartilhado em toda a esquerda. O PSOL deve concorrer com uma candidatura independente para marcar oposição ao governo Tarcísio.
— Além da Alesp continuar sendo um puxadinho do Palácio dos Bandeirantes, o PL é o partido do Bolsonaro, responsável pelos ataques à democracia. Inconcebível qualquer tipo de aliança — diz o deputado Carlos Giannazi (PSOL), que pleiteia a candidatura contra Do Prado.