De Bolsonaro a Valdemar, a defesa dos citados por hacker na CPI de 8 de Janeiro
Walter Delgatti Netto fez acusações ao ex-presidente e seu entorno em depoimento nesta quinta-feira à comissão que investiga os ataques golpistas de 8 de janeiro
Enquanto Walter Delgatti Netto depõe à CPI do 8 de Janeiro, nesta quinta-feira (17), aliados de Jair Bolsonaro (PL) já externam diferentes linhas de defesa sobre as acusações feitas pelo hacker.
Ele responsabiliza o ex-presidente e seu entorno por um plano golpista que envolveria uma suposta invasão, a ser realizada por ele, do sistema das urnas eletrônicas. As manifestações vêm ocorrendo em meio à oitiva, em entrevistas, nas redes sociais ou até em participações na própria sessão.
Foi o caso, por exemplo, de dois filhos do antigo ocupante do Planalto: o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Flávio confirmou o encontro do pai com o hacker durante seu tempo de fala, mas negou que a reunião tenha incluído tratativas de viés golpista.
— Foi, na verdade, uma sondagem para que ele (Delgatti) pudesse, junto com aquele grupo das Forças Armadas, que estava legalmente junto ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), fazer os testes em urnas, pudesse mostrar para o TSE possíveis vulnerabilidades das urnas. Essa narrativa aqui, que foi criada pela manhã inteira, de que ele foi contratado para fraudar as eleições é uma mentira — argumentou o senador, frisando que a intenção "era apenas uma instrução ao TSE para garantir mais camadas de segurança das urnas".
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Ao tomar a palavra, Eduardo exibiu um vídeo que repetia suspeitas — falsas e já esclarecidas sobre as eleições de 2018 — e citou Carla Zambelli (PL-SP), deputada federal responsável por apresentar Delgatti a Bolsonaro.
— Talvez o único crime que a Carla Zambelli tenha cometido foi de ser ingênua. A população não acredita que política pode ser ingênua, mas se Deus quiser a verdade virá à tona — disse Eduardo.
Zambelli, por sua vez, se manifestou nas redes sociais. "Fico feliz que, para me expor, o assunto proibido da fragilidade das urnas eletrônicas esteja sendo debatido durante todo o dia de hoje na CPMI", escreveu a parlamentar no Twitter.
O advogado Fabio Wajngarten, que comandou a Secretaria de Comunicação (Secom) durante o governo Bolsonaro e defende o ex-presidente em diferentes ações, recorreu à mesma plataforma digital para contrapor a narrativa do hacker. "Um PRESIDENTE que SEMPRE jogou dentro das quatro linhas pediria para fraudar as eleições? Mente e mente e mente", postou Wajngarten. Ele repetiu as acusações contra Delgatti em outras publicações:
"NUNCA, JAMAIS, houve grampo, nem qualquer atividade ilegal, nem não republicana, contra qualquer ente político do Brasil por parte do entorno primário do presidente. Mente e mente e mente", reforçou.
O próprio Bolsonaro também se manifestou em entrevista à Jovem Pan. Ele afirmou que se encontrou com o hacker uma única vez e que, ao contrário do que relatou Delgatti, os dois jamais se falaram por telefone. Segundo o depoente, o ex-presidente teria revelado a existência de um "grampo" (aparelho de gravação) vinculado ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
— Tem fantasia aí. Eu só encontrei com ele uma vez no café da manhã, não falei com ele no telefone em momento algum. Como ele pode ter certeza de um grampo? Nós desconhecemos isso — disse Bolsonaro.
O ex-presidente também comentou a afirmação de Delgatti sobre ter participado de cinco reuniões no Ministério da Defesa.
— Ele está inspirado hoje. Teve a reunião e eu mandei ele para o Ministério da Defesa para conversar com os técnicos. Ele esteve lá (no Alvorada e na Defesa) e morreu o assunto. Ele está voando completamente — assegurou o ex-presidente.
A defesa de Bolsonaro informou que irá apresentar uma queixa-crime contra o Delgatti por crimes contra a honra. Os advogados do ex-mandatário estão reunidos, na tarde desta quinta-feira, e avaliaram que ele sofreu calúnia e difamação durante o depoimento prestado na CPI.
Quem também tratou do depoimento de Delgatti em declaração a um veículo de comunicação foi o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, também citado pelo hacker como supostamente envolvido nas tratativas golpistas.
— Não vou dar bola e nem seguir com qualquer tipo de contestação ou queixa-crime — disse Valdemar ao Metrópoles.
O dirigente do PL seguiu a mesma linha de Bolsonaro e negou qualquer plano para gravar Moraes:
— Foi um único encontro (com Delgatti), apesar do seu conhecimento, sua expertise no que faz, eu não poderia contratá-lo, ele já tinha sido preso. Essa é a única verdade. Naquela época eu estava bem com o Alexandre (de Moraes), para que inventar essas bobagens sobre grampo contra o Alexandre?
Por fim, o marqueteiro Duda Lima, que trabalhou na campanha de Bolsonaro, divulgou uma nota na qual se diz "indignado" com as acusações de Delgatti, que também o citou na oitiva.
"Se eu tiver um sósia, preciso conhecer. Nunca participei de reunião com Carla Zambelli e esse rapaz, nem com Valdemar. Encontrei com esse rapaz na escada do partido, não sabia quem ele era e nem quem estava com ele. Carla Zambelli não estava e nem Valdemar, quando ele me disse quem ele era. Desconversei, 'pulei fora' e segui com minhas atividades. O rapaz disse que eu teria pedido pra ele fazer uma apresentação no desfile de 7 de setembro. Pensa comigo: Ele iria no carro do presidente com a primeira dama? Que ideia ridícula! Poderia ao menos respeitar minha inteligência. Estou indignado!", diz o texto divulgado pelo publicitário.