CPI do MST é instalada com ex-ministro de Bolsonaro na relatoria e opositor de Lula na presidência
Para presidente, foi eleito o tenente-coronel Luciano Zucco (Republicanos-RS). A relatoria caberá ao ex-ministro do Meio Ambiente, durante o mandato de Jair Bolsonaro, Ricardo Salles (PL-SP)
A Câmara dos Deputados instalou a CPI do MST nesta quarta-feira (17), com oposicionistas no comando da Comissão. O colegiado pretende investigar supostas irregularidades associadas à atuação do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra e os possíveis financiadores de invasões a terras produtivas pelo Brasil.
Também foram instaladas a CPI da Americanas, com comando do Republicanos e MDB, e a da Máfia das Apostas, que será chefiada pelo PP de Arthur Lira, presidente da Casa.
A primeira comissão trata do rombo milionário detectado na gigante do varejo, enquanto a segunda mira os escândalos recentes envolvendo jogadores do futebol brasileiro. Por outro lado, a CPMI do 8 de janeiro, com foco nos atos golpistas em Brasília, vem perdendo tração no Congresso.
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Para presidente da CPI do MST, foi eleito o tenente-coronel Luciano Zucco (Republicanos-RS). Na 1ª vice-presidência foi designado Kim Kataguiri (União-SP). A 2ª vice será do Delegado Fábio Costa (PP-AL) e na terceira, Evair de Mello (PP-ES). A relatoria caberá ao ex-ministro do Meio Ambiente, durante o mandato de Jair Bolsonaro, Ricardo Salles (PL-SP).
A nomeação de Salles foi alvo de protestos de governistas. Sâmia Bomfim (PSOL-SP) afirmou que Salles deveria ser declarado suspeito, já que é investigado por crimes relacionados ao meio ambiente e mantém estreito contato com empresários que atuam contra o MST.
O pedido de impedimento do ex-ministro de Bolsonaro foi negado por Zucco. Durante todo o tempo em que foi acusado pela governista, Salles se manteve sorrindo. Em seu pronunciamento, o ex-ministro disse que a análise sobre os fatos será "técnica".
— Será um trabalho técnico, objetivo e com imparcialidade. Esperamos contar com a ajuda daqueles que são favoráveis à Reforma Agrária. Daremos o máximo espaço para o diálogo e pretendemos esclarecer a verdade por trás da discussão sobre a invasão de propriedades.
Dor de cabeça para governistas
Desde que foi anunciada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a CPI do MST virou alvo de preocupação do governo e de parlamentares petistas. O temor de desgaste que a comissão pode trazer cresceu com a possibilidade de que o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles (PL-SP) fosse indicado relator e o Coronel Zucco designado presidente.
As invasões promovidas pelo MST durante o abril vermelho, que incluiu uma área da Embrapa em Pernambuco, provocaram descontentamento no Palácio do Planalto. O receio principal é que o relator crie uma narrativa para criminalizar o movimento.
As ocupações promovidas pelo MST neste início de ano têm gerado mobilização negativa contra o governo Lula nas redes sociais.
Em outra frente, os sem-terra tentaram recorrer à Justiça para barrar a CPI com a alegação de falta de objeto específico. O argumento foi de que o requerimento pede a investigação do movimento em si, e não de uma ação específica praticada.
Petistas escalam seu time
Líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu (PR) anunciou os nomes escolhidos pelo partido para duelar com bolsonaristas na CPI do MST: Padre João (MG), Nilto Tatto (SP), Valmir Assunção (BA), Paulão (AL), Gleisi Hoffmann (PR), João Daniel (SE), Dionilso Marcon (RS) e Camila Jara (MS) foram os designados.
Dos nomes citados, Marcon, Assunção e Daniel são nomes ligados diretamente ao MST. Marcon é agricultor assentado da Reforma Agrária. Iniciou sua trajetória política em 1987 como membro da diretoria do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, foi acampado por 4 anos, fez parte da direção do MST e assentado em 1994.
Valmir Assunção, por sua vez, participou das primeiras lutas do MST na Bahia, contribuindo no trabalho de base, organização das famílias e ocupação de latifúndios. Em sua descrição no Twitter, João Daniel se descreve como "militante do MST".
Em entrevista, Zeca Dirceu afirmou que a atuação do grupo buscará dissociar a imagem do Movimento Sem Terra de atos ilícitos e desrespeitos ao direito à propriedade privada.
— Infelizmente a oposição tenta manchar o nome do MST e da sua luta pela reforma agrária e da luta pela terra. Nosso trabalho será transformar esta CPI equivocada em uma CPI da verdade, que acabe com esta perseguição. Nem o MST, nem a nossa bancada discorda do direito à propriedade privada. Mas, a verdade precisa ser mostrada — disse.