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Justiça

Conversa com Trump nos EUA e assessores sem tornozeleira: lista de pedidos de Bolsonaro para Moraes

Aliados do ex-presidente tentam convencer o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, a voltar atrás de algumas decisões

Bolsonaro - passaporte do ex-presidente foi apreendido em fevereiro deste ano durante uma operação da Polícia Federal no inquérito que apura uma tentativa de golpe de EstadoBolsonaro - passaporte do ex-presidente foi apreendido em fevereiro deste ano durante uma operação da Polícia Federal no inquérito que apura uma tentativa de golpe de Estado - Foto: Evaristo Sá/AFP

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) fez uma lista de pedidos para o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Por meio de aliados, o ex-mandatário solicitou a devolução do seu passaporte a tempo de ir aos Estados Unidos conversar e tirar uma foto com Donald Trump antes da eleição americana, em 5 de novembro.

O passaporte do ex-presidente foi apreendido em fevereiro deste ano durante uma operação da Polícia Federal no inquérito que apura uma tentativa de golpe de Estado. Bolsonaro solicitou a devolução do documento, mas não obteve sucesso. Moraes entendeu que uma eventual viagem do ex-mandatário ao exterior representa um “perigo para o desenvolvimento das investigações criminais”.

Aliados de Bolsonaro também tentaram pedir a pessoas próximas de Moraes para tirar a tornozeleira eletrônica dos assessores do ex-presidente. Os auxiliares Max Guilherme e Sérgio Cordeiro, que zelavam pela segurança do ex-presidente, foram presos em maio do ano passado pela Polícia Federal no curso da investigação e inserção de dados falsos no sistema único de saúde (SUS) referentes à vacinação contra a Covid-19.

Eles foram soltos meses depois e seguem com restrições de locomoção impostas pelo ministro do STF. Ambos negam qualquer irregularidade.

Outro segurança de Bolsonaro que está em liberdade condicional é Marcelo Câmara. Após deixar a prisão em maio deste ano, ele passou a usar tornozeleira eletrônica e não pode deixar Brasília.

O militar, que fazia o trabalho de inteligência paralela no Palácio do Planalto, é investigado por ter integrado um grupo que planejou um suposto golpe de Estado após a derrota do ex-presidente nas eleições de 2022. Ele nega ter atentado contra a democracia.

Bolsonaro também tentou reverter a proibição de falar com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto. Os dois colegas de partido estão impedidos de manter contato porque são apontados como suspeitos de terem feito parte de uma trama golpista.

Segundo a investigação da Polícia Federal, a legenda foi instrumentalizada durante as eleições de 2022 para financiar um complô para tentar invalidar a vitória de Lula nas urnas. A apuração aponta que o comandante da sigla seria o principal fiador de questionamentos contra o processo eleitoral. Ele nega as acusações.

Mensageiros
Aliados de Bolsonaro dizem que procuraram o ex-presidente Michel Temer (MDB), responsável pela indicação de Moraes ao STF, em 2017, e Carlos Marun, ex-deputado que foi ministro da Secretaria de Governo no mesmo período em que o magistrado ocupava a pasta da Justiça.

Marun foi indicado por Bolsonaro para compor o conselho da Itaipu, em 2020. O ex-deputado, segundo interlocutores, apresentou os pedidos de Bolsonaro a Temer no meio deste ano. Mas não houve qualquer indicação de que os desejos do ex-presidente chegaram até Moraes. As restrições impostas pelo ministro do STF continuam válidas.

Temer foi o principal articulador de uma carta escrita por Bolsonaro com pedido de desculpas a Moraes. Após uma conversa entre os três, Bolsonaro chegou a publicar uma nota se desculpando com o ministro do STF pelos ataques feitos durante uma manifestação na Avenida Paulista, em 7 de setembro de 2021.

O entorno de Bolsonaro também avalia que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tem um bom trânsito com Moraes — e pode tentar reverter algumas das medidas restritivas.

Além de tentar apaziguar os ânimos entre o bolsonarismo e o ministro, Tarcísio também teria atuado às vésperas do início do processo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que poderia ter cassado o mandato do senador Jorge Seif (PL-SC) por suposto abuso de poder econômico, conforme a colunista Bela Megale noticiou na época.

Procurado, Temer não retornou. O governador de São Paulo disse que não se manifestaria. Marun afirma que os pedidos de Bolsonaro são conhecidos.

— Temos um relacionamento bem estabelecido entre MDB e PL e é possível que este assunto tenha circulado em algum momento, que tenhamos comentado — diz Marun.

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