De Neymar a Anitta, entenda influência das manifestações políticas sobre o voto dos fãs
Indecisos são os mais suscetíveis à tomada de decisão baseada no direcionamento de ídolos
Neymar foi às redes sociais para quebrar o habitual silêncio sobre questões que não giram em torno de futebol e BBB. Não falou, mas no último dia 29, quatro dias antes do primeiro turno das eleições, dançou e gesticulou para manifestar apoio à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL). O vídeo, relegado à vida curta dos stories, foi postado no Instagram, onde o atacante do PSG e seleção é seguido por 180 milhões de pessoas.
Ele foi visto por Thiago Mansur, fã de Neymar que se dedica a produzir conteúdo relacionado a ele nas redes sociais. Thiago compartilha vídeos em que repete no videogame gols e jogadas de efeito executadas pelo camisa 10 na vida real.
A admiração do empresário de 33 anos vai além da qualidade enquanto jogador. Thiago gosta da personalidade de Neymar. Talvez por isso, ainda que discordando do voto do atacante, ele tenha encarado a postagem no Instagram como um gesto de coragem:
"Neymar não precisava se posicionar e optou por fazê-lo, mas não, não afetou de forma alguma meu voto. Votei no Ciro Gomes, por total resistência aos outros dois candidatos principais."
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Meses antes, em julho, outra personalidade de peso do país saiu em campanha no ambiente virtual. A cantora Anitta usou sua conta no Twitter, seguida por 19 milhões de pessoas, para declarar o voto no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ressaltou não ser petista, mas enfatizou o apoio ao candidato que, segundo ela, tem maiores chances de vencer “Voldemort”, referência ao vilão dos livros “Harry Potter”.
A iniciativa mexeu com outro Thiago, o Matos Tapia, de 28 anos, auxiliar administrativo. Fã da cantora, a quem considera “o maior exemplo de determinação e foco atual no Brasil”, ele não sabia exatamente em quem votar. O apoio dela foi o empurrão que faltava:
"Estava ainda indeciso. Não me sentia confortável em votar no Lula, e sou fã da Anitta e a acompanho há anos. Ver uma personalidade que admiro, que tem um pensamento igual ao meu, decidir votar nele, fez eu me sentir confortável em mudar meu voto e votar no Lula."
Os dois Thiagos representam tipos diferentes de eleitor: o que tem convicção do voto, e o que ainda está suscetível a influências externas. Geralmente, elas vêm de familiares, amigos, praticantes da mesma religião. Mas às vezes podem vir também das celebridades. E as relacionadas ao esporte estão entre as mais populares.
Além de Neymar, outro peso-pesado da seleção brasileira fez questão de manifestar apoio a Jair Bolsonaro antes do primeiro turno: o zagueiro e capitão Thiago Silva. A popularidade do presidente entre os atletas é inegável. Uma voz dissonante no futebol é Paulinho, atacante revelado pelo Vasco, atualmente jogador do Bayer Leverkusen (ALE) e campeão olímpico com o Brasil ano passado.
Para Bernardo Pontes, especialista em marketing de influência na Alob Sports, por mais populares que sejam, jogadores e celebridades, de uma forma geral, têm capacidade limitada de afetar a escolha das pessoas.
"Pelo voto ser obrigatório, quando esses brasileiros possuem uma identificação com um grande ídolo, seja do esporte ou da música, acaba impactando essas pessoas com o direcionamento do voto. Mas para aquelas que possuem minimamente uma opinião própria, a chance de ser impactado é muito pequena."
Risco de desgaste
Ronaldo Helal, sociólogo e professor da Uerj, com estudos sobre o papel do futebol na formação cultural brasileira, acredita que é difícil apostar no voto influenciado por jogadores. Seria mais fácil pensar num voto coincidente, uma vez que o fã tende a idolatrar figuras que tenham visão de mundo parecida com a sua:
"Existe ainda o desgaste do ídolo com aquela parcela das pessoas que vota diferente."
Ainda assim, o mundo mudou nas últimas décadas. O alcance dos ídolos extrapolou gramados e palcos. As redes sociais abriram novas camadas de acesso ao fã, que retribui com fidelidade que ninguém é capaz de dizer até onde ela pode ir.
Nos EUA, na votação de 2020 entre Donald Trump e Joe Biden, uma pesquisa da Whitman Insight Strategies e MRC Data apontou que 12% dos eleitores foram influenciados por um atleta ou celebridade. Desses, LeBron James foi o mais decisivo (36%), seguido pela cantora Taylor Swift (13%).
"O que ainda estamos conhecendo a cada dia é a força que as personalidades possuem na influência de consumo de qualquer segmento que seja" afirmou Renê Salviano, especialista em marketing esportivo e sócio da Heatmap.