Dallagnol vê "animosidade" no meio político e lembra denúncia que apresentou contra Lira e o pai
Cassado pelo TSE, deputado atua na Câmara para tentar preservar mandato
Com o mandato de deputado federal cassado por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ex-procurador Deltan Dallagnol (Podemos-PR) acredita haver um “clima de animosidade” contra ele no meio político por sua atuação como coordenador da força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba.
No passado, o presidente da Câmara Arhur Lira (PP-AL) já foi, ao lado do pai, o ex-senador Benedito de Lira, investigado e acusado pelo grupo por improbidade administrativa, em ação que acabou suspensa pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Hoje, Lira parece pouco inclinado a movimentos que possam auxiliar o colega de Casa.
— A nossa atuação foi profissional, dentro da lei, jamais tratou de algo pessoal. Agora, compreendo que pessoas que são investigadas, tornadas rés em processos, possam se sentir pessoalmente atingidas — afirma Deltan.
O ex-procurador queixa-se de que Lira tem recusado seus contatos para falar sobre o processo que culminou na cassação, que ainda precisa passar por um trâmite da Mesa da Câmara. Deltan diz que sente uma “falta de acolhimento” por parte de Lira.
O paranaense, no entanto, pontua que tem conversado com outros colegas, incluindo integrantes da Mesa, para tentar reverter a perda do mandato. O assunto também esteve em uma conversa dele com a presidente do STF, Rosa Weber. Deltan ainda pode recorrer à Corte, embora o ambiente seja hostil.
— Eu procurei o presidente da Câmara, mandei mensagem para ele. Minha assessoria tentou agendar uma reunião, mas ele fechou as portas, não responde. Tentei inclusive falar com a chefe de gabinete dele algumas vezes. Ao mesmo tempo que vejo uma falta de acolhimento do presidente da Câmara, eu vejo um amplo acolhimento dos deputados da Casa — disse Deltan ao Globo.
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Lira determinou que a corregedoria da Câmara analise o caso, mas o procedimento é considerado uma formalidade, e a Mesa deve referendar a perda do mandato. Na última terça-feira, Deltan foi notificado à revelia pelo Diário Oficial, após três tentativas de contatá-lo.
O prazo para que ele apresente a defesa é de cinco dias. Depois disso, o deputado Domingos Neto (PSD-CE), que é o corregedor, vai apresentar um parecer à Mesa Diretora, que vai tomar uma decisão.
Já sobre a reunião com Rosa Weber, Deltan frisa que ela já estava marcada há semanas, antes de ser pautado seu recurso no TSE, e que tinha o objetivo de defender pautas anticorrupção. Ele admite, no entanto, ter tocado no tema de sua cassação:
— Diante da decisão do TSE, de passagem, eu mencionei e expliquei o que tinha acontecido nesse caso. Agora, o objeto da reunião não era esse. Ela só ouviu. Só apresentei perspectivas sobre o objeto original da reunião e rapidamente apresentei perspectivas sobre essa decisão do TSE.
O TSE entendeu que, no fim de 2021, Deltan pediu para sair do cargo de procurador para evitar uma eventual punição administrativa, que poderia torná-lo inelegível. Havia procedimentos abertos contra ele no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).