Com Bolsonaro em ato com ameaças golpistas, Mourão diz que não há clima para impeachment
Um dia após participar de manifestação de raiz golpista no feriado de 7 de Setembro, o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) disse que não há clima no Congresso para aprovar o impeachment de Jair Bolsonaro (sem partido).
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O general da reserva classificou como "expressiva" a adesão da população aos protestos promovidos por Bolsonaro.
"Não vejo que haja clima para ao impeachment do presidente. Clima tanto na população, como um todo, como dentro do próprio Congresso", disse o vice.
As ameaças golpistas do presidente devem aumentar a reação ao governo no Congresso. O pós-7 de Setembro também teve como efeito colateral um aquecimento das discussões de impeachment nos partidos de centro.
"Acho que o nosso governo tem a maioria confortável de mais de 200 deputados lá dentro. Não é maioria para aprovar grandes projetos, mas é capaz de impedir que algum processo prospere contra a pessoa do presidente da República", completou.
Mourão também cobrou medidas para "distensionar" a relação de Bolsonaro com o Judiciário. Para o vice, a saída é passar para a PGR (Procuradoria-Geral da República) a condução de inquéritos hoje relatados pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
"Houve uma concentração expressiva da população brasileira (nos atos). É uma mudança. As ruas sempre foram domínios dos segmentos de esquerda", disse Mourão.
O vice não quis comentar o teor dos discursos de Bolsonaro nos protestos.
Em falas diante de milhares de apoiadores na terça-feira (7) em Brasília e São Paulo, Bolsonaro fez ameaças golpistas contra o STF, exortou desobediência a decisões da Justiça e disse que só sairá morto da Presidência da República.
Moraes, do STF, foi o responsável por decisões recentes contra bolsonaristas que ameaçam as instituições. O ministro tem agido a partir de pedidos da PGR (Procuradoria-Geral da República), sob o comando de Augusto Aras, indicado por Bolsonaro, e da Polícia Federal, órgão subordinado ao presidente.
"A gente precisa distensionar (com o Judiciário). Acho que existem cabeças ali dentro que entendem que isso foi além do que era necessário. Conversando a gente se entende", disse Mourão.
O vice estimou 150 mil presentes no ato em Brasília, que ele acompanhou ao lado de Bolsonaro. Para o general da reserva, um público "ao redor desse número" também esteve nas manifestações feitas no Rio de Janeiro e em São Paulo.
"Na minha visão existe um tensionamento, principalmente entre o Judiciário e o Executivo. Eu tenho a ideia muito clara que o inquérito que é conduzido pelo Moraes não está correto. O juiz não pode conduzir o inquérito. Acho que tudo se resolveria se o inquérito passasse para mão da PGR e acabou", disse Mourão.
As declarações foram feitas antes de o vice embarcar com embaixadores para a Amazônia.
A atual crise institucional, patrocinada por Bolsonaro, teve início quando o presidente disse que as eleições de 2022 somente seriam realizadas com a implementação do sistema do voto impresso –essa proposta já ter sido derrubada pelo Congresso.
O STF analisa atualmente cinco inquéritos que miram o presidente Jair Bolsonaro, seus filhos ou apoiadores na área criminal. Já no TSE tramitam outras duas apurações que envolvem o chefe do Executivo.
Apesar de a maioria estar em curso há mais de um ano, essas investigações foram impulsionadas nas últimas semanas após a escalada nos ataques golpistas do chefe do Executivo a ministros das duas cortes e a uma série de acusações sem provas de fraude nas eleições.
Anunciado por Bolsonaro nos últimos dois meses como uma espécie de tudo ou nada para ele, as manifestações do 7 de Setembro podem ampliar o seu isolamento político, no momento em que, de olho em 2022, depende do STF e do Congresso para a liberação de recursos e aprovação de projetos.
Ao mesmo tempo em que perde capital político com a crise entre os Poderes, intensificada por seus ataques ao Judiciário, a alta da inflação e a crise energética se colocam como novos obstáculos para o projeto de sua reeleição no ano que vem.
Bolsonaro usou toda a estrutura da Presidência para os atos com ameaças golpistas, tanto no deslocamento entre São Paulo e Brasília como em sobrevoos em helicópteros na Esplanada e na Paulista.
Segundo a Polícia Militar de São Paulo, 125 mil pessoas participaram do ato na avenida Paulista, que recebeu caravanas de bolsonaristas vindos de outros estados –os organizadores esperavam 2 milhões de pessoas no ato de SP. Todas as 27 capitais registraram manifestações em defesa do governo.
Como o próprio Bolsonaro já disse, ele buscava nesses protestos uma foto ao lado de milhares de apoiadores para ganhar fôlego em meio a uma crise institucional provocada pelo próprio, além das crises sanitária, econômica e social no país.