Com força-tarefa de restauração, STF se prepara para reabrir plenário 1º de fevereiro
Boa parte do acervo foi destruída, mas também já passam pelo processo de reconstrução
A uma semana do início do ano judiciário, o Supremo Tribunal Federal (STF) começa a voltar à normalidade depois dos ataques terroristas de 8 de Janeiro. O plenário — local mais destruído da Corte — já está com peças simbólicas recolocadas, como o painel de mármore de Athos Bulcão e o Brasão da República. Mas, ao mesmo tempo, uma força-tarefa trabalha em ritmo intenso para concluir a reabertura do prédio até 1º de fevereiro.
Funcionários de limpeza, equipes terceirizadas e um grupo de arquitetos, marceneiros, vidraceiros e restauradores se revezam para recolocar de pé o que foi danificado pelos vândalos.
No dia 8 de janeiro, os manifestantes picharam com batom a frase "Perdeu, mané" na escultura “A Justiça”, de Alfredo Ceschiatti, que fica diante do prédio e Themis, deusa grega da Justiça, com seus olhos vendados, simbolizando o tratamento igualitário dado a todas as pessoas.
A frase era uma referência à declaração do ministro Luís Roberto Barroso a um bolsonarista que o hostilizou em Nova York. Nesta quarta-feira, a estátua passou por mais uma lavagem pela equipe de limpeza do STF.
Leia também
• "Jamais questionei o resultado das eleições", diz Torres ao STF
• STF passa a investigar a deputada pernambucana Clarissa Tércio por incitação de atos golpistas
• PF faz operação para identificar e prender golpistas que invadiram Planalto, Congresso e STF
Como resultado da invasão do prédio do Supremo, os carpetes, as cadeiras, as mesas dos ministros, os computadores, televisores e câmeras de segurança ficaram destruídos, sujos e quebrados. O quebra-quebra também se alastrou por áreas contíguas à sala onde ocorrem os julgamentos: pelo salão branco, onde havia uma galeria de fotos dos ministros, e pelo hall dos bustos, local reservado às esculturas de ministros aposentados e juristas homenageados.
Boa parte deste acervo foi destruída, mas também já passam pelo processo de reconstrução.
No plenário, até o momento, além do icônico painel do artista plástico Athos Bulcão e do brasão da República, o crucifixo que compõe o ambiente, já foi restaurado e deve voltar ao seu lugar de origem nos próximos dias.
O local também já passou pela troca dos vidros, sanitização dos carpetes, restauração das cadeiras de couro dos ministros, das poltronas reservadas ao público, e as bancadas dos magistrados foram refeitas pela marcenaria do próprio STF. Alambrados de madeira que compõem o teto do plenário, conferindo ao ambiente uma acústica adequada, também estão sendo restaurados e polidos.
Atualmente, uma equipe de sete restauradores trabalha no projeto, chefiando outros seis restauradores juniores. Todo o trabalho pode ser acompanhado de longe através da praça dos Três Poderes, que deixa à mostra o canteiro de obras que a sede do Supremo, toda de vidro e mármore, se transformou desde os atentados. Em meio aos trabalhadores implicados nas obras, membros da equipe de segurança da Corte, da polícia judicial, completam a paisagem.
Para a recuperação do patrimônio, todas as contratações foram feitas em caráter emergencial, sem licitação, incluindo a compra de novas togas para os onze ministros, no valor de R$ 17 mil. As vestimentas usadas pelos magistrados nas sessões de julgamento e nas solenidades, que estavam guardadas em armários localizados ao lado do plenário, foram queimadas pelos invasores.
Desde a data do atentado, um gabinete extraordinário para a reconstrução da sede se reúne diariamente para acompanhar o andamento das obras. Um levantamento feito pela equipe do museu do Supremo a que o Globo teve acesso, com data de 15 de janeiro, dá conta de 35 peças consideradas na condição de "perda total", ou seja, estavam com 50% ou mais de dano.
Depois de concluído o resgate do plenário e do andar térreo, a restauração do Supremo passará por outras duas etapas. A próxima contempla o Salão Nobre – local em que os ministros recebem chefes de Estado estrangeiros – a Diretoria-Geral e o gabinete da Presidência, que também foi bastante danificado. Bandeiras foram queimadas e até a cadeira usada pela presidente foi destruída. Por enquanto, a ministra Rosa Weber está despachando em um gabinete do edifício anexo à sede do STF.
No dia 1, além da reabertura do plenário, a ideia é que a solenidade de reabertura do Judiciário seja um ato em desagravo ao STF, com a presença dos chefes de outros poderes. A expectativa é que Rosa, cujo discurso de posse, em setembro, fez uma defesa firme da democracia e das instituições, volte à carga no tema.