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BRASIL

Da Lava-Jato a debate presidencial, relembre sete momentos em que Lula e Moro travaram embates

Presidente e senador têm histórico de atritos envolvendo processos judiciais e participação nas eleições de 2022

Luiz Inácio Lula da Silva (esq.), Sérgio Moro (dir.)Luiz Inácio Lula da Silva (esq.), Sérgio Moro (dir.) - Foto: Reprodução

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o senador Sergio Moro (União-PR) abriram um novo capítulo em sua trajetória de embates públicos em meio à repercussão de uma operação da Polícia Federal (PF), deflagrada na quarta-feira, que desbaratou planos de uma facção criminosa para atacar servidores e autoridades.

Nesta quinta, Lula sugeriu que o destaque dado a Moro na sentença judicial que autorizou a operação se trataria de uma "armação" do ex-juiz da Lava-Jato. Moro, por sua vez, questionou se o presidente "não tem decência".

 

Antes desse confronto público, Lula e Moro acumularam desavenças que remontam à Operação Lava-Jato, mas que também envolveram decisões posteriores do Supremo Tribunal Federal (STF) e as eleições presidenciais de 2022. Relembre a seguir os principais embates:

1. 'Se quiseram matar a jararaca, não bateram na cabeça'
A frase, dita por Lula após ser alvo de condução coercitiva no âmbito da Lava-Jato em março de 2016, marcou o início de uma escalada de hostilidades entre o então ex-presidente e Moro, à época juiz responsável pela operação na primeira instância. Ao criticar o fato de ser levado por agentes da Polícia Federal (PF) em sua residência, sem que tivesse sido antes convidado a prestar depoimento, Lula declarou na ocasião ter se sentido "um prisioneiro".

Em um desabafo, Lula recorreu a uma figura de linguagem para referir-se a si mesmo como alguém perseguido pela operação.

-- Se tentaram matar a jararaca, não bateram na cabeça, bateram no rabo. A jararaca está viva, como sempre esteve - disse Lula.

2. 'Mágoa' por grampos e crítica a 'retaliações'
A divulgação de um telefonema entre Lula e a então presidente Dilma Rousseff, em março de 2016, captado por escutas telefônicas autorizadas por Moro foi outro episódio que levou o então ex-presidente a confrontá-lo publicamente. À época, o ministro do STF Teori Zavascki considerou "descabida" a justificativa apresentada por Moro de que haveria interesse público na divulgação das conversas, captadas fora do prazo autorizado.

A defesa de Lula ingressou com ação por abuso de autoridade contra Moro por conta da publicidade dada aos grampos. Um ano depois, em depoimento à 13ª Vara Federal de Curitiba, Lula voltou a expressar incômodo a Moro por conta de escutas, afirmando naquela ocasião ter "mágoa profunda" do vazamento de conversas mantidas com familiares.

Moro, por sua vez, criticou a conduta da defesa de Lula após uma série de ações judiciais contra atitudes de agentes da PF e do próprio magistrado no âmbito da Lava-Jato. Em um despacho proferido em dezembro de 2016, Moro considerou "lamentável que autoridades públicas, no exercício de seu dever legal, fiquem sujeitas a retaliações por parte de investigados ou acusados que confundem o exercício do dever funcional com ilícitos".

3. Troca de farpas em depoimento
O primeiro encontro frente a frente de Lula e Moro ocorreu em maio de 2017, quando o então juiz da Lava-Jato tomou o depoimento do petista no âmbito do processo do tríplex do Guarujá. A audiência, que durou cerca de cinco horas, foi permeada por momentos de tensão, em que Lula e Moro retrucaram afirmações de um e outro.

Um dos pontos explorados por Moro no depoimento foi uma declaração de Lula, na semana anterior, de que se não fosse preso "logo" pela Lava-Jato, mandaria "prendê-los pelas mentiras que eles contam", referindo-se aos integrantes da força-tarefa. Diante de Lula, Moro questionou o sentido da declaração em mais de um momento, e insistiu em ouvir do petista se achava "apropriado um ex-presidente da República dizer isso".

Na ocasião, Lula afirmou que se tratava de uma "força de expressão", e aproveitou para alfinetar o então juiz: "O dia que o senhor for candidato, o senhor vai ter muita força de expressão". Moro, à época, rechaçava a possibilidade de entrar na política. Em 2021, já após sua passagem como ministro da Justiça no governo Bolsonaro, Moro se filiou ao Podemos e admitiu a hipótese, pela primeira vez, de participar de uma eleição.

Em outro ponto do depoimento, Lula questionou se Moro se sentia "responsável" por prejuízos a empresas investigadas pela Lava-Jato, culpando a operação por cenários de desemprego e de crise econômica. Moro rebateu:

-- O senhor entende que o que prejudicou essas empresas foi a corrupção ou o combate à corrupção? -- questionou o então juiz.

4. Repreendido ao citar Moro como 'amigo' de doleiro
Em outro depoimento à Lava-Jato, em novembro de 2018, à juíza Gabriela Hardt -- a mesma que autorizaria, quase cinco anos depois, a operação da PF contra a facção criminosa que planejava atacar Moro e outras autoridades --, Lula foi repreendido ao tentar associar Moro ao doleiro Alberto Youssef.

Moro, na ocasião, havia acabado de anunciar que faria parte do governo Bolsonaro como ministro da Justiça e, por isso, deixaria a magistratura. Hardt, à época juíza substituta na 13ª Vara Federal de Curitiba, tomou o depoimento de Lula no processo referente ao sítio de Atibaia, e em mais de uma ocasião chamou atenção do então ex-presidente por declarações sobre Moro.

Em determinado momento, Lula se referiu a Youssef, delator da Lava-Jato, como "amigo do Moro desde o caso do Banestado", outra investigação de corrupção da qual o ex-juiz participou. Hardt interpelou Lula afirmando que Moro "não é amigo do Youssef e nunca foi", e disse ainda que era "melhor parar com isso".

5. 'Desserviço ao Brasil' e 'comemoração' de Bolsonaro em soltura
A saída de Lula da prisão, em novembro de 2019, motivou novas críticas do então ex-presidente à conduta de Moro na Lava-Jato. Na ocasião, Lula foi solto devido a uma mudança de entendimento do STF a respeito de prisões após a condenação em segunda instância. Posteriormente, a defesa de Lula conseguiria anular sentenças proferidas por Moro na Lava-Jato.

Em artigo publicado pelo jornal Washington Post pouco após sua soltura, Lula acusou o então presidente Jair Bolsonaro de ter se elegido em "conluio" com Moro, reclamou do fato de a prisão tê-lo impedido de disputar a Presidência em 2018 e afirmou que o ex-juiz da Lava-Jato havia prestado "um grave desserviço" ao país.

Moro acabou se referindo ao episódio da soltura de Lula dois anos depois, após ter anunciado sua entrada no cenário eleitoral. Em entrevista à rádio Jovem Pan, o ex-ministro e à época presidenciável pelo Podemos procurou associar o petista a Bolsonaro, argumentando que o então presidente "comemorou quando o Lula foi solto em 2019 porque entendia que isso o beneficiava" politicamente.

6. Guerra fria em debate presidencial
Na reta final do segundo turno de 2022, Moro decidiu se juntar à comitiva de Bolsonaro durante o debate entre os candidatos organizado pela TV Globo, e usou a ocasião para fustigar Lula. Moro sentou-se na primeira fila, próximo aos presidenciáveis no palco, e chegou a ser flagrado tirando uma foto de Lula enquanto o então candidato do PT dava uma resposta a Bolsonaro.

Após o debate, em entrevista coletiva ao lado de Bolsonaro, Moro subiu o tom contra Lula e afirmou que o então ex-presidente "teve a pachorra de dizer" que não assistia ao próprio programa eleitoral, após inserções veiculadas pelo PT serem acusadas de conter desinformação.

Moro também citou transferências de lideranças de uma facção criminosa de São Paulo para presídios federais no início do governo Bolsonaro, argumentando que era "algo que deveria ter sido feito em 2006, no governo Alckmin (em São Paulo) e no governo Lula (na Presidência)".

7. Palavrão em entrevista
Em entrevista ao portal Brasil 247 nesta semana, enquanto rememorava o período preso na superintendência da PF em Curitiba, Lula disse que reagia com irritação à época quando questionado por procuradores do Ministério Público Federal (MPF) se estava "tudo bem".

-- Só vai estar tudo bem quando eu foder esse Moro - declarou Lula, citando a si mesmo.

O tom da declaração foi reprovado por aliados e ministros do próprio Lula.

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