Defesa diz que Michelle Bolsonaro está 'tranquila' e 'não participou' de esquema de desvio de joias
Em nota, advogado Daniel Bialski informou que a ex-primeira dama pediu acesso ao inquérito para "conhecer quais as suspeitas existentes e que eventualmente mencionem seu nome"
A defesa de Michelle Bolsonaro afirmou, na tarde desta segunda-feira (14), que ele está “tranquila” e que “não participou” de um esquema que teria desviado para o patrimônio privado do marido Jair Bolsonaro (PL) joias e outros itens de valor expressivo recebidos por ele em viagens oficiais.
Na semana passada, a Polícia Federal pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a quebra dos sigilos bancário e fiscal da ex-primeira-dama na investigação do caso.
Em nota, o advogado Daniel Bialski informou ter pedido acesso ao inquérito “conhecer quais as suspeitas existentes e que eventualmente mencionem seu nome”. “Mas, desde logo, esclarece que a senhora Michelle Bolsonaro está absolutamente tranquila porque não participou e desconhece ter ocorrido irregularidade ou ilicitude”, diz o comunicado.
Leia também
• E-mails relevam que ministros do STF tiveram 'agendas privadas' com Bolsonaro
• Advogado de Bolsonaro entregou Rolex a Mauro Cid em encontro em hípica de São Paulo, aponta PF
• Filhos e aliados distorcem legislação para defender Bolsonaro no caso das joias; entenda
Bialski também atua na defesa da deputada federal Carla Zambelli, investigada por supostamente participar de um esquema que inseriu dados falsos no sistema do Conselho Nacional de Justiça. Há duas semanas, foram cumpridos contra ela mandados de busca e apreensão em seu apartamento funcional e em seu gabinete, no Congresso Nacional.
De acordo com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou a deflagração de uma operação contra aliados de Bolsonaro na última sexta-feira (11) , há uma organização criminoso no entorno do ex-presidente. Na decisão, o magistrado afirmou haver indícios de que a venda dos presentes ocorreu por “determinação” dele.
A empreitada incluiu viagens às pressas de aliados para os Estados Unidos para recomprar itens que, após terem sido entregues ao então presidente por autoridades árabes, foram vendidos a joalherias. Alguns dos objetos chegaram a ser levados no avião presidencial para serem vendidos no exterior, quando Bolsonaro deixou o país em 30 de dezembro de 2022.
Entre os alvos da ação da PF estavam o general Mauro Cesar Lourena Cid, pai do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens; o advogado Frederick Wassef, que atua na defesa do ex-presidente; e Osmar Crivelatti, que ainda integra a equipe de assessores de Bolsonaro.
Segundo a PF, a ofensiva para se apropriar de bens públicos driblou o setor do Palácio do Planalto responsável por catalogar os presentes dados ao presidente da República.
Um relógio Patek Philippe, entregue a Bolsonaro em 2021 pelo regime do Bahrein, não aparece nos registros oficiais, segundo a PF. Na chefia do Executivo à época, ele recebeu de Cid, em 16 de novembro daquele ano, via WhatsApp, o certificado de autenticidade do modelo, avaliado em US$ 51 mil (cerca de R$ 250 mil, na cotação atual).
A investigação colheu no celular do ex-ajudante de ordens documentos que comprovam a venda da peça, em 13 de junho de 2022, para uma loja na Pensilvânia (EUA). Cid recebeu US$ 68 mil na transação — um relógio Rolex, presenteado pela Arábia Saudita em 2019, também entrou na negociação. O tenente-coronel estava nos Estados Unidos na ocasião acompanhando Bolsonaro na Cúpula das Américas.
Segundo a PF, a falta de registro indica “a possibilidade” de o relógio sequer ter passado pelo então Gabinete Adjunto de Documentação Histórica, sendo desviado diretamente para a posse do ex-presidente Jair Bolsonaro”.
A defesa do ex-presidente afirmou que ele “jamais apropriou-se ou desviou quaisquer bens públicos” e disse que a movimentação bancária está “à disposição”. A defesa de Michelle nega irregularidades e diz que os dados bancários dela também estão à disposição. Os advogados de Cid não se manifestaram. Em nota, o Exército afirmou que “não compactua com eventuais desvios de conduta de quaisquer de seus integrantes”.