Logo Folha de Pernambuco

Procuradoria-Geral da República

Declaração de Lula sobre ignorar lista tríplice para PGR preocupa procuradores e promotores

ANPR diz ter "plena confiança" de que poderá discutir o tema com o presidente. Para o líder da Conamp, declaração pode impactar escolhas nos estados

Procuradoria Geral da RepúblicaProcuradoria Geral da República - Foto: José Cruz/Agência Brasil

Integrantes do Ministério Público Federal e das promotorias estaduais reagiram com preocupação à declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que não seguirá a lista tríplice para a escolha do próximo procurador-geral da República.

Em entrevista concedida na quinta-feira (2) à BandNews, Lula disse que o critério para indicar o substituto de Augusto Aras na PGR será “pessoal”. O mandato do atual chefe do Ministério Público Federal, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, termina em setembro.

— O critério será pessoal, de muita meditação. Vou conversar com muita gente (...) Eu não penso mais em lista tríplice. Já está provado que nem tudo, com lista tríplice, resolve o problema. Então, eu vou ser mais criterioso para escolher o procurador-geral da República — disse Lula.

A Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), entidade que representa os membros do MPF e que realiza a eleição que dá origem à lista tríplice, reagiu horas após a declaração do presidente. Em nota publicada na manhã desta sexta-feira, a associação afirmou que o modelo de escolha via lista “permite transparência na definição do procurador-geral” e informou que irá pedir que Lula reconsidere sua posição sobre o tema.

“Acreditamos que o processo público de debates com a carreira e a sociedade, culminando na definição da lista após amplo escrutínio, é o procedimento mais alinhado à Constituição de 1988. Levaremos ao presidente da República essas preocupações e temos plena confiança de que haverá um diálogo produtivo em torno deste tema”, diz o texto.

O presidente da ANPR, Ubiratan Cazetta, classificou a declaração de Lula como uma “ducha de água fria”.

— Não é uma boa notícia, mas também não é o fim da jornada. Nós faremos a lista, nós continuaremos em contato com o presidente e todo o seu entorno na defesa desse modelo. Não por ser algo corporativista, e sim porque é um modelo que nos parece muito mais transparente e legitimado do que esse processo de sacar um nome do bolso do paletó e apresentá-lo à sociedade — disse Cazetta em entrevista à GloboNews.

A votação dos procuradores é levada em consideração para escolha do PGR desde 2003, quando o próprio Lula deu início a essa tradição, seguida também depois por Dilma Rousseff e Michel Temer. Em 2019, o então presidente Jair Bolsonaro quebrou essa escrita ao escolher Augusto Aras, que não estava entre os três mais votados pela categoria e veio depois a ser reconduzido ao cargo, em 2021.

Declaração também preocupa promotores
Diferentemente do que ocorre no MPF, a escolha dos procuradores-gerais de Justiça nos Estados precisa ser obrigatoriamente feita a partir da lista tríplice indicada pelos promotores.

A Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (Conamp) defende que os governadores acolham sempre o primeiro nome da lista. O presidente da entidade, Manoel Murrieta, diz ver com preocupação o possível impacto que a declaração de Lula pode vir a ter nas escolhas dos chefes das promotorias estaduais:

— A gente lamenta que essa tradição da lista tríplice não será respeitada na PGR. Precisamos avançar no processo de construção de mais independência e autonomia no Ministério Público, federal e estadual. E qualquer sinalização como essa do presidente representa um passo atrás.

Apesar de se declarar contrário à pretensão de Lula, Murrieta minimiza a possibilidade de o presidente exercer algum tipo de interferência no trabalho do procurador-geral da República que vier a ser escolhido:

— A pessoa que será escolhida é um integrante do Ministério Público, que prestou concurso, que tem garantias e prerrogativas do serviço público, e que fez carreira na instituição. Ela pode ser escolhida porque o presidente é mais simpático ao perfil dessa pessoa, mas não acreditamos que possa vir a interferir na sua atuação profissional. O Ministério Público é uma instituição sólida e íntegra.

Malu Gaspar: MPF pede à Justiça que novo juiz da Lava-Jato seja declarado suspeito

A elaboração de listas tríplices não é um processo exclusivo do Ministério Público, mas também ocorre para a escolha de integrantes de tribunais de Justiça e de reitores para universidades federais, por exemplo. Em relação ao segundo caso, Lula disse em janeiro que acataria a escolha das instituições.

— Não pensem que o Lula vai escolher o reitor que ele gosta. Quem tem que gostar do reitor são os professores, os funcionários. A comunidade universitária que tem que saber quem é que pode administrar bem — defendeu o presidente na ocasião.

Veja também

Eduardo Paes e Sérgio Moro protagonizam bate-boca virtual: "Recolha-se a sua insignificância"
DISCUSSÃO

Eduardo Paes e Sérgio Moro protagonizam bate-boca virtual: "Recolha-se a sua insignificância"

Advogado de Mauro Cid diz que Bolsonaro tinha conhecimento do plano de golpe
OPERAÇÃO CONTRAGOLPE

Advogado de Mauro Cid diz que Bolsonaro tinha conhecimento do plano de golpe

Newsletter