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Polêmica

Declarações de Lula sobre Rússia e Ucrânia continuam repercutindo negativamente

A Folha de Pernambuco ouviu dois cientistas políticos, que analisaram as falas do presidente

Lula em Abu DhabiLula em Abu Dhabi - Foto: Reprodução/Ricardo Stuckert

As declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no último domingo (16), em Abu Dhabi, apontando tanto Rússia quanto Ucrânia como responsáveis pela guerra iniciada no ano passado, além de culpar as potências ocidentais pelo prolongamento do conflito, continuam repercutindo negativamente no mundo inteiro.

Ontem, o porta-voz principal para Assuntos Externos da União Europeia, Peter Stano, chegou a afirmar que que a Rússia é a “única responsável” pela escada de violência no Leste Europeu. “A Rússia – e somente a Rússia – é responsável. Ela gerou provocações e agressões ilegítimas contra a Ucrânia. Não há questionamentos sobre quem é o agressor e quem é a vítima”, afirmou.

Para o professor e cientista político Antônio Henrique Lucena, o presidente errou e continua repetidamente errando no caso da guerra, e “a política externa de Lula para esse caso especificamente beira a ingenuidade ou desconhecimento das profundas causas do conflito”.

“A Rússia é a agressora e está querendo conquistar territórios. É uma guerra de conquistas. Essa questão da Otan, por exemplo, é propaganda russa para legitimar uma invasão que não tem qualquer tipo de legitimidade e que passou por cima de todos princípios da carta das Nações Unidas”, explicou – referindo-se à justificativa russa de que a invasão ocorreu para evitar que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (formada por países ocidentais) tomasse a Ucrânia para, de lá, invadir estados vizinhos.

“Se é para ficar neutro, não se pode dar declarações que valorizem um lado ou outro. Não vai haver um clube de países para defender a paz porque ele já existe e é o Conselho de Segurança das Nações Unidas”, explica Lucena.

Ele, no entanto, ressalta que o direito russo a veto no âmbito do Conselho termina causando problemas adicionais e levando a sua paralisia”. O professor acrescenta que a Carta das Nações Unidas é explícita quando diz que os países têm direito de se defender de uma guerra de agressão, caso da Ucrânia.

O também professor e cientista político Elton Gomes acha que, com as declarações, Lula pareceu inicialmente querer se colocar como neutro na condução da política externa brasileira “que por ter um diplomacia de comércio não pode ter aliados incondicionais nem inimigos declarados”. 

Para ele, como a Rússia é o país agressor, não se pode dizer que a culpa da guerra é dos dois países. Foi a Rússia, lembrou ele, que invadiu o território ucraniano para derrubar o governo e depois a promover a conquista militar e a anexação de território como instrumento de política externa pela imposição violenta.

Para Gomes, ao indagar porque o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky não acaba com a guerra e porque os americanos continuam provendo a Ucrânia de meios para resistir, Lula ‘queima’ um elemento muito importante que é a boa imagem do Brasil como país pacifico, amistoso e bom para realização de negócios.

“Há boa vontade da comunidade internacional para com o presidente Lula, principalmente os líderes mais à esquerda que tinham problemas com a retórica inflamada do ex-presidente Jair Bolsonaro e com elementos de ideologização à direita da sua política externa, mas essa boa vontade não é eterna. E no caso ucraniano, a paciência da comunidade internacional é muito pequena”, analisou.

Elton Gomes lembra, ainda, que, quando o presidente faz comentários desse tipo, gera um paradoxo: volta ao poder dizendo que o antecessor era autoritário e, uma vez no exercício do cargo, se alinha ou dar declarações em favor de ditaduras beligerantes, que, dentre outras coisas, querem recorrer ao instrumento proibido pela Carta das Nações Unidas.

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