CPI do 8 de janeiro: base governista escala deputados para formar "cinturão de proteção" a Dino
Governistas escolhe quinteto do estado do ministro para compor comissão que vai apurar possíveis omissões durante os ataques golpistas
Um dos ministros com mais visibilidade do governo, Flávio Dino (Justiça) entrou na alça de mira das duas principais CPIs em curso no Congresso.
Como comandante da pasta responsável por forças de segurança federais, ele deverá ser um alvo prioritário na comissão que vai apurar os Atos Golpistas de 8 de janeiro e, por isso, a base aliada escalou cinco parlamentares do Maranhão, o estado que já foi governado pelo ministro, para integrar a comissão.
No colegiado criado para investigar a atuação do MST, uma trincheira política com alto potencial de desgastes ao Palácio do Planalto, o nome de Dino já consta na lista dos requerimentos de convocação — e deverá ser aprovado, visto que a oposição é maioria.
Ao menos cinco parlamentares inscritos na CPI dos ataques de 8 de janeiro integram o grupo político do ex-governador no Maranhão: as senadoras Ana Paula Lobato (PSB), sua suplente, e Eliziane Gama (PSB), assim como o deputados Duarte Júnior (PSB), trio que é do mesmo partido do ministro.
Além deles, estarão na CPI Rubens Júnior (PT) e Amanda Gentil (PP), ambos eleitos pelo povo maranhense. A escolha de Gentil, que ainda não foi formalizada, é vista como um aceno do Progressistas ao governo, já que o partido poderia escolher um parlamentar mais distante da base. Ela apoiou Dino nas eleições do ano passado ao Senado e chegou a participar de um comício ao lado de Lula.
Outro integrante da CPI mista, deputado Aluísio Mendes (Republicanos-MA) é visto por aliados do Planalto como um quadro que também pode ajudar a blindar Dino, a depender do cenário. Embora ele fosse próximo do ex-presidente José Sarney, ferrenho adversário do ministro da Justiça, ele tem se aproximado do grupo de Dino recentemente.
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Relatoria indefinida
A instalação do colegiado, com a escolha do presidente e do relator, está marcada para quinta-feira. Já há acordo no bloco majoritário da Câmara, controlado pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), para que o deputado Arthur Maia (União-BA), seja escolhido o presidente. A relatoria, no entanto, segue indefinida. Mas quem tem a influência sobre a definição do cargo é o bloco do Senado liderado por MDB e União Brasil. Um dos cotados é Eduardo Braga (MDB-AM).
No cenário geral da CPI mista, o governo também tem a maioria. São 16 aliados do Planalto, nove próximos da oposição e quatro que se classificam como independentes. O número de governistas deve aumentar com as indicações do MDB que ainda restam.
Com exceção de Aluísio Mendes, Dino admite que os parlamentares são próximos a ele. O ministro, no entanto, afirmou que foram escolhas partidárias e não tiveram sua participação:
— De todo modo, creio que eles e outros vão ajudar a proteger a verdade.
O Maranhão tem mais representação na CPI mista do que estados mais populosos, como Rio de Janeiro, Bahia, São Paulo e Minas Gerais. A senadora Eliziane Gama, contudo, avalia como “correto” o número de parlamentares e declarou que os bolsonaristas “tentam culpar a própria vítima pelo crime ocorrido”.
Em outras siglas da base no Senado, como MDB e do PSD, a avaliação é que o governo não tem se esforçado para ter uma estratégia na comissão. Eles também reclamam de ser escalados para atacar os bolsonaristas, enquanto o próprio líder do governo na Casa, Jaques Wagner (PT-BA), tem sido econômico nas críticas a Jair Bolsonaro e citam a ausência de discursos no plenário sobre as recentes derrotas do ex-presidente na Justiça.
No dia 8 de janeiro, apoiadores do ex-presidente organizaram uma série de ataques às sedes dos Três Poderes, em Brasília. O grupo, que já estava organizado em um acampamento na capital desde que o ex-presidente Jair Bolsonaro perdeu a reeleição para Lula, planejara outros ataques violentos, como o que incendiou carros e depredou a sede da PF no dia 12 de dezembro.
Falhas na proteção
Parlamentares da oposição que estão na CPI, como os senadores Eduardo Girão (Novo-CE) e o deputado André Fernandes (PL-CE), têm acusado o governo de omissão durante os ataques. Por gerenciar a área de segurança pública, o ministro da Justiça tem sido citado por eles como um dos principais a falhar na proteção.
O governo tem rebatido e reforçado o fato de que os autores das depredações eram bolsonaristas que queriam um golpe militar contra Lula e que, portanto, o governo é a principal vítima do episódio.
O time maranhense na comissão
Ana Paula Lobato (PSB): Suplente de Flávio Dino, a senadora manteve a única vaga do PSB na Casa. Aliada de primeira hora do ministro, ela já disse não ter dúvidas de que ele seguirá comprometido com a “reorganização institucional” do país.
Eliziane Gama (PSB): A senadora é uma tradicional aliada de Dino. Ela foi eleita em 2018 na mesma chapa em que ele foi reeleito governador e já declarou que bolsonaristas “tentam culpar a própria vítima pelo crime ocorrido”.
Duarte Junior (PSB): No ano passado, o deputado foi líder do governo de Dino na Assembleia do Maranhão. Duarte Junior foi candidato a prefeito de São Luís em 2020 apoiado pelo ex-governador, sendo derrotado no segundo turno.
Rubens Pereira Jr. (PT): Um dos três titulares do PT, é um deputado com trajetória política ligada a Flávio Dino. O petista já foi secretário de Cidades e da Articulação Política quando o agora ministro da Justiça era governador.
Amanda Gentil (PP): Em seu primeiro mandato na Câmara, deve ser a escolhida pelo PP para a vaga, como um aceno ao governo. Apoiadora de Dino, ela participou de comício ao lado de Lula, mas não declarou voto em 2022.