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Corrupção no MEC: empresário afirma ter recebido pedido de propina escondida em pneu

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Ailson Souto da Trindade disse que o então ministro, Milton Ribeiro, deu aval à negociação; advogado do ex-titular do MEC nega acusação e vê 'interesse eleitoreiro

Milton Ribeiro Milton Ribeiro  - Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O empresário e candidato a deputado estadual pelo PP no Pará, Ailson Souto da Trindade, acusou o ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, de negociar propina para construção de igrejas das denominações dos pastores Arilton Moura e Gilmar Santos, que, segundo denúncias, atuavam como lobistas no Ministério da Educação (MEC).

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Trindade afirmou que a propina no valor de R$ 5 milhões seria entregue aos religiosos no pneu de uma caminhonete que faria o trecho de Belém (PA), onde está localizada sua empresa de construção a Goiânia (GO), sede da igreja dos pastores.

O advogado de Milton Ribeiro, Daniel Bialski, negou a acusação. Segundo ele, a acusação é "leviana, mentirosa e feita com intuito e interesse eleitoreiro".

Ailson Trindade atua no ramo da construção civil e responde por crime de estelionato. De acordo com o jornal, o empresário foi acusado de aplicar golpes em beneficiários do Bolsa Família, o que ele nega.

Em março, o jornal havia revelado a existência de um esquema no Ministério da Educação no qual pastores ofereciam facilitar o acesso a recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) em troca de benefícios. Ao GLOBO, o prefeito Kelton Pinheiro relatou pedido de propina entre R$15 mil e R$40 mil e até mesmo solicitação para compra de bíblias feita pelo pastor Arilton Moura. Na ocasião, há seis meses, outros prefeitos também foram à público relatar pedidos semelhantes.

As denúncias levaram à Polícia Federal a investigar o caso e à prisão do ex-ministro Milton Ribeiro e dos dois pastores. Eles acabaram sendo liberados no dia seguinte.

Trindade, que só decidiu falar agora, disse que esteve no MEC em 13 de janeiro de 2021, quando participou de uma reunião de Ribeiro com prefeitos de todo país. Na ocasião teria ocorrido a negociação da propina. Em troca do pagamento, a construtora do empresário seria beneficiada com obras do MEC.

"Funcionou assim: o ministro fez uma reunião com todos os prefeitos. Depois houve o coquetel, num andar mais acima. Lá, a gente conversou, teve essa conversa com o ministro. Eu não sabia nem quem era o ministro. Ele se apresentou: 'Eu sou Milton, o ministro da Educação, e o Gilmar já me passou o que ele propôs para você e eu preciso colocar a tua empresa para ganhar licitações, para facilitar as licitações. Em troca você ajuda a igreja. O pastor Gilmar vai conversar com você em relação a tudo isso’", disse o empresário ao jornal "O Estado de S. Paulo".

De acordo com ele, os pastores pediram pagamento imediato de R$ 5 milhões e depois de 15 dias outros R$ 50 milhões. O empresário afirma que suspeitou do método de pagamento e disse que precisava de um contrato e efetuar o pagamento em conta. E que desistiu porque ficou "com medo desse tipo de negociata".

Em nota, o pastor Gilmar Santos negou as acusações e afirmou que a conversa com o empresário nunca existiu:

"Nego, peremptoriamente, a falácia de que eu poderia ter pedido, recebido, mandado pedir, ou de alguma forma contribuído para o recebimento de propina, ou de qualquer outro ato de corrupção junto ao Ministério da Educação (MEC)", disse.

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