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Eleições 2026

Cotados para 2026, Caiado, Nunes e Padilha buscam voto evangélico em evento da Assembleia de Deus

Convenção da igreja reuniu centenas de pastores e políticos da direita e da esquerda em São Paulo

Deputado federal Cezinha de Madureira (PSD-SP), Jorge Messias (AGU) e Alexandre Padilha (Saúde)Deputado federal Cezinha de Madureira (PSD-SP), Jorge Messias (AGU) e Alexandre Padilha (Saúde) - Foto: Divulgação / Ministério da Saúde

Políticos da esquerda à direita cotados para as eleições de 2026, seja para presidência, governo do estado ou Senado, estiveram em um evento com centenas de pastores da Assembleia de Deus — Ministério de Madureira, em São Paulo, na quinta-feira (27), em um indício de que o voto evangélico é considerado crucial nas disputas.

O meio representou um dos pilares da vitória de Jair Bolsonaro (PL), em 2018, e segue pouco afeito ao governo do presidente Lula (PT), apesar da campanha “Fé no Brasil” e do empenho em se aproximar dos fiéis ao longo do mandato.

A Convenção Nacional das Assembleias de Deus no Brasil (Conamad) ocorreu durante três dias na capital paulista, no templo central da agremiação religiosa, localizada no bairro do Brás. Discursaram no evento os ministros da Saúde, Alexandre Padilha (PT), e da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB).

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) era esperado nesta sexta, mas não compareceu ao evento, apenas o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça. No dia anterior, ele esteve em Piracicaba, no interior do estado, para a inauguração de uma fábrica de celulose.

Hoje, apesar de constar na agenda a visita aos assembleianos do Brás, cancelou o compromisso de última hora. Segundo membros da igreja, o governador prometeu encontrá-los no próximo mês.

O líder da Assembleia de Deus no Brás, Samuel Ferreira, sinalizou no evento ter preferência pelas candidaturas de Tarcísio e Nunes, respectivamente, à presidência e ao governo.

A respeito do prefeito, o bispo avaliou que ele tem experiência suficiente para conquistar o Palácio dos Bandeirantes e agradeceu a Nunes porque “não fechou uma igreja”, nem colocou fiscais em frente à porta dos templos. Em seu discurso, Ferreira atribui a postura à “vontade política” e ao “entendimento de que a igreja é parceira do estado”.

— É um prefeito discreto, profundamente comprometido com o povo cristão — disse o líder evangélico. — Neste momento político-eleitoral, eu falei: “Ricardo, você não escapa”. Quem é prefeito de São Paulo inevitavelmente é um nome extremamente cotado para ser governador do estado. Então, se o nosso governador for candidato a presidente, e Deus queira que seja, porque daí a gente não continua neste mandato que está aí, [...] você pode chegar, porque experiência você tem.

Tarcísio e Nunes fizeram uma peregrinação em igrejas evangélicas nas eleições municipais do ano passado, em um momento em que o prefeito reeleito tinha o apoio das lideranças evangélicas, mas penava para fidelizar o eleitorado diante da candidatura de Pablo Marçal (PRTB).

O empresário e influenciador chegou a convocar uma live com pastores para rebater a influência, em uma tentativa de dialogar diretamente com as bases.

O pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, do Rio de Janeiro, foi quem assumiu a tarefa de descredibilizar Marçal junto ao público evangélico.

Organizador de manifestações bolsonaristas como o ato recente em favor do PL da Anistia, em Copacabana, o líder evangélico passou a disparar vídeos quase diariamente a pastores e fiéis nas redes sociais, atribuindo a pecha de “falso profeta” ao candidato do PRTB.

Ainda na quinta-feira, o bispo Samuel Ferreira disse que Malafaia atuou como um “coronel eleitoral” de Nunes para conter o “doido”, como se referiu a Marçal.

PT busca espaço
A presença de Jorge Messias, que frequenta a Igreja Batista, não é uma novidade, uma vez que costuma ser escalado pelo governo do presidente Lula para representá-lo em eventos evangélicos. No ano passado, ele esteve na Marcha para Jesus, organizada pela igreja neopentecostal Renascer em Cristo.

Ele também organizou um culto evangélico para celebrar a recuperação do petista após o acidente doméstico no Palácio do Alvorada.

No caso do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, a justificativa para a sua presença no evento era a de levar o “Zé Gotinha”, personagem símbolo da campanha de vacinação no país. Nos últimos dias, o ministro tem prometido comparecer a cultos de diferentes religiões para defender a imunização e, segundo ele, enfrentar o negacionismo.

O mesmo foi feito ontem na final do Paulistão, entre Corinthians e Palmeiras, em Itaquera, na Zona Leste de São Paulo.

Padilha, contudo, foi alçado ao cargo de maior visibilidade recentemente (antes, ele estava na Secretaria de Relações Institucionais, que integra a chamada “cozinha” do Planalto), o que aumentou as especulações sobre uma possível candidatura ao governo de São Paulo ou a uma das duas vagas em disputa ao Senado.

Ao menos por ora, a chance mais provável é que o PT repita a aliança com o PSB no estado, o que abre espaço para uma articulação em torno de nomes considerados viáveis nas duas siglas, a exemplo do vice-presidente Geraldo Alckmin.

O deputado estadual Oseias de Madureira (PSD), que presidiu outros núcleos da igreja na capital e na região metropolitana antes de ser eleito para a Assembleia Legislativa do Estado (Alesp), reafirmou ao Globo que a intenção da igreja do Brás é estar ao lado de Tarcísio nas suas pretensões eleitorais.

Entretanto, sustenta que é papel dela receber autoridades de todos os espectros políticos.

— A Bíblia vai dizer que a autoridade é levantada por Deus, então, a gente entende que é importante recebê-los como igreja, dando a eles a oportunidade de se expressarem — disse. — Evidentemente que a igreja não apoiou o candidato a presidente Lula, mas ela nunca vai fechar a porta para uma autoridade.

O pastor José Wellington Costa Júnior, que é o líder da Assembleia de Deus - Ministério de Belém e presidente da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB), também participou do evento na sexta-feira, em uma demonstração de alinhamento entre as duas denominações evangélicas que congregam diferentes ministérios e milhões de fiéis no país.

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