Como Will Smith foi parar no relatório final da PF sobre tentativa de golpe
PF afirma que Marcos do Val atuou "com o objetivo de dificultar e embaraçar os procedimentos investigatórios relacionados à tentativa de golpe de Estado"
O relatório da Polícia Federal que aponta a existência de uma trama golpista no fim do governo de Jair Bolsonaro inclui um personagem que nada tem a ver com a cena política brasileira. Um dos capítulos da investigação detalha a atuação do senador Marcos do Val (Podemos-ES), que em um dos diálogos obtidos pelos agentes citou um filme do ator Will Smith.
Na conversa, o parlamentar cita técnicas de manipulação mencionadas no filme Golpe Duplo, de 2015, que tem o ator americano como protagonista. Sua intenção, segundo ele afirma nas mensagens, era chamar a atenção da imprensa e ter apoio para a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito no Congresso.
Em fevereiro do ano passado, Do Val afirmou à revista Veja que o ex-deputado Daniel Silveira lhe pediu para gravar uma conversa com o então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, que seria usada para anular o resultado das eleições. O plano teria sido articulado por Silveira na presença do ex-presidente Jair Bolsonaro. Em seguida, em novas entrevistas, ele mudou a versão e passou a negar participação de Bolsonaro na trama.
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Naquele mesmo mês, o senador enviou duas mensagens à deputada Carla Zambelli (PL-SP) na qual afirma que mudança de versão era uma estratégia usada por ele para conseguir a instalação da CPMI do 8 de janeiro, que apurou os atos antidemocráticos. Marcos do Val alegou ter usado uma estratégia de manipulação no contexto de influência subliminar.
"Eu usei uma estratégia chamada 'Reação de Goche'. Depois leia sobre isso. Já foi mostrado no filme 'Golpe Duplo - com Will Smith'. O que ele fez no filme sobre o número 55, eu usei nas entrevistas a palavra principal CPMI", escreveu o senador. A PF explica que no filme, o personagem interpretado pelo ator "usa uma técnica semelhante para 'programar' mentalmente uma pessoa, fazendo-a escolher o número 55".
Para a polícia, o senador "atuou no interesse da organização criminosa com o objetivo de dificultar e embaraçar os procedimentos investigatórios relacionados à tentativa de golpe de Estado". Segundo o inquérito, depois de divulgado o plano para gravar Moraes, integrantes do grupo investigado próximos ao ex-presidente Bolsonaro "atuaram para que o senador alterasse sua versão sobre o plano criminoso e afastasse a participação do ex-presidente na trama".
"Nesse ponto, cabe ainda contextualizar que as ações descritas para gravar o ministro Alexandre de Moraes ocorrem exatamente no período do mês de dezembro em que a organização criminosa estava ajustando os termos finais do decreto golpista e executando ações operacionais para prender/executar o ministro", diz a PF.