PRESIDENTE LULA

Declarado persona non grata em Israel, Lula já recusou visita a túmulo de sionista e defendeu Estado

Em 2010, petista também criticou a expansão dos assentamentos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental enquanto discursava no Parlamento israelense

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante visita ao Museu do Holocausto, em março de 2010Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante visita ao Museu do Holocausto, em março de 2010 - Foto: Ricardo Stuckert

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Após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ter comparado as mortes de palestinos em Gaza à matança de judeus na Alemanha nazista, a tensão entre o governo brasileiro e Israel começou a crescer, e nesta segunda-feira o petista foi declarado persona non grata no país. Este não é, porém, o primeiro mal-estar entre Lula e Jerusalém. Em 2010, Israel convidou o líder brasileiro a visitar o túmulo de Theodor Herzl, conhecido como pai do sionismo moderno, e Lula negou.

Na época, o Brasil teria pedido esclarecimentos ao governo israelense sobre a inclusão da cerimônia de homenagem na agenda de Lula. Os planejamentos oficiais do presidente originalmente previam apenas uma visita ao Museu do Holocausto e ao túmulo de Yitzhak Rabin, o primeiro-ministro israelense que iniciou o processo de paz com os palestinos e foi assassinado em 1995 por um extremista de direita de Israel. Autoridades locais chegaram a dizer que não havia intenções ocultas por trás do pedido de visita, mas a comitiva brasileira respondeu que Lula também não tinha intenções “ocultas” ao declinar o convite.

A informação que chegou ao governo brasileiro era a de que a visita ao túmulo de Herzl não era praxe nas viagens oficiais. Naquele período, os dois últimos chefes de Estado que passaram por Israel — o então presidente francês, Nicolas Sarkozy, e o ex-primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi — não visitaram o local.

Lula defende Estado palestino
Ainda durante sua visita a Israel, Lula discursou no Parlamento do país e criticou a expansão dos assentamentos israelenses na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. Ele disse defender “a existência de um Estado de Israel soberano, seguro e pacífico”, que deve “conviver com um Estado palestino igualmente soberano, pacífico, seguro e viável, sobretudo pelo traçado de seu território”. O presidente defendeu a importância do diálogo na solução dos conflitos no Oriente Médio.

— A postura [de diálogo] se faz mais necessária agora, quando assistimos a paralisação das negociações e iniciativas unilaterais que as dificultam, como o anúncio da construção de residências em Jerusalém às vésperas do reinício de uma rodada de negociações — afirmou Lula na ocasião. — O impasse agrava a deterioração das condições de vida nos territórios palestinos ocupados. Mas também alimenta fundamentalismos de todos os lados e coloca no horizonte conflitos mais sangrentos ainda.

Apesar de recusar visitar o túmulo de Herzl, Lula foi ao Museu do Holocausto, oportunidade que ele declarou ser “quase obrigatória” para qualquer chefe de Estado no mundo. Depois, participou do plantio de uma árvore no Bosque de Jerusalém, e teve encontros com representantes das sociedades civis israelense e palestina.

Entenda a fala de Lula
No último domingo, Lula comparou as mortes no enclave palestino ao Holocausto. As declarações do presidente, que também classificou como “genocídio” a guerra em Gaza, foram feitas em entrevista a jornalistas na Etiópia. No sábado, o presidente discursou na sessão de abertura da cúpula da União Africana, e teve reuniões bilaterais com líderes do continente, além do primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Mohammad Shtayyeh. No encontro, ele criticou Israel e o Hamas.

O presidente comparou Gaza com o Holocausto no momento em que criticava países ricos que suspenderam o financiamento à agência da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNRWA, na sigla em inglês), após a denúncia do governo israelense de que funcionários do órgão haviam participado do ataque terrorista do Hamas a Israel em outubro do ano passado.

— Quando eu vejo o mundo rico anunciar que está parando de dar contribuição para a questão humanitária aos palestinos, fico imaginando qual é o tamanho da consciência política dessa gente e qual o tamanho do coração solidário dessa gente que não está vendo que na Faixa de Gaza não está acontecendo uma guerra, mas um genocídio — disse Lula. — Não é uma guerra entre soldados. É uma guerra entre um Exército altamente preparado e mulheres e crianças.

Lula também afirmou que, “se houve algum erro nessa instituição, apura-se quem errou, mas não suspenda a ajuda humanitária para um povo que está há décadas tentando construir o seu Estado”. Ele anunciou que o Brasil fará um “novo aporte de recursos” para a UNRWA, mas não detalhou valores “porque não é o presidente quem decide”.

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