Com narração de rodeio, PL apresenta Bolsonaro como 'capitão do povo'
Evento de lançamento da pré-candidatura, posteriormente reformulado como ato de filiação, não teve lotação completa
Quem chegava, na manhã deste domingo (27), ao Centro Internacional de Convenções do Brasil, no setor de clubes de Brasília, se deparava com um outdoor apresentando o presidente Jair Bolsonaro como "Capitão do Povo", acompanhado de uma foto dele cumprimentando apoiadores. Do outro lado, um segundo painel destacava Bolsonaro como defensor do "grande dom da liberdade", "pelas mãos de Deus".
O tom escolhido pelo PL não deixava dúvidas de que tratava-se do lançamento da pré-candidatura do presidente. Com receio de violar a legislação eleitoral por propaganda antecipada, o partido chegou a reformular os convites para a cerimônia e passou a chamá-la de ato de filiação.
A chegada no evento, no entanto, reforçava o clima eleitoral: do lado de fora, para entrar no centro de convenções, os apoiadores passavam por diversos vendedores que ofereciam camisas, faixas, bonés e até livros sobre o presidente, muitos deles fazendo alusão à campanha de reeleição deste ano.
Apesar de ter sido rebatizado como "Filia Brasil", houve pouco destaque para a entrada de pessoas no partido. Foi anunciada a filiação de dois ministros e um senador, além de uma breve sinalização sobre a possibilidade de o público também fazer parte da legenda.
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Além disso, a condução do evento teve o tom de comício, com uma narração em clima de rodeio:
— Já começa a adentrar esse palco aquele que representa a dignidade do povo brasileiro. Aí vem ele. A emoção fala mais alto. O povo bate no peito e está dizendo: esse é meu presidente! O presidente do Brasil. Jair, Jair, Jair Bolsonaro! — disse um dos locutores, enquanto Bolsonaro subia no palanque.
O presidente escolheu acessar o palco atravessando parte do salão, no meio dos apoiadores. Uma das estratégias de sua campanha, reforçada no evento deste domingo, é apresentar imagens de Bolsonaro junto com apoiadores, no que é apresentado pelo presidente e seu entorno como um contraponto às pesquisas eleitorais que o mostram em desvantagem em relação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ao fim da fala do presidente, a plateia respondeu com gritos de "mito". Depois, o palco foi esvaziado, com exceção de Bolsonaro e da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, para o que foi chamado de "momento especial": a exibição de um vídeo com imagens de sua trajetória, da infância até a presidência.
O espaço do evento, que comporta até 40 mil pessoas, não estava lotado, o que ficou evidente pelos espaços vazios no fundo do salão, e durou cerca de 1h30. Na véspera, Bolsonaro havia dito que "deve ter muita gente lá". Na manhã de domingo, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) havia recomendando que os apoiadores chegassem cedo para evitarem serrem barrados em caso de lotação máxima, o que esteve longe de ocorrer.
A imprensa não pôde circular. Em meio ao esforço de não descumprir a legislação eleitoral, a organização do evento distribuiu a jornalistas um panfleto com orientações sobre o que é permitido e o que é proibido pela lei eleitoral nesse período do ano.
Na lista de "proibições", o PL destaca, entre outros, a vedação da lei ao "uso de outdoors, banners e panfletos para exaltação de pré-candidatos", contrariando a própria decoração do evento.