De amiga a culpada por derrota em 2022: entenda como relação de Zambelli e Bolsonaro desandou
Ex-presidente afirmou nesta segunda-feira que deputada federal "tirou" seu mandato ao perseguir um homem nas vésperas das eleições; ela era a principal porta-voz do bolsonarismo quando foi eleito em 2018
Eleita com 76 mil votos nas eleições de 2018, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) assumiu seu primeiro mandato na Câmara sendo uma das principais porta-vozes do então presidente Jair Bolsonaro (PL).
Com ampla projeção digital, Zambelli logo assumiu o posto de vice-líder e se tornou próxima até mesmo da ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, que compareceu ao seu casamento em 2020.
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O que era uma relação de proximidade foi esfriando aos longos dos anos, até chegar ao rompimento, em 2022. Por ter perseguido um homem nas vésperas das eleições, Zambelli foi responsabilizada por Bolsonaro por sua derrota a Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o que ele tornou público pela primeira vez em entrevista nesta segunda-feira.
— A Carla Zambelli tirou o mandato da gente. Aquela imagem da Zambelli perseguindo o cara... Aquilo fez gente pensar: "Olha, o Bolsonaro defende o armamento".
Mesmo quem não votou no Lula, anulou o voto. A gente perdeu — afirmou o ex-presidente ao podcast Inteligência Ltda.
Muito antes de ter sido colocada no ostracismo pelo bolsonarismo, a deputada deu repetidos apoios ao ex-presidente.
Ainda em 2020, quando o então ministro e seu padrinho de casamento, o hoje senador Sergio Moro, pediu demissão do governo, ela tentou convencê-lo a não romper, afirmando que ele teria um cargo no Supremo Tribunal Federal (STF). Com a insistência, escolheu o lado de Bolsonaro.
Também teria sido Zambelli que sugeriu a Bolsonaro que colocasse Regina Duarte na Cinemateca, após demiti-la da Secretaria de Cultura.
Outra prova de confiança foi o rompimento com Joice Hasselmann, com quem foi às ruas para pedir o impeachment de Dilma Rousseff (PT), mas deixou de ser amiga quando abandonou Bolsonaro.
Poucos meses depois, o ex-presidente, contudo, a retirou da posição de vice-líder na Câmara, para colocar representantes do centrão, que poderiam garantir uma maior governabilidade.
Nas eleições de 2022, todavia, os dois estiveram juntos e ela conquistou mais de 946 mil votos, sendo uma das puxadoras de voto do PL em São Paulo.
Na ocasião, contudo, foi cotada para disputar ao Senado e preterida por Bolsonaro, que preferiu seu ex-ministro, Marcos Pontes.
O rompimento ocorreu, de fato, após o episódio em que perseguiu um homem com uma arma.
Por conta da ação, Zambelli responde no Supremo Tribunal Federal (STF) por porte ilegal de arma de fogo e constrangimento com emprego de arma de fogo.
A Corte já formou maioria para condená-la a cinco anos e três meses de prisão, mas o julgamento foi suspenso após pedido de vista do ministro Nunes Marques.
O magistrado tem até 90 dias para devolver o processo ao plenário virtual.
Ela tentou se reaproximar do ex-presidente depois do pleito, mas não teve grande sucesso.
O ex-presidente fez um pequeno aceno no ano passado, quando gravou um vídeo de apoio a candidatura de seu marido, Coronel Aginaldo, que disputou a prefeitura de Caucaia, no Ceará. Ele ficou em quarto lugar.