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Licença

Decisão de Eduardo Bolsonaro de se afastar do mandato e ficar nos EUA gera reação negativa nas redes

Levantamento mostra que episódio repercutiu mal entre 60% do público nas redes sociais

Nos EUA, Eduardo Bolsonaro anuncia licença na Câmara dos Deputados Nos EUA, Eduardo Bolsonaro anuncia licença na Câmara dos Deputados  - Foto: Reprodução X

O anúncio da decisão de Eduardo Bolsonaro (PL) de tirar uma licença do cargo de deputado federal e se mudar para os Estados Unidos repercutiu negativamente entre 60% do público nas redes sociais, indica um levantamento produzido pela consultoria Bites para o Globo.

Em um vídeo publicado em suas redes sociais, na tarde desta terça-feira, o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) justificou a decisão pelo que chamou de "perseguição" a qual ele e seu pai estão sendo submetidos no Brasil.

O parlamentar, no entanto, não foi indiciado nem denunciado pela Procuradoria-Geral da República ( PGR) na investigação sobre a trama golpista.

A notícia da permanência de Eduardo no exterior, no entanto, não foi bem recebida nas redes sociais. Uma análise de 354 mil posts online, 60% foram acompanhados por uma reação negativa, 13,5% positiva e 26,5% neutra.

A tendência de desiquilíbrio, segundo o diretor da Bites, Manoel Fernandes, indica que "uma das forças da polarização, no caso da direita agora, evita o confronto porque não tem muito que falar".

— Na nossa avaliação, isso aconteceu porque os argumentos dele para a decisão não ficaram tão claros para os aliados ao ponto deles saírem em defesa dele. Há o questionamento de que, se a família está sendo perseguida, as pessoas se perguntam porque o pai e os outros dois irmãos, que também são políticos, não foram embora — explica Fernandes.

Entre os que reagiram negativamente, aparecem parlamentares de esquerda, que ironizaram a decisão de Eduardo em posts no X na tarde desta terça-feira.

Em resposta ao anúncio, o vice-líder do governo Lula na Câmara dos Deputados, Rogério Correia (PT-MG) chamou o filho do ex-presidente de covarde e afirmou que a licença, na verdade, seria uma fuga do país para ficar nos Estados Unidos "conspirando contra o Brasil para tentar dar sobrevida ao seu pai semi-presidiário".

No post, o parlamentar também publicou um meme do bolsonarista vestido de Ronald McDonald e disse que ele "teria que fritar muito hambúrguer".

Já o líder do PT na Câmara, o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), ressaltou que a "fuga" de Eduardo Bolsonaro seria uma vitória a respeito da impossibilidade do deputado assumir a Comissão de Relações Exteriores.

O nome do bolsonarista estava sendo ventilado para o cargo, mas agora a presidência do grupo deverá ser assumida pelo deputado Felipe Barros (PL-PR), líder do PL na Câmara.

— O que está acontecendo é muito importante. Ele não vai assumir a presidência da comissão de relações exteriores. Ele não tinha condições de representar o parlamento para se posicionar pelos interesses nacionais — disse Lindbergh em um vídeo publicado nesta tarde, também ao lado de Rogério Correia.

Ambos são os autores da única ação relacionada à trama golpista que menciona o nome de Eduardo no STF no momento, que pede a apreensão do passaporte do bolsonarista. A Corte, no entanto, negou o pedido ontem.

— Nós acertamos em cheio. Ele queria fugir para preparar o golpe. E olha, ele está preparando a fuga do pai. Então, aquelas medidas que pedimos também, para colocar a tornozeleira no Bolsonaro, para não deixar ele se aproximar da embaixada, precisam ser feitas também — completou Correia na gravação.

Outra a comentar sobre a decisão de Eduardo foi a ministra das Relações Institucionais do governo, Gleisi Hoffmann. Ela classificou a movimentação do parlamentar como uma "encenação desesperada da família golpista e seus cúmplices".

"Querem se passar por vítimas e difamam o Brasil, de forma criminosa, mentindo que vivemos numa ditadura", ela escreveu. A ex-presidente do PT também disse que as sedes dos Três Poderes "não foi a Disneylândia" e disse que o "encontro com a Justiça" dos responsáveis está "cada vez mais próximo".

Reação da mídia internacional favorável ao bolsonarismo
Ainda segundo o relatório produzido pela Bites, o episódio, no entanto, difundiu uma visão favorável ao bolsonarismo no exterior. Isso porque foram encontradas no Google 79 matérias em inglês com menções à palavra "asilo".

Como exemplo, Fernandes destacou uma matéria do jornal americano The New York Times, que tem como título "Filho de Jair Bolsonaro diz que buscará asilo nos Estados Unidos".

— A mídia americana, mesmo a mais liberal, está comprando a ideia do asilo político. Isso indica que o movimento dele não foi uma decisão intempestiva, existe uma lógica que está sendo construída. Por lá, as pessoas irão conhecer apenas a sua versão dos fatos sobre o que está acontecendo aqui e, como sabemos, os EUA são difusores para o restante do mundo. Com isso, ele se torna um embaixador de um conjunto de argumentos que o governo Lula precisará se contrapor — explica o diretor da Bites.

Fernandes destaca que, para além de ganhar projeção em veículos considerados "liberais", Eduardo também poderá ter espaço na mídia de direita, como no conhecido canal de notícias Fox News, ligado a valores conservadores e ao trumpismo.

— Se for um plano estruturado, e acredito que seja, poderá gerar um encadeamento de eventos nos EUA. Então, parece que a estratégia começou bem — acrescenta Manoel.

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